Por Victoria Kortbawi
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Nesta terça-feira (17), o Distrito Federal amanheceu novamente coberto pela densa fumaça proveniente dos incêndios que afetam o DF e a região do Entorno. No início da manhã, a concentração de partículas de poeira (PM2,5) atingiu níveis alarmantes, 11 vezes acima dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esse nível é considerado insalubre, especialmente para grupos de risco, como crianças, idosos e pessoas com condições respiratórias preexistentes. Embora por volta das 11h o índice de qualidade do ar tenha caído para a faixa moderada e se mantido estável até o final da tarde, as partículas ainda estavam 2,8 vezes acima do valor anual recomendado pela OMS, indicando que a qualidade do ar continuava comprometida.
A medição da qualidade do ar é realizada pela plataforma suíça IQAir (Índice de Qualidade do Ar), que fornece dados precisos sobre a concentração de partículas de poeira e outros poluentes atmosféricos. Essa ferramenta é fundamental para acompanhar e avaliar o impacto das queimadas na saúde pública.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Heráclio Alves, ressaltou que a situação continua crítica e sem perspectivas de melhora no curto prazo. “Enquanto as queimadas persistirem em Brasília e na região do Entorno, a fumaça vai continuar a afetar a área”, alertou Alves. O especialista também destacou que, apesar da previsão de ventos que poderiam dispersar a fumaça, esses mesmos ventos podem agravar a situação. “Embora os ventos possam ajudar a dispersar a fumaça, eles também têm o potencial de propagar o fogo, tornando a situação ainda mais complexa. Estamos monitorando atentamente as condições para os próximos dias, mas a situação continua incerta,” explicou.
A previsão do Inmet sugere que as condições meteorológicas não trarão alívio significativo nos próximos dias. “Até quinta-feira (19/09), a expectativa é de um leve aumento na umidade e formação de nuvens, o que pode oferecer algum alívio às queimadas e ajudar na dispersão da fumaça. No entanto, a probabilidade de chuva continua baixa,” afirmou o representante do Inmet. As temperaturas devem oscilar entre 32°C e 34°C, enquanto a umidade relativa do ar ficará entre 15% e 20%, condições que ainda favorecem a propagação dos incêndios.
A pneumologista Dra. Ingrid Danielle Cardoso Carvalho, do Hospital Albert Sabin de São Paulo, destacou os graves riscos à saúde associados à fumaça das queimadas. “A fumaça é composta por uma série de substâncias prejudiciais, incluindo micropartículas que podem penetrar profundamente nas vias aéreas. Para quem já sofre de doenças respiratórias, como enfisema e asma, a exposição pode agravar significativamente essas condições e levar a uma piora no quadro clínico,” alertou a médica.
Além dos problemas respiratórios, Dra. Ingrid observou que a exposição prolongada à fumaça pode afetar outras áreas da saúde. “Não apenas as condições respiratórias são impactadas, mas problemas cardiovasculares e dermatológicos também podem se agravar. A fumaça pode causar inflamação e piorar doenças já existentes,” acrescentou.
Para mitigar os efeitos da fumaça, a médica recomendou medidas práticas. Sintomas leves, como tosse seca e coceira no nariz, podem ser aliviados com lavagem nasal e uso de corticoides nasais. “No entanto, se alguém começar a sentir falta de ar ou inchaço na garganta, que pode ser um sinal de asfixia, é crucial buscar atendimento médico imediatamente”, orientou a especialista. Além disso, para aqueles que precisam sair de casa, o uso de máscaras com filtro de partículas é essencial para reduzir a exposição. A médica também aconselhou a evitar atividades físicas intensas ao ar livre, especialmente durante os picos de poluição.
O morador da Asa Norte, Allan Ferreira, compartilhou os desafios enfrentados devido à fumaça. “Quando acordei na terça-feira, minha casa estava completamente tomada pela fumaça. Isso alterou minha rotina, deixei de fazer caminhadas, que costumava fazer regularmente, por causa da exposição. Mesmo sem problemas respiratórios, sinto uma ardência no nariz, dores de cabeça e uma constante sensação de sede, apesar de beber muita água,” relatou Allan.
Ele também descreveu as precauções que tem tomado para minimizar os impactos. “Tenho reduzido minhas saídas de casa apenas para o essencial e uso umidificadores para tentar aliviar a secura do ar”, concluiu o estudante.