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Brasília

Polícia prende 19 integrantes de facção criminosa com filial no DF

Arquivo Geral

05/09/2018 13h51

PCDF prende 19 pessoas ligadas ao tráfico de drogas no DF. Facção tem atuação no Brasil e em outros países. Foto: Matheus Albanez/Jornal de Brasília.

Rafaella Panceri
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Dezenove integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa com base em São Paulo (SP), foram presos na Região Metropolitana do Distrito Federal, na manhã desta quarta-feira (5). A Polícia Civil do DF cumpriu 57 mandados de prisão e 49 mandados de busca e apreensão em Águas Lindas de Goiás (GO),  Luziânia (GO), Santo Antônio do Descoberto (GO), em Curitiba (PR) e no município de Praia Grande (SP).

A facção atuava dentro e fora de presídios do DF e cobrava mensalidades dos filiados em troca de proteção. Para entrar no crime, os interessados passavam por um batizado, dentro ou fora da cadeia. Uma vez integrantes da “célula” (unidade local), eles recebiam número de matrícula e eram obrigados a cometer todo tipo de crime indicado pelos líderes, como transporte de toneladas de maconha, assaltos e roubos. A facção está presente em todo o Brasil e, segundo a polícia, há células na Espanha e no Paraguai.

Transações milionárias
Um advogado que transportava drogas para o PCC e outro, que transmitia recados entre os presos em regime fechado na Papuda, foram presos no DF. Outra prisão de destaque foi a de uma contadora em Praia Grande (SP). Ela ocupava um posto de chefia na facção e foi encontrada em casa. Revelou à polícia que a última operação de venda de drogas comandada por ela rendeu R$ 1,3 milhão.

Delegado-chefe do Cecor/PCDF, Fernando César Costa diz que a facção tenta se estabelecer no DF há 17 anos, mas que teve a célula local desarticulada. Foto: Matheus Albanez/Jornal de Brasília.

A Polícia apreendeu o notebook utilizado pela mulher nos últimos meses e acredita que elementos de prova como esse vão “viabilizar investigações futuras e a expansão para status ainda mais elevados”, como definiu o delegado Fernando César Costa, chefe da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes contra a Administração Pública e aos Crimes contra a Ordem Tributária (Cecor).

A polícia diz monitorar a atuação do PCC no DF desde 2001 e acredita que os crimes tenham se intensificado com a proximidade da inauguração da Penitenciária Federal, adiada em março. “A facção instala toda uma estrutura de apoio em torno do presídio”, cita o delegado-chefe do Cecor, e ilustra que há inclusive construção ou compra de casas de apoio, onde familiares dos detentos ficam instalados.

Operações com grande número de prisões efetuadas, como a de hoje, enfraquecem o tráfico no DF. “Com a primeira fase da operação, deflagrada em abril, e com a Hydra [deflagrada hoje], a célula do PCC no DF, apelidada de 61, foi desarticulada. Qualquer pessoa que queria ingressar na facção é orientada a procurar cidades em Goiás”, conta o delegado. “O que os integrantes têm conseguido no DF é prisão. As penas têm sido decretadas em quantum altíssimo, com condenações de até 15 anos de prisão”, exemplifica.

Saiba Mais
A Operação Hydra é um desdobramento da Operação Prólogo, deflagrada em abril. Naquele mês, a PCDF cumpriu 13 mandados de busca e apreensão no DF. Nos próximos dias, haverá cumprimento de mandados (inclusive de prisão) nos estados do Maranhão e do Mato Grosso.

Ponto de vista
O pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e consultor em segurança pública, Nelson Gonçalves, analisa as prisões de hoje como detalhes de um assunto muito mais complexo. “A polícia consegue chegar a determinado ponto da cadeia do crime. Dali para cima, a capacidade de proteção é tão forte que é difícil ter acesso às informações. A maioria das prisões feitas em lote são de ‘peixe pequeno’. Os líderes têm advogados pagos a peso de ouro para mantê-los fora das barras da Justiça”, ilustra, e afirma que operações como a Lava Jato dão sinais de que o poder público está mais preparado para alcançar os “peixes grandes”.

Para ele, o fim de facções criminosas como o PCC, presentes em vários lugares do Brasil e de outros países, depende dos governantes e de políticas públicas nas áreas de segurança e áreas correlatas. “Para oferecer outras oportunidades para essas pessoas, dando claramente a ideia de que o crime não vale a pena. Hoje, no Brasil, a impressão que se passa para a população em geral, a começar por autoridades do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, é que compensa”, critica.

“A partir dessa ideia de que é vantajoso, as organizações criminosas acabam encontrando terreno fértil para ganhar muito dinheiro com tráfico drogas, de armas e de influência. O envolvimento das autoridades nesse meio alimenta a continuidade das facções que já existem e o surgimento de outras”, aponta.

Gonçalves descreve a atuação das facções no País. “São empresas com cada vez mais condições de contratar especialistas em gestão para se infiltrar nos setores públicos, até mesmo nos órgãos de segurança. Elas não têm cara. A gente sente a presença delas a partir de evidências, mas está cada vez mais difícil porque elas estão se sofisticando e se tornando menos evidentes, atuando inclusive no mercado financeiro e no imobiliário”, exemplifica.

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