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Papo de quebrada: “mulheres negras são mais humilhadas e, por isso, escrevo para elas”, diz poetisa

Ela traz essas temáticas no encontro chamado de “Papo de Quebrada”, nesta quinta (27 de janeiro), às 19h

Redação Jornal de Brasília

27/01/2022 18h02

Foto: Arquivo pessoal

Monique Del Rosso
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias UniCEUB)

“Barbie” quebrada

cansei de ser fetiche
com minha pele azeviche
enfeitando lençóis
cansei de ser sobremesa
enquanto da janela vejo a beleza da vida
cansei

não quero um amor sem compromisso
um meu bem tão omisso
cansei de passar noites em claro
quando você vai embora
eu fico a sonhar com um mundo lá fora
um mundo que você nunca fez questão
de me apresentar
cansei, cansei”

Esse poema tem autoria de Cristiane Sobral. Como referência, ela utiliza em suas obras assuntos como empoderamento e feminismo negro, assuntos dificilmente abordados no Brasil. Ela traz essas temáticas no encontro chamado de “Papo de Quebrada”, nesta quinta (27 de janeiro), às 19h. A ideia é gerar reflexões e pertencimento por parte do público alvo dela. Será no Teatro Newton Rossi, no Sesc em Ceilândia.

“ As mulheres negras são as mais abandonadas, as mais humilhadas e criticadas pelo padrão de beleza (…) então, claro que eu vou escrever para elas”

Cristiane Sobral identifica-se como órfã, mulher e negra, mas declara que ao invés de ficar se lamentando pelas suas lutas e dores, ela sonha e muito alto, trocando os pensamentos do passado pelos do futuro. Para ela, a mãe preta é sempre a mais julgada pela sociedade, e é justamente por essa visão errada, que ela vê a sua mãe biológica como uma mulher muito forte, uma das pessoas que inspiram-a, pois abriu mão da vida com sua própria filha, para proporcionar um futuro melhor para ela.

A poetisa alega que o lugar em que você cresce tem alto impacto na sua arte, e diz que no lugar onde cresceu, no Rio de Janeiro, não havia qualquer resquício de cultura, como: teatro e cinema, por exemplo. Dessa forma, quando foi pela primeira vez em uma orquestra, por um passeio de escola, ficou abismada e foi dessa forma que sentiu anseio pelo ramo da arte.

Para Cristiane Sobral, a poesia acolhe

“O compromisso que o trabalho deve ter, é o da identificação”, afirma. Ela acredita que esse sentimento muda tudo, e alega receber muitas mensagens de carinho, com mulheres que passam por situações parecidas e se sentem acolhidas e não sozinhas.

Dessa maneira, através da carreira, deseja se amar cada vez mais e ter uma estabilidade financeira como objetivo da sua arte. “Eu almejo me amar mais e ter uma vida com estabilidade financeira”.

Movimento negro

Sobre os rótulos de mulher e negra, ela entende que usa-os muito bem. “Tem momentos em que eles me atrapalham, eu tenho consciência disso. sinto-me preparada para enfrentar esses desafios, pois eu sei a beleza que é ser uma mulher negra”, revela a escritora. Além disso, dialoga que é de suma importância reescrever a história desses rótulos para as pautas feministas e raciais.

Na visão da escritora, isso ocorre, porque, por meio dele, as mulheres negras podem compreender melhor questões subjetivas que o feminismo, fundado e posto em prática por mulheres não negras, jamais pôde considerar. “No Brasil podemos destacar os anos 70 e a formação do MNU, O Movimento Negro Unificado, o feminismo nunca deu conta da abordagem interseccional e racial. Mulheres negras vivem a dupla discriminação, de gênero e de raça”, comenta.

Machismo e racismo

No poema Barbie Quebrada, Cristiane Sobral explica que essa poesia foi feita com o propósito das mulheres reverem as suas relações e perceberem o seu valor. Ela disserta que a personagem pelo motivo de ser negra, é vista, somente, como amante, fato que deve ser mudado. “Serve pra ser amante, mas não serve pra ser esposa. Serve para cumprir o padrão de boa de cama, mas não para apresentar aos amigos (…) Quando a gente vê outra mulher negra que fala que a situação é real, mas há saída (…) isso dá esperança e fortalece as mulheres”, considera.

O evento também contará, nas aberturas, com a apresentação musical do DJ Jean C em parceria com alunos da sua turma de DJ do Jovem de Expressão, e com a mediação do pedagogo Max Maciel. A programação também será transmitido ao vivo pelo canal.

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