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Brasília

Professor surdo conclui doutorado com proposta de novos sinais para corpo humano

A trajeto?ria de Messias, que é surdo, e? um retrato de inspirac?a?o para alunos por todo o pai?s

Redação Jornal de Brasília

05/04/2021 19h30

Messias, orientando, e Enilde, orientadora, sempre tiveram muita parceria para a realizac?a?o de todos os trabalhos. (Foto: arquivo pessoal)

Sara Meneses / Agência UniCEUB

Um diciona?rio juvenil do corpo humano para estudantes surdos foi a tese que o professor Messias Ramos Costa entregou neste ano na conclusa?o do curso de doutorado em Lingui?stica pela Universidade de Brasi?lia.

O docente e pesquisador tambe?m e? surdo de nascenc?a. Ele tornou-se uma refere?ncia dentro da comunidade surda, principalmente por desenvolver seu trabalho todo voltado para a criac?a?o de sinais em Libras. Mas a jornada do estudante comec?ou muito antes e passou por va?rias etapas.

Foi em uma aula do mestrado com a professora Enilde Faulstich que Messias apresentou um trabalho sobre o tema. Na sinalizac?a?o, o enta?o mestrando fez um gesto que na?o correspondia ao que era entendido com o conceito de espermatozo?ide.

A descoberta surgiu assim na vida do acade?mico, que tambe?m e? professor na UnB. Messias precisou compreender primeiro como e? pensar em Li?ngua, no sentido da Lingui?stica. A partir deste momento, juntamente com sua professora orientadora, ele comec?ou a estudar a fundo sobre como funciona uma enciclope?dia, os termos e como era desenvolvido o pensamento para a criac?a?o de um sinal-termo.

Um sinal para o corac?a?o

O sinal-termo na Li?ngua de Sinais e? utilizado para conteu?dos especi?ficos, o sinal precisa ter uma alta contextualizac?a?o para na?o interferir na compreensa?o do Surdo sobre o assunto. “Os surdos sa?o conceituais, por isso e? necessa?rio antes, projetar, em sua mente, o conceito adequado para desenvolver os sinais com precisão”, explica Enilde Faulstich.

No mestrado, o estudante elaborou uma base para a criac?a?o de sinais-termo para corac?a?o, variando com sua necessidade e func?a?o. No doutorado, Messias conseguiu na?o apenas aprofundar seu estudo e pesquisa dos sinais-termo, mas tambe?m aplicar e analisar pelo Brasil e em Portugal.

Apresentac?a?o do trabalho de Doutorado do professor Messias. (Foto: arquivo pessoal)

“Como surdo, usua?rio da li?ngua de sinais e como professor, Messias tem uma caracteri?stica peculiar de ser um pensador profundo. Ele cria todos os termos de uma forma conceitual, e? um trabalho exemplar que precisa ser divulgado”, reforc?a a orientadora.

Messias, ao longos dos anos, teve muito destaque e reconhecimento, ale?m de ter desenvolvido um trabalho de refere?ncia global, foi o primeiro professor substituto da disciplina Li?ngua de Sinais Brasileira (LSB), no Curso de Letras do Departamento de Lingui?stica, Portugue?s e Li?nguas Cla?ssicas, onde da? aulas ha? mais de dez anos.

O sonho de Messias agora e? poder divulgar seu trabalho e levar o conhecimento sobre a importa?ncia de sinais-termo por todo o pai?s. Para a orientadora, Enilde, este e? mais um passo conclui?do, de muitos que vira?o, na carreira de seu aluno.

“Eu sou apaixonada por todos os meus alunos surdos. Eu na?o passo a ma?o na cabec?a, mas fac?o questa?o de oferecer todos os caminhos possi?veis para eles conquistarem seus sonhos”, diz Enilde.

A apresentac?a?o completa da tese de doutorado do Messias esta? disponi?vel pelo Youtube, para acessar clique no link.

Ferramentas

Em meio a? pandemia, o professor explica que as dificuldades foram superadas de forma simples, o contato remoto foi uma forma de se comunicar com alunos surdos. O apoio de ferramentas e da tecnologia permitiu, tambe?m, que Messias desenvolvesse os trabalhos acade?micos.

“A pandemia na?o interferiu na conclusa?o do meu trabalho, tivemos que nos adaptar e a comunicac?a?o fluiu bem. O que aconteceu foi que tivemos que adiar um pouco a apresentac?a?o, que aconteceria em dezembro e foi adiada para janeiro. Mas, o trabalho ja? vinha sendo desenvolvido ha? muito tempo e, por isso, ja? ti?nhamos uma base para termina?-lo”, explica o pesquisador.

No Brasil, de acordo com o Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda, existem cerca de 10,7 milho?es de pessoas com deficie?ncia auditiva. Entre elas, 2,3 milho?es com surdez profunda.

Entrevista com o professor Messias e a orientadora Enilde, com participac?a?o das inte?rpretes Brenda Rodrigues e Andreia Brasi?lia.

Para muitos estudantes surdos, o acesso a? educac?a?o e? muito restrito e, por isso, muitos acabam desistindo no meio do caminho. Segundo o Censo Escolar (2017), aponta que ha? 2.138 alunos surdos matriculados no ensino superior no pai?s.

Ale?m disso, apenas sete entre as 59 universidades federais brasileiras oferecem cursos de graduac?a?o em Libras (Li?ngua Brasileira de Sinais), segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ani?sio Teixeira (Inep).

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