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Brasília

Famílias Acolhedoras abre inscrições para quem quer abrigar temporariamente uma criança

O Programa cuida de quem é retirado da família de origem até que a criança possa voltar para casa ou entrar em um programa de adoção

Mayra Dias

01/08/2022 18h09

O acolhimento familiar é previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para que meninos e meninas sejam encaminhados para um lar, onde tenham atenção individualizada, ao invés de irem para as instituições. Diante disso, estão abertas as inscrições para famílias do Distrito Federal interessadas em acolher crianças e adolescentes afastados temporariamente da família biológica por decisão judicial.

O projeto, intitulado Família Acolhedoras (SFA), lançado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), em parceria com o Grupo Aconchego, existe em Brasília desde outubro de 2019, e está regulamentado desde janeiro de 2021. O intuito, com essa iniciativa, é oferecer às crianças e adolescentes afastados do convívio familiar um lar provisório durante o período de fragilidade em seus lares de origem.

Como explica Julia Salvagni, vice-presidente do Aconchego e coordenadora do projeto, ele surge como uma alternativa às modalidades institucionais de acolhimento, e vai ganhando espaço e sendo fomentada à medida que diversos estudos apontam os benefícios do cuidado individualizado e de qualidade, bem como os impactos negativos da institucionalização no desenvolvimento infantil. “Atendemos, nesses quase 4 anos, mais de 90 crianças, e das que já não estão mais em acolhimento pudemos observar os benefícios de terem passado pelo SFA, tanto em seu desenvolvimento cognitivo-motor, especialmente para os bebês, como pelo desenvolvimento de segurança afetiva e autonomia para os mais velhos”, compartilha a responsável. “Além disso, observamos um grande ganho social ao trabalharmos a importância de sermos todos corresponsáveis pelas nossas crianças e adolescentes”, acrescenta.

Atualmente, a parceria entre a Aconchego e o Governo prevê atendimento para 20 crianças e adolescentes. Como esclarece Julia, contudo, pretende-se ampliar o número de voluntários dispostos a participar da ação. Para a realização do Família Acolhedora, o Aconchego capacita profissionais e voluntários que atuam tanto no acompanhamento das crianças quanto das famílias. O trabalho é pautado nos princípios e orientações do ECA, pelas Orientações Técnicas de Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, pela Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais e pelas diretrizes internacionais de reintegração familiar de crianças e adolescentes.

E não para por aí. As famílias voluntárias ainda passam por um estudo psicossocial, feito pelo Grupo. Nesta etapa da seleção, são avaliados as motivações, a disposição, o desejo e as habilidades do núcleo familiar para acolher a criança ou o adolescente. “As expectativas são tanto de habilitar famílias o suficiente para ampliar tanto a meta de vagas, junto à Sedes, como de pensar progressivamente na ampliação da faixa etária atendida”, explica Júlia. “Esse é um serviço muito ousado, pois chama a sociedade para participar, ativamente, da transformação da realidade social ao se implicar na execução direta de uma política pública tão relevante”, pontuou a coordenadora.

Daniela Nascimento é professora e é uma das brasilienses inscritas no programa. No momento, ela está acolhendo 2 irmãs, uma de 6 anos e a outra de 6 meses. “Estou no meu terceiro acolhimento. Todos eles, até então, foram bebês, essa é a primeira vez que pego uma criança mais velha”, comenta. “Fico muito feliz em ser uma Família Acolhedora porque, na minha opinião, é uma espécie de resgate dessas crianças. Elas chegam com a auto estima baixa, rejeitadas, e a gente pode trabalhar isso oferecendo amor, carinho e muito afeto, fazendo com que elas se sintam seguras. Com isso, garantimos que elas voltem para suas casas ou para os programas de adoção fortalecidas”, afirma a inscrita.

Quem também abraçou a causa foi Isabela Leal, de 39 anos. “Conhecemos o projeto em 2020, por meio de uma amiga que, na época, estava acolhendo uma bebê. Isso me despertou vontade e curiosidade em saber como esse programa funcionava. Queríamos contribuir com a vida dessas crianças”, relembra. Foi a partir disso que, como ela conta, participou da capacitação e, de lá pra cá, já foram acolhidas na sua residência três crianças recém nascidas. “É uma alegria muito grande poder doar amor e ser o porto seguro dessas crianças, além de saber que estamos contribuindo com seu desenvolvimento, principalmente nessa primeira infância”, declara, emocionada.

Como acredita Julia Salvagni, o principal diferencial desse programa é a possibilidade de um olhar individualizado para o sujeito assim como de uma resposta mais adequada e amorosa às suas demandas e necessidades. “A família acolhedora pode prover acolhida afetiva, suporte e vínculo de qualidade em um período que é demarcado por uma ruptura, e isso faz toda diferença na possibilidade da criança elaborar o que passou”, defende. “Além disso, uma equipe técnica que não está ocupada com questões institucionais faz um trabalho de articulação de rede mais efetivo”, argumenta.

Para ser uma dessas famílias

Para ser uma Família Acolhedora, basta entrar em contato com o grupo Aconchego pelas redes sociais, ser maior de idade, residir no DF há, pelo menos, 2 anos, não ter condições de saúde (física e mental) que impossibilitem o cuidado, ter disponibilidade afetiva e participar do processo de capacitação ( 2 entrevistas e 6 encontros de formação).

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