No pequeno escritório da Aguimar Ferreira Bombons Finos, no Sudoeste, Alexandre Ferreira, 24 anos, com sua roupa de confeiteiro branca, se apruma na cadeira giratória e assume a postura de chefe. Até três anos atrás, era nos gramados que ele buscava o sustento.
Com passagens pelo futebol do DF e times como Vitória (BA) e Paraná Clube, tinha no lateral- esquerdo Roberto Carlos uma inspiração. A idolatria foi parcialmente substituída pela admiração pelo chef chocolatier Ricardo Arriel, que hoje presta consultoria ao negócio de Alexandre.
Por que trocar uma carreira idealizada por muitos jovens por uma empreitada em negócio de doces, ainda mais em um cenário econômico instável? Trocadilhos à parte, o sonho não era tão doce. “O pessoal de fora não tem noção do que é o esporte em si. Tem empresários, diretoria que influencia na saída e chegada de jogadores… Tudo isso determinou que eu saísse do futebol e me trouxe para os chocolates. As pessoas gostavam do que eu estava fazendo, mesmo sem eu ter experiência em gastronomia”, justifica.
Visão
O título do negócio junta o primeiro nome da mãe, Aguimar, confeiteira de mão cheia há mais de 20 anos, e o sobrenome do pai, Ferreira, que largou um emprego informal para se dedicar ao negócio do filho. A fundação foi em 2011, quando ainda era apenas hobbie de Alexandre, e em 2013 ele se preparava para inaugurar a sede física, no Sudoeste.
“Criamos linhas, que não existiam em Brasília, de chocolates personalizados. Fomos pioneiros e passamos a ser reconhecidos nacionalmente”, conta. Ele se especializou e hoje ostenta um certificado de qualidade internacional, pregado no escritório. Com a ajuda do Sebrae, ganhou experiência para administrar.
Durante a Copa do Mundo, teve a ideia de fazer bombons especiais, com características de alguns países. “Eu e o chef Arriel sentamos por oito meses, pesquisamos e analisamos sabores e texturas. Foi uma linha voltada principalmente para uma rede hoteleira e para multinacionais que atendíamos”, explica.
A ideia deu certo e ele ganhou o reconhecimento internacional que esperava: saiu no jornal britânico The Guardian como personagem da Copa. “No começo, 90% do nosso negócio se movia pela internet, mas hoje mudou. Mais ou menos 80% dos nossos clientes já conhecem nosso trabalho”, exalta.
Detalhes para fazer a diferença
Na cozinha, o ex-jogador demonstra perícia e o conhecimento esperados de um confeiteiro. Ele revela uma linha especial para casamentos, com frases personalizadas para os padrinhos, e se orgulha do processo criativo. “Não usamos papel de arroz, fazemos uma impressão totalmente comestível, em chocolate”, comenta.
Como empresário inserido no atual contexto econômico do DF, toda perícia e esmero com o negócio poderiam ser prejudicados por um aparente momento de recessão. Poderiam. “Lógico que isso tudo nos afeta, mas nosso planejamento vem dando certo”, garante.
Segundo Alexandre, ele busca não repassar eventuais custos maiores para o preço dos produtos, tentando manter-se competitivo. “A gente está vendo que isso faz nosso negócio se desenvolver mesmo com a crise”, conta.
E, diante de tanto otimismo, só o que ele consegue pensar agora é no próximo grande evento: os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Até lá, no entanto, uma série de datas comemorativas são boas oportunidades para negócios, como o aniversário de Brasília, em 21 de abril, que deve render uma linha exclusiva.
“Queremos ampliar a estrutura, além de visar outros objetivos, como abrir uma confeitaria”, conclui.