Por Camila Coimbra
Brasilienses voltaram a relatar falhas no Pix na manhã desta segunda-feira (29). O problema — reconhecido pelo Banco Central (BC) — afetou transferências em diferentes instituições financeiras, incluindo Nubank, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, Caixa Econômica Federal, Inter e Pan. A falha foi atribuída a “questões técnicas no mecanismo de consulta às chaves” e, segundo o Banco Central, a intercorrência foi sanada no início da tarde.
Entre os consumidores, a instabilidade trouxe transtornos práticos. Hélio Gonçalves, 25 anos, morador da Asa Sul, contou que enfrentou dificuldades para usar o Pix pelo aplicativo do Nubank enquanto organizava uma vaquinha de aniversário com amigos. “Precisei pedir para o meu pai fazer o Pix para mim e depois devolver o dinheiro para ele”, relatou. Segundo Hélio, o problema ocorreu ao tentar usar a chave cadastrada, que não era reconhecida pelo sistema. “Acho que estava instável, mas não completamente parado”, disse, explicando que só conseguiu concluir a transferência mais tarde, utilizando outra chave Pix por e-mail.
Situação parecida viveu Janaína Santos, 22 anos, moradora de Samambaia Norte. Ela tentou pagar as compras no mercado usando o aplicativo Neon, mas não conseguiu. “Eu só tenho um cartão salvo no celular para pagar por aproximação, então tentei fazer o Pix, mas, obviamente, não foi”, relatou. Sem alternativa, precisou retornar para casa em busca do cartão físico. Antes disso, recorreu à ajuda da prima Raquel, que conseguiu efetuar a transferência pelo aplicativo do Nubank. “Ela fez do Nubank para outro banco, no momento em que estava fora do ar para mim. Pode ser que o sistema tenha voltado justamente nesse intervalo entre eu sair do mercado e chegar em casa”, completou Janaína.
Também Karollina Ribeiro, 28 anos, moradora de Valparaíso (GO), relatou enfrentar dificuldades recorrentes ao tentar realizar transferências via Pix pelo Banco Inter. Segundo ela, o problema é frequente e costuma acontecer principalmente quando a conexão de internet está instável. “É muito comum dar erro no Pix, mas o pagamento por aproximação funciona normalmente”, afirmou. Ela contou que a situação já ocorreu mais de uma vez, tanto com ela quanto com a avó, durante compras em mercado. “Só com o Pix dá problema. No débito por aproximação nunca tive dificuldade”, destacou.
A nova pane ocorre três semanas depois de o BC apertar o cerco regulatório: em 26 de setembro, a autarquia aprovou mudanças no Regulamento do Pix e um novo Manual de Penalidades, com foco em segurança, governança e punições mais objetivas a participantes que descumprirem regras. Em nota oficial, o BC afirma que o manual disciplina parâmetros e rito sancionador; as resoluções foram aprovadas em sessão extraordinária da Diretoria Colegiada.
No campo regulatório, a principal novidade é o Manual de Penalidades do Pix (Resolução BCB nº 507/2025), que detalha critérios e procedimentos para advertências, multas, suspensão e até exclusão do participante em caso de infrações. O objetivo é dar previsibilidade e tornar mais efetiva a responsabilização. Paralelamente, a Resolução BCB nº 506/2025 promoveu ajustes no Regulamento do Pix, reforçando dispositivos de segurança e gestão de risco, além de ampliar instrumentos cautelares para preservar a estabilidade do sistema — como a suspensão temporária de instituições que ameacem o funcionamento do arranjo.
As novas normas chegam em meio a um histórico de falhas que têm preocupado usuários e comerciantes no DF. No dia 13 de fevereiro, o Banco Central divulgou nota à imprensa informando instabilidade momentânea causada por problema no mecanismo de consulta às chaves do Pix, que foi resolvido no mesmo dia. Já em 7 de fevereiro, uma queda no início da tarde afetou diversas instituições. De acordo com a Agência Brasil, o BC explicou que a dificuldade estava ligada à Rede do Sistema Financeiro Nacional, com contingência acionada e o serviço normalizado após algumas horas.
Agora, em 29 de setembro, a instabilidade voltou a ser registrada, com impacto nacional e forte repercussão no Distrito Federal. Segundo o BC, novamente houve falha no mecanismo de consulta às chaves, mas a situação foi controlada até o meio da tarde.
O Pix é hoje o meio de pagamento mais usado no varejo e nos serviços locais. Picos de indisponibilidade travam caixa de pequenos negócios, entregadores e autônomos, além de afetar contas do dia a dia de quem depende de transferência imediata para transporte, saúde e alimentação. Por isso, o Banco Central aposta que as novas regras — mais rigorosas e claras — darão segurança e confiança ao sistema, minimizando falhas que prejudicam a população.