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Brasília

Parlamentares alertam para abandono de acervo da Fundação Cultural Palmares

Durante a diligência, acompanhada por equipe técnica, foi notada a falta das condições necessárias para a preservação das peças históricas

Lucas Neiva

30/06/2021 18h30

Parlamentares da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados realizaram uma vistoria no local onde se estabeleceu a nova sede da Fundação Cultural Palmares, na Asa Norte, para averiguar o estado de conservação do acervo formado por livros e artefatos de história afro-brasileira. Durante a diligência, acompanhada por uma equipe técnica, foi notada a falta das condições necessárias para a preservação das peças históricas.

A reportagem acompanhou parte da diligência, em que a comitiva foi levada inicialmente para a sala onde é feito o armazenamento dos livros históricos. Não havia no local qualquer medidor de temperatura ou de umidade, e o acervo era mantido em caixas de papelão. Não havia também qualquer meio de ventilação no local, salvo um ar-condicionado que não funcionava.

O mesmo se percebeu na sala onde são mantidas as obras de arte e artefatos históricos. “Estamos saindo daqui em um alerta geral acerca do patrimônio da Fundação Cultural Palmares. Vamos fazer um relatório dessa visita. Trouxemos técnicos com o intuito de ajudar a fundação, que estão sendo recebidos neste momento. E vamos exigir que o governo federal, mesmo por via judicial, seja obrigado a devolver à sociedade brasileira esse patrimônio que está sob risco”, declarou a deputada federal Alice Portugal (PCdoB).

A deputada acrescenta que a recuperação das condições de preservação para o patrimônio da fundação é vital para a memória histórica da população negra do Brasil. “Esse patrimônio é de valor histórico incalculável. (…) A guarda desse patrimônio é da Fundação Cultural Palmares. É a história do povo negro, que sequestrado da África, chega ao Brasil na condição de escravos. A construção da história brasileira passa por essa chaga, ainda aberta sob forma de racismo”, explica.

“Nós estamos perdendo a memória. A memória histórica do povo negro, a memória histórica da escravidão vivida nesse país, a memória histórica dos momentos de questionamento, de crítica dos movimentos negros brasileiros, a memória histórica das lutas de ordem política dos negros, das revoluções, de quilombos que se revoltaram com essa situação”, alerta a deputada Benedita da Silva (PT), também presente na inspeção

Outra parlamentar que participou na diligência foi a deputada Fernanda Melchionna (Psol), que destacou o papel ideológico do abandono do acervo. “É evidente que eles queriam despejar 5mil livros por uma visão de ideologização da extrema direita que quer apagar a história da resistência e a história do pensamento crítico, como em todo governo da extrema direita”. Para a deputada, a decisão de transportar o acervo da antiga sede na Asa Sul para o novo local, sem condições de armazenamento, foi o meio encontrado pela fundação para se livrar do material histórico sem atrair a atenção do judiciário.

Após a diligência, a comitiva assinou um ofício com uma nove questionamentos enviados para a Fundação Cultural Palmares, envolvendo desde esclarecimentos sobre os planos de conservação do acervo quanto o motivo da mudança de local. Caso não sejam respondidos os esclarecimentos, os gestores responsáveis pelo acervo podem responder criminalmente por prevaricação.

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