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Brasília

Estudantes de medicina de faculdade particular fazem manifestação por vagas em hospitais

O ato foi motivado pois, segundo os estudantes, o curso passa por uma defasagem de cenários práticos para a realização de estágios

Redação Jornal de Brasília

18/03/2022 11h51

Por Evellyn Luchetta e Geovanna Bispo
redacao@grupojbr.com

Os estudantes de medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB) realizaram, na manhã desta sexta-feira (18), uma manifestação em frente à secretaria da universidade. O ato foi motivado pois, segundo os estudantes, o curso passa por uma defasagem de cenários práticos para a realização de estágios, como o internato ou o estágio de alunos dos primeiros semestres.

Tradicionalmente, as vagas nos hospitais e unidades de saúde do Distrito Federal são divididas entre os cursos de medicina existentes na capital pela Escola de Aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (EAPSUS), vinculada à FEPECS. No entanto, algo parece ter dado errado para a instituição.

Eles pedem a volta das aulas práticas em hospitais e cobram da reitoria, uma posição. Segundo a estudante Isabella Caroline, desde o início do semestre, as vagas estão limitadas e, na última semana, mais um hospital foi perdido. “Nós perdemos o Hran (Hospital Regional da Asa Norte). Eles estão tentando colocar a culpa na secretaria (de Saúde), mas a culpa é deles que perderam o prazo”, disse a estudante.

O também estudante de medicina da instituição e atual presidente do Centro Acadêmico de Medicina do CEUB, Victor Silva Oliveira, concorda com Isabella. Ele afirma que diversos cenários (locais onde os estudantes realizam os estágios) foram perdidos.

“A gente perdeu o Hran, que era do CEUB há anos! Como as vagas estão lá e eram do CEUB, nenhuma outra universidade tentou tomar. Era só ir lá e assinar papéis para que fosse nosso, e agora não é de ninguém. Nós perdemos outras coisas, como o Paranoá, Sobradinho e Planaltina. O CEUB tem perdido todos os cenários para todas as outras universidades. Tudo por uma falta de diálogo…”

A divisão de vagas

Apesar de as vagas serem distribuídas pela EAPSUS, a divisão não é feita automaticamente, é necessário que as Instituições de Ensino (IES) se manifestem e informem o cenário para a Escola. Segundo a Coordenação do curso de Medicina do CEUB, houve uma mudança em como esse trâmite é realizado.

Antes, os professores negociadores da Instituição iam até os hospitais e conversavam diretamente com a chefia, informando o cenário de alunos, demandas e negociando as vagas. Depois, um documento formal era enviado. Feito a concessão com base nas vagas disponíveis e distribuídas entre todas as IES, uma relação de vagas, alunos e escalas era formado. As informações foram dadas através de uma nota de esclarecimento emitida pela coordenação.

Agora, ainda de acordo com a coordenação. “A cada novo semestre letivo, ocorre um grande leilão de vagas nos diversos cenários de prática em reuniões tumultuadas e desgastantes, onde tudo começa praticamente do zero, com todas as IES disputando os mesmos cenários”, informa o documento.

Esse ‘leilão de vagas’ é comandado pelas chefias dos Núcleos de Educação Permanente em Saúde – NEPS dos hospitais, que devem levar para as reuniões o quantitativo de vagas em cada local pretendido e estas devem ser comunicadas previamente aos NEPS pelos gestores destes locais.

De acordo com Isabella, o problema teria sido que dois professores, ambos médicos, eram responsáveis por ir até os hospitais negociar as vagas e assinar documentos. Porém, eles perderam o prazo. “Se eles têm, por exemplo, uma cirurgia e uma reunião no mesmo dia, eles obviamente vão escolher a cirurgia”, continuou.

A coordenação do curso, por sua vez, esclareceu o que de fato teria acontecido com o caso desses dois professores. Segundo o documento, os professores não comparecem mais nos hospitais para falar diretamente com a chefia, já que agora, a dinâmica é outra. O problema do não comparecimento seria que, no atual modelo, muitas reuniões onde esses ‘leilões’ acontecem seriam marcadas, impossibilitando o comparecimento em todas, e prejudicando o quantitativo de vagas fornecidas à instituição.

“O que temos observado é que, por maior que seja o esforço deles, é impossível comparecer a todas as reuniões e locais (NEPSs, UBSs, Hospitais, UPASs, etc.), para negociar vagas, uma vez que eles não têm exclusividade e também tem outras atividades dentro da própria instituição e em outros vínculos empregatícios”, argumenta a nota.

Para Victor, no entanto, a instituição dá desculpas demais e não resolve nenhuma das questões. Segundo ele, motivos diferentes vêm sendo apresentados a cada mês, reuniões desmarcadas e nenhum esclarecimento de fato.

“Eles falavam que o problema foi a pandemia, falavam que a coordenação estava tentando resolver. Depois disseram que o problema era a Secretaria da Saúde, logo após foi dito que foram os professores que resolvem essa questão, mas eles são professores e também são médicos em outros lugares. Então às vezes eles tem estão dando aulas, estão em cirurgias. Acaba que a secretaria faz a reunião pra resolver e o professor não pode comparecer”, detalhou.

Em uma carta de manifestação, o Centro Acadêmico do curso afirmou que existem turmas sem nenhuma atividade prática desde o início do semestre. “Estamos tendo alguns problemas na universidade, mas principalmente, com relação ao número reduzido dos cenários práticos nos hospitais públicos do DF para os alunos no ciclo clínico e internato, algumas turmas sem nenhuma prática nos hospitais desde o início do semestre”.

Para os alunos, a causa principal desse problema seria a superlotação no curso de medicina. Os discentes afirmam que o CEUB aceitou mais matrículas do que podia comportar. “Tem um superlotamento de estudantes desde 2019. A instituição aumentou o número de alunos nas turmas, sem pensar nas consequências. Isso foi afirmado até pela resposta passada pelo próprio coordenador do curso para o Centro Acadêmico”, afirma o documento.

Esclarecimentos Ao CAMEDU_cenários.docx by Jornal de Brasília on Scribd

A nota feita pela coordenação do curso, de fato, cita o problema de superlotação como parte da questão que envolve a defasagem na atuação dos alunos em estágios, mesmo que o principal impedimento, na visão da instituição, seja a divisão imposta pela EAPSUS. Segundo o documento, o número de alunos aumenta em 50% a cada semestre.

“Esse incremento de alunos leva a um aumento de demanda por vagas nos cenários de prática já superlotados pelos vários cursos de Medicina do Distrito Federal, que na maioria das situações, disputam as vagas nos nosocômios públicos, notadamente na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal e no IGES-DF”, informa.

O ato

A manifestação cruzou o campus do centro, indo até a porta da reitoria. Eles permaneceram no local por cerca de uma hora. Após isso, o movimento se dispersou. Em vídeos do momento do ato, é possível ver e ouvir as reivindicações dos alunos.

Victor afirmou que o ato não foi somente pelos problemas nos cenários de estágios. Segundo o estudante, os alunos enfrentam outros problemas dentro do curso. “Foi também sobre ter uma faculdade sucateada. Mesmo o internato pagando R $12 mil, temos equipamentos velhos, quebrados. E a pandemia não é uma desculpa, eles não deram desconto na pandemia, pelo contrário, aumentaram em 10%”, contou.

Ele detalha ainda a questão da superlotação das salas. “Esse foi até um problema para voltar para o presencial, mesmo outras faculdades voltando, o CEUB dizia que não tinha estrutura”.

Victor diz que chegou a frequentar salas virtuais com 96 estudantes. “Foi o Ceub que escolheu colocar 75 alunos por turma. Isso no papel, em 2022/2 teve um edital de 75 alunos, mas eu comecei o semestre com 96 alunos. O PBL não aguenta turmas grandes. Então nós estamos aqui cobrando coisas que foram prometidas, que nós pagamos, mas não recebemos”, finalizou.

Clínicas particulares

Entre os burburinhos do tumulto, circula uma informação de que a instituição teria levado alunos a clínicas particulares. A atitude seria, segundo Victor, prejudicial para o ensino.

“Entende-se que dentro do particular a prática será muito baixa, você não vai ter uma quantidade tão grande de pacientes e lá, o paciente pode negar ser atendido pelo estudante. No público é o lugar onde tem a prática de verdade”.

A informação, no entanto, não foi confirmada por nenhuma instituição ou estudante, também não existem, até o momento, relatos de alunos que atuaram nesses locais. Segundo o presidente do CA, a coordenação foi contra a medida. “O CEUB cogitou clínicas particulares, mas a coordenação de medicina não queria”, afirmou.

A relação com o centro de ensino

Sobre as tentativas de contato dos alunos com a instituição, Victor disse que a coordenação e diretoria do local vêm adiando reuniões e postergando encontros.

O que eles receberam de esclarecimento foi um documento supostamente emitido pela coordenação do curso que detalha os motivos expostos neste texto. Confira o esclarecimento:

Victor afirma, entretanto, que apesar dos esclarecimentos, nenhuma solução foi de fato apresentada.

“Hoje a gente teve uma resposta do diretor de ensino do CEUB. Ele ficou postergando as reuniões já marcadas, mas agora ele deu alguns esclarecimentos. No entanto, ele não deu nenhuma resposta definitiva sobre o que está sendo feito. Ele preferiu resolver tudo isso na quarta-feira, com os representantes de todos os semestres, inclusive o CA. Mas, como nós vamos reclamar na quarta-feira, o problema não vai ser resolvido lá. Enquanto isso, nós já estamos no meio do semestre e existem turmas sem prática”, concluiu.

CEUB

Também em nota, o Centro Universitário de Brasília (CEUB) confirmou que as atividades práticas para o curso de medicina estão atrasadas, mas justificou que os motivos “fogem ao controle do CEUB”, já que a instituição depende dos acordos feitos com os órgãos competentes.

No documento, eles ainda confirmam que houve uma manifestação dos estudantes nesta manhã e que atendeu pessoalmente o Centro Acadêmico de Medicina (CAMEDU), juntamente com um grupo de alunos, para esclarecer a situação. “Espera-se que até o final da próxima semana todas as solicitações pendentes estejam solucionadas”, diz a nota.

EAPSUS

Em nota, a Escola de Aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (EAPSUS) informou que o processo de distribuição de vagas acontece anualmente em abrir e outubro e conta com a participação de todas as instituições de ensino conveniadas juntamente com os NEPS/SES e EAPSUS/FEPECS. A escola ainda garante que, dessa forma, todas as universidades têm oportunidades iguais.

“Essa organização da distribuição dos cenários exige que todas as 26 Instituições de Ensino, com os seus mais de 100 cursos, que são conveniadas com a SES-DF, aprimorem o seu planejamento”, esclareceu em nota.

Ainda de acordo com a EAPSUS, o CEUB tem tido espaços importantes ocupados nos cenários práticos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. “Desde o primeiro semestre de 2020 já foram 12.572 vagas, das quais nos últimos três semestres foram 6.411 somente para o curso de medicina, com 1.155 neste semestre”, finalizou o documento.

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