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Brasília

Em video, assassino narra encontro e negociação com a ré

O oitavo dia do mais longo julgamento da história do Tribunal do Júri de Brasília foi dedicado a exibições de áudios e vídeos e leituras de depoimentos

Lindauro Gomes

01/10/2019 7h02

Tribunal do juri – Adriana Villela foto : Vitor Mendonca data : 30/09/19

Olavo David Neto e Vítor Mendonça
redacao@grupojbr.com

A sessão de ontem (30) do processo – que julga a participação de Adriana Villela no assassinato dos pais, José Guilherme e Maria – ouviu registros dos 10 anos de investigação. Já são mais de 85 horas de julgamento.

De acordo com um dos relatos reproduzidos no plenário, Paulo Cardoso Santana, o Paulinho, confessou a participação no crime da 113 sul à Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), em 2011, além de apontar que Adriana estava no apartamento quando dos três assassinatos. Ele afirmou que, enquanto esfaqueava José Guilherme, a arquiteta gritava com o pai – e ria. “Fiquei impressionado com aquilo. Ela era maluca”, disse o executor, que sabia apenas se tratar de uma mulher “na faixa dos 40” anos.

Paulinho também afirmou que Adriana deixou o local antes dos executores, saindo pela porta da frente. Após a saída dela, então, os executores teriam saído pela porta de serviço – a mesma por onde entraram. O vídeo da inquirição foi apresentado pelos acusadores. Enquanto Paulinho aparecia no telão do plenário, Adriana e todos da família Villela deixaram o local. A defesa aconselhou que não assistissem às reproduções, pois seria demasiado doloroso.

Caminho do crime

Outro vídeo reproduzido pelos acusadores no Tribunal do Júri foi a reconstituição do crime feita pela Polícia Civil (PCDF) junto a Leonardo Campos Alves, um dos autores do triplo assassinato. De acordo com a reconstrução feita ainda em 2010, ele encontrou Adriana pela primeira vez em 3 de agosto de 2009 num banco da Praça das Fontes, em frente ao Conjunto Nacional. Sentado no banco em que, segundo ele, os dois se reuniram, declarou aos policiais que essa foi a abordagem inicial para a encomenda do crime.

Onze dias depois, outro encontro no mesmo lugar fechou a suposta negociação em US$ 27 mil acrescidos de joias. Nesse momento, conforme o relato, ela perguntou se “os outros dois dariam para trás”. Ele, Paulinho e Francisco Mairlon foram seis dias depois à 113 Sul para “reconhecer o local”. Conforme relatou ao delegado Ecimar Loli, da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), a arquiteta “queria eliminar os pais”, mas só teria comentado no segundo encontro com o ex-porteiro.

No dia 28 de agosto, os executores estavam num ponto de ônibus conhecido como “parada da Anapolina”, pois faz parte do itinerário dos ônibus da Viação Anapolina. A parada é no Eixo W sul, na altura da 113. Segundo Leonardo e Paulinho, Adriana passou por eles em três ocasiões, sendo que na terceira ela parou. Leonardo foi a seu encontro e recebeu da ré uma sacola com dinheiro e joias.

Os três se separaram e subiram para o bloco C, onde morava o casal Villela. Por ser conhecido no prédio, Leonardo ficou na área de convivência da quadra, enquanto Mairlon e Paulinho subiram pela porta de serviços dos apartamentos com final 01 e 02, que estava entreaberta, e executaram José Guilherme Villela, Maria Villela e Francisca da Silva, empregada doméstica do casal.

Confronto

No vídeo da acareação – momento em que as versões são contrapostas -, diferenças nos depoimentos vieram à tona. Francisco Mairlon, que negara participação no triplo homicídio e depois negara que subira no apartamento, foi confrontado por Paulinho. “É mentira que Francisco tenha ficado embaixo do prédio. Não só mentiu como participou da execução”, declarou Paulo a Ecimar. “Na hora de fazer ele fez, na hora de aceitar ele aceitou. Agora é hora de confessar”, disse.

Irmão fala

Augusto Villela defende inocência de Adriana. Foto: Vítor Mendonça

No momento reservado aos arquivos da defesa, um dos que mais chamaram à atenção foi a reprodução de um áudio do depoimento de Augusto Villela, irmão de Adriana, no qual ele se queixa dos holofotes da imprensa e se refere à irmã com palavras carinhosas. Para ele, os irmãos tinham “visões de mundo bem diferentes”, mas que as discussões de Adriana com a mãe raramente eram motivadas por dinheiro.
Ele também negou que suspeitasse da participação de qualquer membro da família Villela nos assassinatos. Augusto também confidenciou aos agentes que mudou-se de seu apartamento na 305 sul por causa do assédio da imprensa.

Paulinho vs Paulinho

Em contraponto ao depoimento de Paulinho à Corvida, foi apresentado um áudio de outro depoimento do executor do casal Villela e de Francisca em que nega as versões anteriores. Conforme a gravação, ele alega que foi coagido pelo comparsa e por agentes de polícia a tecer os comentários sobre mando e a presença de Adriana no apartamento. “Ele falou pra eu confessar o crime, que tinha mandante. Eu não falei nada disso”, declarou.
Assassino confesso, Paulinho disse que a família estava em risco, pois policiais ameaçavam pessoas próximas a ele, como o pai e a mãe, e que o homem supostamente contratado por Adriana Villela tinha bom relacionamento com os agentes. “Eu falei com orientação do Leonardo e dos policiais, porque ele sempre estava com eles.”

Até o fechamento da matéria não foram exibidos dois vídeos separados pela defesa: uma entrevista de Leonardo exibida em rede nacional e trechos de um depoimento do assassino confesso à polícia. Hoje (1º), Adriana vai ao púlpito e prestará depoimento frente ao juiz, à acusação e ao Júri. A previsão é de que a fala da ré dure cerca de cinco horas.

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