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Brasília

Lockdown no DF: abre e fecha das escolas prejudica saúde mental dos alunos

De acordo com estudo realidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, houve um aumento de 90,5% dos casos de depressão

Redação Jornal de Brasília

07/03/2021 7h00

Atualizada 05/03/2021 21h11

Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

Seguindo o decreto publicado na tarde desta sexta-feira (05), as escolas privadas do Distrito Federal estão liberadas para retornarem com as aulas presenciais e com o modelo híbrido de ensino na próxima segunda-feira, 08 de março. A capital do país está em lockdown desde o último domingo (28/2), após o governador ter decidido tomar tais medidas devido a ocupação dos leitos de UTI ultrapassar 90%. Com o momento de incertezas que tem desafiado pais e educadores, alunos têm sofrido com questões emocionais delicadas, como o luto, o medo, a ansiedade e a fobia social.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), previa a longo prazo, um aumento no número dos problemas de saúde mental em todo o mundo. De acordo com um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em março de 2020, houve um aumento de 90,5% nos casos de depressão entre os brasileiros desde o início da quarentena. O levantamento reuniu respostas de 1.460 pessoas de 23 estados do país.

Diante do cenário de incertezas, líderes escolares serão mais uma vez desafiados e terão que adotar novas posturas, principalmente em relação à saúde mental dos alunos e professores. É o caso da rede de Colégios Objetivo DF, que tem uma preocupação e cuidado muito grande com o acolhimento de seus estudantes.

“Temos o Projeto Acolhida que consiste, primordialmente, em integrar, acolher, socializar e criar o clima de pertencimento junto às crianças e comunidade, além disso, em nosso quadro de profissionais, temos orientadores educacionais preparados para lidar com as mudanças e com as questões que envolvem as dúvidas e incertezas diante dessas situações tão diferentes e impactantes que alteram a rotina, tanto em casa quanto na escola”, conta Cláudia Mialichi, Gerente Educacional da rede de Colégios Objetivo DF.

Tal acolhimento é muito importante para gerar segurança nos alunos, uma vez que no cenário de incertezas os quadros relacionados à saúde mental podem ser agravados, desencadeando para problemas maiores como a fobia social, um dos transtornos de ansiedade que pode ser caracterizado como o comportamento de evitar vínculos sociais por medo de ser julgado ou avaliado negativamente.

“Nesses casos é comum que se tenha um aumento no número de pessoas com ansiedade, que pode ser inata ou aprendida. Se um pai ou uma família está muito focada na questão do cuidado e da prevenção, por exemplo, isso vai sendo passado para a criança e ela passa a dar mais atenção ao fato. É necessário que os responsáveis fiquem atentos para saber em que momento tais ações passam a trazer um prejuízo em relação ao comportamento dos filhos, como por exemplo as crianças que não querem interagir com outras”, explica o especialista em saúde psicológica e professor do Ceub Sérgio Henrique.

O ensino à distância apesar de bem aceito, ainda conta com muitos desafios, muitas crianças e adolescentes têm dificuldade com o ensino remoto e precisam de apoio presencial. Desta forma, as aulas presenciais são importantíssimas para os estudantes por diversos motivos: Integração, sentimento de pertencimento, vínculos afetivos e amizades, referências e apoio, além da parte pedagógica do processo real de aprendizagem.

Para um retorno tranquilo, o especialista orienta que os pais devem preparar as crianças para a volta do convívio em sociedade. “Se ela chorar, acolher esse choro, conversar, explicar, que apesar de ser um momento ainda difícil o protocolo de segurança da escola é seguro, a vacina tá chegando, com isso todo mundo vai ficar seguro novamente e vai poder sair e interagir com os outros, além de explicar sobre os cuidados que devem ser seguidos atualmente, como o uso correto da máscara por exemplo”, finaliza Sérgio.

Consequências graves

Segundo Carlos Guilherme Figueiredo, médico psiquiatra e vice-presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, a APBr, evidências atuais demonstram que as crianças são as mais impactadas pelo isolamento e estratégias de distanciamento social adotadas como medidas para combater a Pandemia de Covid-19. Conforme o especialista, os prejuízos nas crianças começam antes mesmo de nascerem, quando as mães grávidas estão psicologicamente vulneráveis a quadros ansiosos e depressivos em consequência da pandemia.

Ele explica que o desenvolvimento emocional, educacional e social pode ser gravemente afetado pelas medidas restritivas impostas desde 2020, causando prejuízos inclusive de longo prazo. “Alterações do sono, da alimentação e condições mais graves de irritabilidade, desatenção e ansiedade têm sido sintomas comuns em todas as faixas etárias de crianças e adolescentes ao longo do último ano”, comenta.

Figueiredo continua: “algumas crianças expressam níveis mais baixos de afeto por conta das medidas restritivas. Além disso, o aumento do uso da internet, jogos eletrônicos e mídias sociais deixam esses jovens mais expostos e vulneráveis a intimidações e abusos”. Para o médico, outro ponto crítico é que crianças economicamente desfavorecidas estão mais propensas à exploração e outros tipos de violências durante esse período de pandemia.

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