O fornecimento de comida está suspenso, mais uma vez, em todos os hospitais regionais do DF. A decisão atinge funcionários e acompanhantes dos pacientes. De acordo com a Sanoli, responsável pela distribuição dos alimentos, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal não quitou os débitos dos meses de novembro e dezembro do ano passado, além de um montante devido desde janeiro de 2014, referente ao reajuste da data-base de seus empregados. A soma destes valores totaliza R$ 21,5 milhões em dívidas.
“Sem contar com as despesas para a preparação das refeições servidas por oito dias em janeiro e 20 dias em fevereiro, que já foram efetuadas e resultaram em um faturamento de R$ 8,5 milhões. Com isso, chega-se a um valor devido próximo dos R$ 30 milhões”, afirma a empresa. Diante disso, a Sanoli estaria com dificuldades para repor os estoques de alimentos e honrar o pagamento da folha de seus mais de dois mil funcionários, bem como os encargos tributários.
Segundo a companhia, o fornecimento dos alimentos para pacientes e acompanhantes especiais – mães de bebês que estão na UTI, acompanhantes diabéticos, pessoas que não podem se ausentar do hospital para procurar alimentação fora ou que têm um cardápio restrito -, no entanto, não foi cancelado.
“A empresa se responsabiliza a fornecer refeições para estes pacientes e acompanhantes até que se esgote o estoque atual”, garante. “A Sanoli quer apenas que os compromissos firmados com a secretaria sejam cumpridos”, completa.
Cardápio
Juliana Cristina, dona de casa, de 24 anos, veio da Bahia para que o filho Enzo, de quatro meses, realizasse exames no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ele fará uma cirurgia no coração no próximo mês. “Viemos de ambulância e dormimos no hospital porque não tenho condições de pagar hospedagem. Só estou comendo porque recebo as refeições que seriam para o Enzo, já que ele só mama. Se não fosse isso, estaria passando fome”, relata.
No entanto, a mulher alega que há pelo menos quatro dias não recebe refeições no almoço e no jantar. “Não é comida de verdade. Nos dão pão, água, café, suco, mas comida mesmo que é bom, nada”, reclama.
Neide de Freitas, dona de casa, 52, está na mesma situação. Ela acompanha a sogra de 90 anos, que está internada no Hospital Regional de Planaltina (HRP). “Sou acompanhante especial e não estou recebendo alimentação. Hoje, não tive tempo de ir ao quiosque. Estou morrendo de fome”, conta ela.
O jeito é pagar por conta própria
Uma auxiliar de enfermagem, que preferiu não se identificar, trabalha no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) há mais de 30 anos. Ela confirma a suspensão no fornecimento de alimentos. “Hoje, já não tivemos café. Desde que voltei de férias, no início do mês, é a primeira vez que isso acontece”, recorda.
A funcionária, que entra no hospital às 7h todos os dias, conta que às 11h já está com fome. “Se quisermos comer, temos que pagar. Contando com almoço, lanche e jantar, durante as 12h que fico aqui, desembolso pelo menos R$ 20 a mais por dia com a suspensão da alimentação. E olha que não ganhamos tão bem assim”, comenta.
Dione Gonçalvez, técnica em laboratório do ambulatório do Hran, disse que situação é preocupante. “Entro às 7h e hoje (ontem), não ofereceram café para funcionários e acompanhantes”, diz.
Welligton Ribeiro, 37, motorista de ambulância no Hospital Regional de Brazlândia (HRB), reclama que “se eu for ficar comendo em restaurante, gasto muito”.
Saúde tomará medidas legais para problema
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que “os servidores não estão sendo prejudicados diretamente, já que recebem auxílio-alimentação. Além disso, como possuem escala de saída para as refeições, o atendimento não sofre impacto”, afirma.
Segundo a pasta, a Sanoli recebeu o pagamento de R$ 7,7 milhões, referentes aos serviços prestados entre os dias 1 e 23 de janeiro – data do término do contrato emergencial entre a empresa e a gestão passada. “O pagamento dos outros sete dias do mês de janeiro será feito ainda hoje (ontem), quando a empresa apresentar a nota dos serviços prestados”, afirma.
Ainda segundo a pasta, um novo contrato emergencial está sendo finalizado. “A pasta vem honrando os pagamentos de 2015. Com relação â dívida herdada na gestão anterior, a quitação dos débitos só será efetuada após uma auditoria que o governo está realizando em todos os contratos com fornecedores e prestadores de serviço”, conclui.
O órgão ressaltou que solicitou à Procuradoria Geral do Distrito Federal a adoção de medidas legais para que os serviços prestados pela empresa sejam restabelecidos.
Em setembro do ano passado, o JBr. mostrou a denúncia da Sanoli sobre a falta de pagamento dos meses de julho e agosto, que chegava a R$ 16 milhões. Em novembro, a dívida era de R$ 27, 5 milhões.
A decisão de suspender o fornecimento de alimentos foi tomada após uma reunião entre a Sanoli e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), na última quinta-feira. De acordo com a SES-DF, 15 hospitais e seis Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) tiveram a distribuição de alimentos suspensa para acompanhantes e funcionários. Apenas o Hospital Regional de Santa Maria (Hrsam) não é abastecido pela Sanoli.