Quando, há pouco mais de 40 dias, o Governo do Distrito Federal anunciou que não teria verbas públicas para disponibilizar às festas de Carnaval, as centenas de pessoas que se preparam para as celebrações da Paixão de Cristo temeram pela tradição. Ainda batendo na tecla de redução de recursos, a Secretaria de Cultura (Secult) escolheu apenas uma Via-Sacra para receber recursos: a de Planaltina, no Morro da Capelinha, que prevê reunir até 170 mil pessoas.
A Secult explica que o critério de apoio aos eventos é a disponibilidade de recursos. “Quando houve a negociação em torno das verbas destinadas ao Carnaval, o governo não dispunha de recursos para investir na festa. Agora, com a reestruturação financeira e atuais medidas para reequilíbrio das contas, o governo, mesmo mergulhado em extrema restrição de recursos, avaliou que seria possível, ainda que excepcionalmente, destinar esse montante à Via-Sacra”, explicou a pasta, em nota oficial.
Corte
A celebração de Planaltina é a maior do DF e isso foi levado em conta no momento da escolha, já que, segundo a pasta, “merece atenção especial, ainda que em momento de dificuldades financeiras”. Maíra Vieira, coordenadora-geral da encenação, conta que R$ 500 mil foram recebidos neste ano, 68% a menos que em 2014, quando emendas parlamentares e da administração da cidade investiram R$ 1,6 milhão.
“Para nós, o que mais dificultou foi o impasse com o governo, porque trabalhamos com fornecedores”, admite Maíra. Ela explica que, todos os anos, é feita antes uma pesquisa de preços com, no mínimo, três concorrentes. “Neste ano não foi possível, já que não sabíamos se receberíamos e quanto seria. Como fazer uma cotação de valores quando não se sabe quanto é possível investir?!”, argumenta.
Como consequência, muita coisa teve de ser cortada, “mas não afetará a apresentação”, garante a coordenadora. Foram priorizadas as questões de segurança da população e a parte cênica da encenação. A estrutura teve de ser reduzida: não haverá camarotes para autoridades, iluminação especial e até mesmo o som sofrerá com cortes.
Efeito cascata em outras cidades
Com corte de custos, a mais tradicional celebração acabou afetando outras, como a que ocorre na Vila Planalto. “Os organizadores de Planaltina nos doariam as roupas que os atores utilizaram no ano passado, mas terão de reutilizar”, explica a coordenadora Rayanne Albuquerque, que dedica quatro de seus 17 anos para a organização da Via- Sacra na cidade.
Por isso, eles tiveram que se virar. “Vendemos camisetas, arrecadamos nas ruas com as pessoas. Demos um jeito para dar tudo certo e, graças a Deus, faremos uma festa linda. As roupas estão prontas e os atores, ensaiados”, comemora.
Perseverança
No Recanto das Emas e em Sobradinho II, a crise também afetou as celebrações, mas desistir não era opção. Mesmo com estrutura reduzida, o verdadeiro sentido da data não deixará de tomar as ruas. Fabrício Sousa, coordenador da Via-Sacra da Paróquia São Gabriel Arcanjo, no Recanto, conta que a estimativa era de que a cidade recebesse R$ 30 mil. “Sem esse dinheiro, tivemos apoio da iniciativa privada, que patrocina a celebração”, explica.
Em Sobradinho II, as bandas nacionais que animariam a festa após a encenação darão lugar às locais. “Todo ano trabalhamos com o progresso em relação ao cenário, personagens, espaço. A estrutura foi montada por parceria com a comunidade”, esclarece Diogo Faria, à frente da encenação.