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Brasília

Empresário afirma não ter apoiado atos antidemocráticos de 8 de janeiro

O empresário Joveci Xavier de Andrade foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) na manhã desta quinta-feira (13)

Mayra Dias

13/04/2023 18h47

Foto: Silvio Abdom/CLDF

Reiterando que não ajudou a financiar os atos antidemocráticos realizados no dia 8 de janeiro, o empresário Joveci Xavier de Andrade foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) na manhã desta quinta-feira (13). 

Apesar de ter acionado a justiça e conseguido um habeas corpus, ter conquistado o direito de permanecer em silêncio e não ser submetido ao juramento de dizer a verdade, além de ter o acompanhamento de seus advogados, Joveci compareceu e não se absteve de responder as perguntas dos parlamentares. 

Sócio de quatro empresas, Joveci foi enfático ao afirmar que não participou dos atos e manifestações ao ser questionado pelo presidente Chico Vigilante (PT). Em seguida, contudo, foi exibida uma foto dele em manifestação. Então, o empresário admitiu. “Ir lá, eu fui. Eu entendi o participar de uma outra forma”, se retratou.

O empresário confirmou que não houve, de sua parte, financiamento de alimentação, trio elétrico, outdoors ou faixas de protesto para as manifestações do dia 8 de janeiro. “Não tenho conhecimento de como eles se sustentavam. Minha empresa não compactua. Lá, só sai mercadoria paga”, afirmou o depoente. Segundo ele, conforme se lembra, não participou de vaquinha e não doou mercadoria. “É difícil tirar dinheiro de comerciante”, repetiu inúmeras vezes Joveci. Ao ser questionado sobre possíveis ações do seu sócio, afirmou: “Não posso responder por meu sócio, Adauto, enquanto pessoa física”, disse.

Segundo o empresário, ele é sócio de empresas que geram cerca de mil postos de trabalho. São elas: Melhor Atacadista, supermercado atualmente com 8 lojas no DF, Garra Distribuição, empresa do ramo de alimentos, Canal Distribuição e Marcas Premium, que atua no setor de frutas secas e castanha.

Joveci, contudo, não negou que esteve em algumas ocasiões no Quartel General. “Estive no acampamento no máximo três vezes. Era um ambiente que eu senti que tinha o controle do quartel. Eu como empresário me senti seguro lá. Era como se fosse a segurança do quartel”, afirmou. Ele ainda admitiu ter ido à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, e contou que chegou à manifestação depois de 16 horas, sem invadir nenhum prédio. “Quando cheguei lá, vi que a coisa estava feia e tudo já estava destruído. Não entrei em prédios públicos. Só me aproximei do Palácio do Planalto. É de uma estupidez sem tamanho aqueles atos que quebraram, puseram fogo, roubaram as peças. Não tenho dúvida nenhuma que as pessoas que fizeram isso merecem estar presas”, disse à CPI.

O empresário aproveitou o momento para afirmar que crê na democracia e nas urnas, além de defender o direito de manifestação e admitiu que já votou, em outras eleições, no presidente Lula. “Acredito nas urnas eletrônicas, sou um democrata”, pontuou. “Todo cidadão tem o direito de se manifestar e pedir a saída de um governante. Qualquer cidadão, inclusive eu, tem o direito de sair aqui com uma faixa dizendo ‘Fora Lula’, é um direito meu. Mas é impossível não reconhecer o governo, não reconhecer o presidente. Hoje nosso presidente é Lula e tenho que torcer para ele fazer um bom governo porque se o Brasil quebra, eu quebro, tenho quatro empresas e dependo disso”, disse o supermercadista.

Diante dos argumentos trazidos por Joveci, o deputado Fábio Félix (PSOL) relembrou que a fala do depoente não é juramentada. “Ele conseguiu uma liminar para não precisar falar a verdade. Então, ele não é obrigado a falar a verdade hoje. Portanto, tudo deve ser comprovado pela investigação da Polícia Civil”, afirmou Felix.

Segundo o parlamentar, atos como o em questão tinham a intenção de iniciar um golpe de Estado no país. Ele relembrou que foram invadidos três prédios públicos, depredados e destruídos. “Atos violentos como esse no mundo e na história do mundo foram utilizados justamente como a faísca para um golpe de Estado. Na praça dos Três Poderes estão lugares símbolos da democracia, os prédios foram atacados para gerar essa faísca de não reconhecimento das eleições”, enfatizou Fábio Felix. 

Por sua vez, o deputado Pastor Daniel de Castro, do PP, defendeu que nem todo manifestante é terrorista. “Vários querem chamar manifestante de terrorista, de golpista. Não é! É cidadão livre, que pode se manifestar”, disse Daniel. O parlamentar reclamou ainda que o GSI não liberou as imagens do local, conforme requerimento apresentado por ele.

Em resposta a tal afirmação, o deputado Gabriel Magno (PT) reiterou que manifestação é livre, mas que pedir intervenção militar é crime. “É óbvio que qualquer cidadão pode pedir a saída de qualquer político. Por outro lado, é crime pedir intervenção militar e quem pediu ou quem financiou cometeu crime. No acampamento, o intuito era pedir um golpe de Estado”, declarou o petista.

Chico Vigilante, presidente da Comissão, reforçou que o depoimento teve origem em requerimento aprovado pela CPI. “Aqui não tem deputado bonzinho ou mauzinho. Todos os requerimentos foram aprovados por unanimidade. Ninguém questionou na hora. Nós não estamos dizendo que o depoente é criminoso, estamos dizendo que estamos apurando”, afirmou.

Requerimentos

Durante a reunião, a CPI aprovou requerimentos de informações para tomar conhecimento de todos compromissos registrados em agenda e as visitas recebidas por diversas autoridades como ex-ministros e generais do exército. 

Desta forma, o grupo de distritais terá acesso sigiloso aos documentos de agendas do general Augusto Heleno, ex-ministro Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); Anderson Torres, enquanto ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; e general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, chefe do Comando Militar do Planalto (CMP). “Registro que toda a relação de documentos será recebida de forma sigilosa”, garantiu o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante.

Vale destacar que todos os requerimentos aprovados são de autoria do deputado Fábio Felix (PSOL). Segundo ele, é urgente saber se autoridades da República ajudaram a orquestrar uma tentativa de golpe de Estado, “por isso o acesso à lista de visitantes vai ajudar bastante a CPI a mapear essas conexões”,  justifica o distrital.

Por fim, os parlamentares também aprovaram requerimento para a Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal fornecer a relação de procedimentos que apuram condutas de policiais por atuação nos atos antidemocráticos dos dias 12 de dezembro de 2022 e 8 de janeiro de 2023, com a indicação nominal dos policiais investigados em cada inquérito.

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