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Brasília

Idosos são os mais afetados pela dengue

Setores do Distrito Federal se organizam para barrar a epidemia de dengue que se instalou

Guilherme Pontes

15/02/2024 21h08

Entre 1º de janeiro e 13 de fevereiro deste ano, a Ouvidoria do DF registrou 3.409 demandas com relação à dengue, um aumento de 1.247,4% em relação ao mesmo período do ano passado | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Conforme a dengue avança pelo território nacional, o Distrito Federal desponta como a unidade federativa com o maior número de mortes confirmadas . Segundo o último boletim epidemiológico, publicado pela Secretaria da Saúde do Distrito Federal no dia 14, até então a epidemia da arbovirose levou 23 pessoas a óbito, dentre as quais 12 eram idosas. O DF é, atualmente, a unidade federativa que levanta maior preocupação no Brasil.

Segundo dados da secretaria, 52% das mortes são de pessoas idosas. A maioria foi pessoas com 80 anos ou mais, o que representa 5 notificações. Após essa faixa, pessoas entre 60 e 69 anos representaram 4 mortes, e as faixas de 70 a 79 anos, 40 a 49 anos e 20 a 29 anos, registraram 3 óbitos cada. O panorama conta ainda com as mortes juvenis de um bebê menor de 1 ano, e uma criança entre 5 e 9 anos. Além desses, 66 óbitos estão sob investigação.

O terror desses números pode ser percebido se comparado à mesma época do ano passado, em que, segundo um boletim epidemiológico da pasta, o Distrito Federal contava com um total de 0 mortes por dengue. Mesmo em 2022, ano em que se havia notado um aumento na curva de contágio, o Distrito Federal não contabilizava morte alguma pela doença.

Segundo o painel nacional de monitoramento, do Ministério da Saúde, além de se destacar no número de mortes, o Distrito Federal segue com o maior número de casos prováveis proporcionais. São 2362 casos a cada 100 mil habitantes, número que, em si, é 268% maior do que a segunda unidade federativa com maior número de casos proporcionais, Minas Gerais, com 881,9.

O boletim aponta que, até sua publicação, ocorreram 66.361 casos prováveis, que representa aumento de 1.303,09% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. As regiões administrativas que mais sofrem com a situação, em números absolutos são Ceilândia, com 12.983 casos, Taguatinga, com 3.772, Sol Nascente com 3.701, e Brazlândia, com 3.305. No entanto, quando é considerado o aumento nas últimas 4 semanas, Brazlândia se torna o lugar mais grave, seguido de Sol Nascente, Estrutural e Ceilândia.

Segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 1.150 casos de dengue registrados no DF evoluíram com sintomas que indicam o agravamento da doença, como sangramentos e vômitos persistentes. Este número representa um crescimento de 1.616,4 % em relação ao mesmo período de 2023.

Atualmente o sistema público de saúde do DF se encontra absolutamente sobrecarregado, e leva a uma espera de pacientes de, pelo menos, 5 horas, sem nem sequer conseguir alcançar a triagem. Foi isso que nos testemunhou Aparecida Fátima, servente de limpeza idosa que precisou faltar ao trabalho para levar sua filha de 41 ao hospital.

Segundo afirma, a filha passou a noite toda com dores extremas pelo corpo e enjoos fortes, ocasionando vômitos.

Chegaram à UPA do Núcleo Bandeirantes às 10:00 e, ainda às 15:00 não tinham visto um médico.

“Eu tô aqui desde às 10:00 para receber atendimento e ainda não fomos atendidas, não passamos nem pela triagem.

Tá tendo muita gente”, afirma. Sem a possibilidade de apartar a dor da filha, através de medicamento dado por via intravenosa, a mãe decidiu comprar ela mesma os produtos, e dá-los por via oral. “Eu vou comprar um paracetamol e um dipirona para dar para ela, não sei que hora que a gente vai sair daqui, tenho que aliviar a dor.”

Como tantos outros, a filha de Aparecida sente dor de cabeça, no corpo, nas costas, e nas juntas, “não tem um lugar nela que não tá doendo”. Preocupada, a mãe acha que o caso da filha é grave, se indigna pela demora, embora veja a fila de pessoas precisando de ajuda. “Se não der certo aqui, vamos ter que procurar outro lugar, outra UPA”, diz.

A Secretaria de Saúde afirma que o atendimento à população está sendo desempenhado de forma intensa. De acordo com a Agência Saúde-DF, a rede de 176 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as nove tendas montadas junto a Administrações Regionais registraram 114.023 atendimentos de pacientes com suspeitas de dengue entre 1º de janeiro e 13 de fevereiro. O horário de acolhimento das UBSs foi ampliado, e a SES DF planeja instalar mais 11 tendas.

“Os pacientes com sintomas da doença devem procurar atendimento para evitar um potencial agravamento. Temos profissionais capacitados, infraestrutura e os insumos necessários para enfrentar esse aumento no número de casos e contamos com o apoio da população para adotar as medidas necessárias para conseguirmos deter o avanço do mosquito transmissor”, afirma a secretária de saúde, Lucilene Florêncio.

O subsecretário de vigilância à saúde, Fabiano dos Anjos, afirma que as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti estão sendo intensificadas. Para incrementar o combate ao mosquito da dengue, 29 carros fumacê agirão nas áreas de preocupação, que mostraram maior tendência de aumento de casos, com um incremento de mais dez veículos.

“Os dados do boletim epidemiológico ajudam a indicar as áreas onde é importante atuar de maneira intensa, com o apoio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal, além do Exército Brasileiro”, afirma.

Ainda num esforço para combater a atual epidemia, as Unidades Básicas de Saúde oferecem vacinação contra a dengue para crianças de 10 e 11 anos. Serão duas doses administradas num intervalo de 90 dias, e que poderão ser aplicadas desde que o responsável acompanhe a criança, munido de seus documentos de identificação e caderneta de vacinação.

A vacinação contra a dengue não é indicada para indivíduos com imunodeficiência congênita ou adquirida, incluindo aqueles em terapias imunossupressoras, com infecção por HIV sintomática ou com evidência de função imunológica comprometida, e pessoas com hipersensibilidade às substâncias listadas na bula. Caso a criança tenha sido diagnosticada com dengue, é necessário esperar 6 meses para iniciar o esquema vacinal. Os locais de vacinação  podem ser encontrados através do portal da Secretaria da Saúde do Distrito Federal.

Dentre os sintomas mais comuns de dengue, estão febre alta (acima de 38°C), dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. No entanto, a infecção por dengue também pode ser assintomática ou apresentar quadros leves.

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