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Brasília

Mortes por covid-19 podem dobrar no Entorno em 98 dias, diz pesquisa

Se o ritmo de contágios continuar alto, a região periférica da capital pode chegar a mais de 100 mil vítimas da pandemia até junho

Redação Jornal de Brasília

22/03/2021 13h04

Cezar Camilo
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Durante reunião realizada em frente ao Hospital Regional de Luziânia (GO), na noite deste domingo (21), os prefeitos de Cidade Ocidental, Luziânia, Novo Gama e Valparaíso de Goiás, anunciaram medidas mais restritivas para tentar conter o avanço da Covid-19 (Coronavírus). Após o sistema de saúde público do Entorno do Distrito Federal entrar em colapso, as cidades goianas começam a adotar o ‘lockdown’ por 7 (sete dias): com fechamento total dos estabelecimentos. A decisão deve começar a valer a partir de hoje (22).

”A situação é muito difícil. O colapso é regional”, disse Fábio Correa – prefeito de Cidade Ocidental. A decisão também será acompanhada por Águas Lindas de Goiás e Santo Antônio do Descoberto.

O novo pico da pandemia na região periférica do Distrito Federal atingiu a taxa de letalidade de 2.16%, na última sexta-feira (19), enquanto a do Brasil foi de 2.42%. O cinturão de contágio que envolve a capital acumulava, até ontem, 51.129 casos confirmados e 1.106 vidas perdidas desde o início da pandemia. Segundo a Plataforma JF Salvando Todos – um projeto desenvolvido pelo curso de estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) –, que acompanha a situação de 20 municípios vizinhos ao Distrito Federal, ao continuar nesse ritmo de crescimento, o tempo estimado para a duplicação do número de casos na região é de aproximadamente 98 dias.

O desenvolvedor da Plataforma JF Salvando Todos, Pedro Henrique de Mesquita Pacheco, estudante de Estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explica que o gráfico produz estimativas diárias e por isso é importante ressaltar o dia da consulta. Pedro explica também que o foco do gráfico é formar uma percepção e uma compreensão sobre a evolução do número de casos confirmados no decorrer de um determinado tempo e, por isso, é importante não olhar para o gráfico como se fosse uma previsão “escrita em pedra”, mas para compreender que, se o tempo estimado de duplicação começa a reduzir, é sinal de que a velocidade com que o número de casos está subindo é mais alta.

Em Valparaíso, o prazo para duplicação de casos é menor: 68 dias. Entre o dia 7 a 20 de março, foram registrados 105 novos casos de covid-19, enquanto na semana seguinte foram computados 212 novas infecções, o que corresponde a um aumento de 101%. A média móvel de casos confirmados até a última sexta-feira (19) é de 31.7. A mesma taxa no dia 12 de março de 2021, sete dias atrás, é de 16 – ambos apresentam aumento no número de pessoas infectadas, com médias acima de 15. A variação percentual entre a média móvel de casos confirmados entre o dia 19 e 12 de março é de 98%, segundo dados da plataforma Salvando Todos.

A “média móvel de 7 dias” faz um levantamento entre os números do dia e dos seis anteriores. Ela é comparada com média de duas semanas atrás para indicar se há tendência de alta, estabilidade ou queda dos casos ou das mortes. O cálculo é um recurso estatístico para conseguir enxergar a tendência dos dados abafando o ruído causado pelos finais de semana, quando a notificação de mortes se reduz por escassez de funcionários em plantão. Se a variação destes 14 dias for de até 15%, é considerado estável. Se for acima de 15% positivos, está em crescimento. Se for mais de 15% negativos, está em queda.

Em Luziânia, o tempo estimado de duplicação de casos confirmados é de 67 dias. a semana epidemiológica com o maior registro de novos casos foi registrado entre os dias 13 a 19 de setembro de 2020, com 541 novos casos. A nova onda de 2021, aumentou os registros em 96% – até o momento, com o maior registro de novos casos entre os dias 7 a 13 de março, com 1.182 novos casos. A média móvel subiu 14% se comparada a semanas atrás, são 11.684 casos confirmados e 186 mortes registradas até a última atualização da Secretaria Municipal de Saúde. Foram 1.017 casos nos últimos sete dias, 286 registros a mais que na semana anterior – além de mais seis vítimas da covid-19 computadas na cidade.

A alta taxa de ocupação dos leitos de UTIs também preocupa os prefeitos. O Hospital de Campanha (Hcamp) de Formosa, por exemplo, registrou 100% de vagas lotadas na última sexta-feira (19). E o Hcamp de Luziânia estava com 93% dos leitos em uso. Em Goiás, foram registrados 401.134 pessoas infectadas com o coronavírus, sendo 8.545 vítimas da doença. Outros 340.241 casos suspeitos são investigados.

Restrições

No início de março, os prefeitos de cidades do Entorno do Distrito Federal começaram a publicar os decretos com as medidas previamente acordadas em decisão conjunta, como forma de cooperação intermunicipal, para enfrentar o aumento dos casos de Covid-19 na região. O toque de recolher durante o período noturno foi adotado em algumas cidades.

Os municípios aderiram principalmente à proibição de venda de bebida alcoólica em todos os estabelecimentos entre 20h e 5h. As cidades que adotaram as medidas foram Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas. A equipe de redação do Jornal de Brasília esteve nas cidades de Luziânia e Valparaíso para checar o cumprimento das medidas restritivas e constatou que a população aderiu ao toque de recolher: de 20h até 23h, nenhum estabelecimento, fora farmácias e hospitais, estavam abertos.

Os serviços considerados essenciais que funcionaram das 20h às 5h são os supermercados, farmácias, clínicas de vacinação, distribuidores e revendedores de gás, postos de combustíveis, hospitais e unidades de saúde e os serviços de urgência e emergência e similares. Em todos os decretos, os velórios em casos de Covid-19 foram proibidos e nos demais com limitação de 10 pessoas para não gerar aglomeração.

A 5ª Promotoria de Justic?a da Comarca de A?guas Lindas de Goia?s emitiu parecer favorável ao fortalecimento de medidas que visam conter o avanço do novo coronavírus na cidade. O sinal de alerta surgiu após o aumento de casos da covid-19 nas 12 cidades que fazem divisa com o Distrito Federal. Em um mapa divulgado pela Secretaria de Saúde do estado goiano (SES-GO), no último fim de semana, os municípios de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso estavam entre as áreas de calamidade.

“Apo?s a ana?lise dos Decretos editados por outras cidades do Entorno, especialmente Cristalina, Santo Antonio do Descoberto, Valpara?iso de Goia?s, Novo Gama, Cidade Ocidental, constatou-se que o Decreto Municipal de A?guas Lindas ainda se encontra mais flexi?vel do que alguns editados nas referidas cidades”, relatou a promotora de Justiça Ta?nia d’Able Rocha em ofício expedido nesta quinta-feira (4). “Considerando que os leitos de UTI no Estado ainda esta?o ocupados com taxa aproximada de 96,23%, verifica-se que se faz necessa?rio enrigecer as medidas ja? editadas.”

Segundo o prefeito da cidade, Dr. Lucas, as punições já começaram. A Polícia Militar, junto à Vigilância em Saúde, atuam na fiscalização notificando e multando quem infringir as determinações da prefeitura. Dentre elas, estão a suspensão de atividades comerciais de 20h até 5h e lotação máxima de 30% nos estabelecimentos durante o horário permitido para funcionamento.

Novas cepas

A variante do coronavírus encontrada na Inglaterra foi identificada em dois pacientes que moram em cidades de Goiás, na região do entorno do Distrito Federal. De acordo com a secretaria de Saúde de Goiás, os infectados são de uma mesma família e vivem em Valparaíso de Goiás e Luziânia. Os dois tiveram contato com uma pessoa que chegou da Inglaterra.

A pasta informou que os pacientes realizaram o exame para o coronavírus em 31 de dezembro do ano passado e que em janeiro as amostras foram encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, que confirmou o contágio pela variante inglesa do coronavírus. Após investigação dos casos, foi detectada a correlação com um surto familiar durante uma viagem envolvendo mais de 20 pessoas, notificado pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta de Vigilância em Saúde.

Desde então, esses pacientes e pessoas próximas estão sendo monitorados.Essa nova cepa do coronavírus, chamada de B.1.1.7 , foi encontrada pelo Reino Unido em 14 de dezembro do ano passado e notificada em mais de 62 países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde ela tem uma maior capacidade de transmissão. Na Inglaterra, foi responsável por um aumento de hospitalizações pressionando o sistema de saúde. Mas, estudos preliminares apontam que não há evidência suficiente que ela provoque um número maior de mortes se comparada com outras variantes do coronavírus.

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