No meio da tarde, visit this site o cenário no Hospital Regional de Ceilândia, uma das cidades satélites mais populosas do Distrito Federal, reflete alguns dos problemas do Sistema Único de Saúde (SUS): usuários submetidos a longas esperas e, na enfermaria, pacientes amontoados em macas pelos corredores. A chegada da equipe de reportagem é suficiente para que espontaneamente reclamações comecem a surgir.
“Quando chega repórter buscam profissionais para atender todo mundo. Mas quando vai embora o povo fica todo esperando no banco de novo”, criticou a dona de casa Ivanilde Ribeiro, 49 anos, que com fortes dores no estômago diz ter esperado por 7 horas para ser atendida.
Luzia Rodrigues de Souza , 55 anos, está no hospital há 18 dias acompanhando o pai, internado para tratamento de uma pneumonia. Segundo ela, muitas vezes os acompanhantes ajudam a fazer serviços que caberiam a profissionais de saúde, como verificar soro e nebulização. Ela reclama também de mau cheiro e de falta de lençóis.
Em entrevista, Luzia disse não confiar na utilização de recursos da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), cuja prorrogação da cobrança está sendo discutida no Senado: “Pegam dinheiro do imposto do cheque e dizem que é para hospital, mas a gente não vê para onde vai”.
A peregrinação da paciente Arionete Carvalho de Souza, 39 anos, internada para tratar de dores provocadas por pedras nos rins, exemplifica a demora no atendimento público de saúde. Na última segunda-feira, Arionete chegou hospital às 7 horas da manhã e foi atendida às 5 horas da tarde. A recomendação médica foi um exame de ecografia, que teve de ser feito em clínica particular.
Quando voltou hoje, já com os exames em mãos, Arionete teve de esperar mais 6 horas para ser internada. E, para ela, foi rápido. “Conheço gente que demora muito mais para conseguir”, disse, resignada. A paciente defende que os recursos anunciados pelo presidente Lula no PAC da Saúde sejam usados para “colocar mais camas, fazer salas e contratar mais médicos”.
Cantídio Batista, lavrador de 68 anos, está no hospital com o filho que sofre de doença de chagas e tem ferimentos espalhados por todo o corpo. Segundo Batista, o banho do paciente é ele mesmo quem dá, porque “só fazem botar numa banheira velha”. Ele defende que sejam aplicados mais recursos nos hospitais públicos, para que os funcionários tenham condição de atender melhor.
A chefia da equipe médica não quis conceder entrevista para responder às críticas dos pacientes. O diretor do hospital não estava no local. Mas a técnica de enfermagem Misleir Campos, que trabalha há 5 anos na instituição, admitiu que há superlotação e número insuficiente de profissionais para a demanda: “Já ficamos em dois funcionários para atender de 25 a 30 pacientes. E temos que dar banho, trocar fralda, conferir medicamentos”. Para a técnica, a contratação de mais profissionais é uma carência geral em todos os setores do hospital. Segundo ela, há muitas aposentadorias e licenças mas não há substituição desses profissionais.
O secretário de Saúde do Distrito Federal, José Geraldo Maciel, disse que, nos últimos dois anos, houve avanços na prestação de serviços, mas admitiu que problemas persistem por insuficiência de recursos: “Existem mazelas que trabalhamos para superá-las. Falta transporte para pacientes, faltam equipamentos e material cirúrgico”.