Menu
Brasília

Encontro reforça pacto pela comunicação responsável no enfrentamento à violência doméstica

Encontro reuniu Sistema de Justiça e veículos de comunicação para alinhar diretrizes de comunicação responsável, prevenção e proteção às vítimas

Redação Jornal de Brasília

18/12/2025 17h14

Foto: Divulgação/SSP-DF

Foto: Divulgação/SSP-DF

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF promoveu), na manhã desta quinta-feira (18), um encontro com representantes dos principais veículos de comunicação do Distrito Federal para discutir estratégias de enfrentamento à violência doméstica e familiar e o formato de divulgação dos casos. A iniciativa reuniu instituições do Sistema de Justiça e de Proteção — como o Ministério Público, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e a Defensoria Pública — com o objetivo de alinhar diretrizes de comunicação responsável, prevenção e cooperação institucional.

O diálogo teve como foco qualificar a cobertura jornalística sobre a violência de gênero, a partir de fundamentos técnicos, estatísticos e jurídicos. Entre os temas debatidos esteve o chamado “efeito copycat” (contágio ou imitação), que analisa como a forma de noticiar crimes pode influenciar comportamentos, percepções sociais e, principalmente, a busca por ajuda por parte das vítimas.

Na abertura do encontro, foi destacado o caráter colaborativo da iniciativa, concebida como um espaço de escuta, troca e alinhamento entre o poder público e a imprensa. O material técnico apresentado foi elaborado por um grupo de trabalho criado a partir de encaminhamento do grupo executivo da Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios (CTMHF).

O secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, reforçou que a proposta é construir soluções conjuntas, com base em evidências e compromisso com a transparência. “O compromisso que nós temos aqui é a transparência. Queremos construir um pacto experimental para fazer do Distrito Federal um modelo que pode dar certo e servir de exemplo para o restante do país”, afirmou, ao defender a união dos grandes veículos de comunicação em uma agenda permanente de aprimoramento da cobertura sobre feminicídio e violência doméstica.

Durante o encontro, o secretário executivo de Segurança Pública, Alexandre Patury, destacou que o enfrentamento da violência precisa começar nos primeiros sinais de agressão. “Não é ‘combate ao feminicídio’ como se ele fosse o começo. Feminicídio é consequência. A gente tem que combater o machismo e a violência doméstica. É no empurrão, no soco, naquela pequena violência, que o Estado precisa agir com firmeza — e com a ajuda da imprensa dizer claramente: nós não toleramos”, ressaltou.

Para o secretário-executivo Institucional e de Políticas Públicas de Segurança, Paulo André Vieira, a presença conjunta do Executivo, do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria e da imprensa representa um ponto de inflexão no enfrentamento à violência. “A imprensa é uma força cultural capaz de salvar vidas. O que a gente constrói aqui é uma mudança estrutural, que deixa legado”, afirmou.

Evidências e responsabilidade na cobertura

A CTMHF apresentou dados e alertas sobre os riscos associados à exposição excessiva de casos de feminicídio e violência doméstica, reforçando a necessidade de responsabilidade adicional na cobertura jornalística. O coordenador da Câmara, Marcelo Zago, destacou a importância de fortalecer a confiança nas medidas protetivas e nos serviços existentes no DF. “O cenário ideal é aumentar o registro da violência doméstica, reduzindo a subnotificação, e diminuir os feminicídios. Aqui, toda morte suspeita de mulher é registrada inicialmente como feminicídio, garantindo um protocolo específico de investigação”, explicou.

Representantes do Sistema de Justiça reforçaram que a proposta não é pautar a imprensa, mas oferecer diretrizes baseadas em evidências para evitar a romantização da violência, a culpabilização da vítima, o uso de linguagem que normalize agressões e a exposição de detalhes cruéis ou sensacionalistas.

Segundo a defensora pública Rafaela Mitre, coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres da DPDF, a comunicação deve reforçar a rede de proteção. “A ideia é apresentar fundamentos e diretrizes práticas para que, ao comunicar casos de feminicídio, a cobertura transmita informações sobre os serviços de apoio e não reforce estereótipos e julgamentos”, afirmou.

A juíza Fabriziane Zapata, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher (NJM) do TJDFT, ressaltou a importância da parceria com a imprensa. “A mídia chega onde o Estado não consegue chegar. Caminhar juntos é fundamental para qualificar o debate público e fortalecer as políticas de enfrentamento à violência contra a mulher”, destacou.

Na mesma linha, a promotora de justiça do MPDFT, Gabriela Gonzales, enfatizou o papel social do jornalismo na desconstrução de uma cultura historicamente permissiva à violência de gênero. “A imprensa está presente no dia a dia das famílias e tem papel central na conscientização da população. Caminhar juntos é essencial para transformar essa realidade”, pontuou.

Imprensa como aliada na prevenção

O debate também incorporou a visão prática das redações, abordando desafios como a urgência do tempo real, o impacto de manchetes e o uso de imagens. A colunista Isadora Teixeira, do Portal Metrópoles, defendeu a criação de padrões objetivos para que, desde as primeiras notas, as notícias tragam orientações, informações sobre a rede de proteção e canais de ajuda.

O editor e apresentador da Record, Henrique Chaves, destacou que a comunicação pode ser uma força a favor da vida. “Essa parceria é fundamental para melhorar a nossa comunicação e atingir o sonho de não ter feminicídio na capital do Brasil. Saio daqui com novas ferramentas para comunicar melhor e salvar vidas”, afirmou.

Efeito copycat em debate

Um dos pontos centrais do encontro foi o debate sobre o efeito copycat, fenômeno que descreve o aumento de atos semelhantes após a ampla divulgação de crimes pela mídia. Estudos apontam que o risco cresce quando há combinação de exposição intensa e repetitiva, detalhamento de métodos, romantização dos agressores e ausência de mecanismos sociais de inibição, reforçando a necessidade de uma cobertura cuidadosa, ética e orientada à prevenção.

Com informações da SSP-DF

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado