Uma iniciativa desenvolvida pela professora de Língua Portuguesa, Gilda das Graças e Silva, em uma escola pública de Samambaia, no Distrito Federal, ganhou destaque em uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado no último domingo (3). O projeto, focado em análise crítica de memes e combate à disseminação de fake news, integrou a avaliação do Enem e abordou a capacidade dos alunos em compreender o impacto das mensagens que circulam nas redes sociais.
A proposta surgiu a partir da percepção de Gilda sobre o uso descompromissado de memes entre os estudantes, que os consumiam apenas como diversão. “Muitos alunos e até pais estavam divulgando conteúdos sem entender o que havia por trás das palavras e imagens”, afirmou a professora. Seu trabalho incluiu o uso de memes do WhatsApp como recurso didático para despertar a consciência crítica entre os jovens.
No texto, que serviu de base para a questão do Enem, a professora explica que sua iniciativa reforça a importância de um letramento digital que ajude os alunos a discernir entre informações confiáveis e manipuladas. O projeto fez parte da dissertação de mestrado de Gilda pela Universidade Federal de Uberlândia (MG), em 2018, onde ela defende que a leitura crítica vai além da linguagem escrita, abrangendo os conteúdos digitais.
“Fiquei realmente emocionada, feliz e honrada ao perceber que uma questão do Enem se referia ao trabalho que desenvolvi, e ao ser parabenizada pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Todo profissional deseja ver sua pesquisa surtir efeito e produzir reflexões, e esse foi meu objetivo ao elaborar o projeto Leitura Crítica de Memes que Circulam nas Redes Sociais”, afirmou a professora Gilda, que atualmente leciona no Centro de Ensino Fundamental (CEF) Vila Areal, de Taguatinga.
Ao incluir a experiência de Gilda no Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) chama a atenção para um tema urgente: a necessidade de ensinar os jovens a interpretar criticamente o conteúdo online. Na prova, que cobriu temas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, a questão propunha a reflexão sobre o papel dos memes na educação e no impacto das fake news, ressaltando o valor de uma leitura informada e consciente.
Leitura crítica de memes
Os memes, que surgiram nos anos 1970 como “unidades de transmissão cultural”, popularizaram-se na internet nas últimas duas décadas, tornando-se uma linguagem rápida e de fácil propagação. No entanto, essa popularidade também carrega riscos, como a propagação de fake news e a superficialização dos debates. Os memes podem tanto engajar quanto banalizar discussões, dependendo de como são utilizados.
O problema, segundo Gilda, não está nos memes, mas na capacidade crítica dos usuários de interpretá-los. O fenômeno da rápida propagação de informações no meio digital exige, portanto, que a educação passe a incluir o letramento digital e político em suas bases. Nesse contexto, a iniciativa de Gilda é uma tentativa de preparar as novas gerações para lidarem com a complexidade das mídias sociais.
“A inclusão do projeto de Gilda na prova é um marco para a educação digital na Secretaria de Educação, revelando que a leitura de memes, longe de ser apenas entretenimento, pode ser uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento da consciência crítica”, avalia a subsecretária de Educação Básica da SEEDF, Iêdes Braga.
Em uma era marcada pela disseminação de fake news, o projeto da professora Gilda representa um passo importante para promover uma educação que vá além dos textos impressos. A iniciativa destaca a relevância de “aprender a ler” no mundo digital e mostra que o letramento nas redes sociais é uma necessidade fundamental para o exercício da cidadania.
*Com informações da Agência Brasília