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Brasília

Em áudios, youtuber Klebim afirma que ‘pobre tem que roubar para se dar bem’

O influenciador foi preso em uma mega operação, que desmembrou um esquema criminoso com envolvimento de rifas clandestinas

Redação Jornal de Brasília

04/04/2022 8h13

Em conversa com pessoas próximas, antes de ser preso no dia 21 de março, o youtuber Klebim falava sobre a venda ilegal de rifas clandestinas. Através de áudios do WhatsApp, o influenciador chegou a alegar que no Brasil “pobre precisa fazer coisa errada para crescer”.

Nos diálogos vazados, o youtuber reclama dos tributos cobrados pela Receita Federal e que receberia “míseros” US$500 com visualizações em seus vídeos no Youtube. O influenciador foi preso em uma mega operação, que desmembrou um esquema criminoso com envolvimento de rifas clandestinas e lavagem de dinheiro. A prática ilegal rendeu milhões de reais a Klebim.

Ele afirma, ainda, estar ciente do perigo que corria em ser alvo das autoridades. “Mano, isso aí não tem jeito não véi, se denunciar e for pra Receita ou alguma coisa, vai dar merda, saca? Até mostrei isso aí hoje pra minha mãe e disse: se der merda tem que dizer a verdade ao advogado e tentar gastar o dinheiro. Porque, moço, não tem jeito de pobre ficar rico se não tiver fazendo nada de errado pro governo não, pô. Não tem jeito, quando eu soltei a rifa eu já sabia que era proibido”, disse.

Outros envolvidos

A análise dos dados coletados na investigação depois da prisão dos envolvidos indicou um esquema de lavagem de dinheiro altamente complexo. Para garantir o desbloqueio dos valores pagos pelas rifas, um contador e um advogado atuavam para burlar a lei.

De acordo com as investigações da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), os valores arrecadados são creditados em plataformas de pagamento que, ao perceber operações atípicas, bloqueiam o dinheiro. No esquema, o advogado e o contador conseguiam o desbloqueio através de empresas de fachadas e notas fiscais frias.

Ainda segundo as apurações, enquanto os quatro primeiros investigados estavam presos temporariamente, a engrenagem das rifas continuou em andamento. “A influência, articulação e engajamento da organização criminosa nas redes sociais e canais do YouTube, a pluralidade de sítios eletrônicos ainda em funcionamento e a complexidade das operações de lavagem, a DRF não visualizou outra medida apta a impedir que, soltos, voltassem a delinquir”, disse o Diretor da DRF, Delegado Fernando Cocito.

A operação

A Operação Huracán indicou que o youtuber e influenciador digital usava seus perfis nas redes sociais para a promoção e realização de sorteios de veículos de luxo, customizados e com sistemas de som sofisticados. Além de Klebim, outros três alvos foram presos temporariamente pelos crimes de lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar.

Somente no Instagram, Klebim conta com cinco perfis: o pessoal, com 1,7 milhões de seguidores; Estilo Dub (1,5 milhão), Dub House (332 mil), Dub Shop (119 mil) e Guincho Dub (12,5 mil). Já no YouTube, seu canal possui 1,27 milhões de inscritos. No TikTok, o número é de 1.207. Somando os seguidores em todas as redes sociais, o total chega a 4,7 milhões.

Lavagem de dinheiro

De acordo com as investigações, os sorteios não são autorizados pelos órgãos competentes, e o youtuber não recolhe impostos. Klebim, de acordo com a polícia, lavava o dinheiro dos sorteios com a aquisição de veículos superesportivos, que são registrados em nome de laranjas – incluindo a mãe do influenciador – e empresas de fachada.

Além de Klebim, foram presos, acusados de integrar o esquema criminoso, Pedro Henrique Barroso Neiva, Vinícius Couto Farago e Alex Bruno da Silva Vale. Todos teriam ajudado a movimentar as rifas clandestinas e auxiliado na entrega dos veículos, por isso recebiam comissões em dinheiro pagas pelo influenciador digital.

A DRF identificou que o esquema era altamente lucrativo e apurou que os criminosos movimentaram R$ 20 milhões em apenas dois anos. Para se ter ideia do poder de compra de Klebim, a polícia apreendeu uma Lamborghini Huracán e uma Ferrari 458 Spider. Os superesportivos são avaliados em R$ 3 milhões cada.

Caminho do dinheiro

As autoridades mapearam o caminho dos milhões arrecadados com a venda das rifas. O valor pago através de plataformas digitais, como Mercado Pago e Paypal, caía diretamente na conta das empresas de fachada.

Segundo Fernando Cocito, diretor da DRF, “o conluio criminoso era descarado” e capitaneado por influenciadores digitais que atraiam milhares de seguidores, sob o discurso de legalidade e lucratividade das rifas de veículos.

“Os presos influenciaram dezenas de outros contraventores que, em toda a Região Centro-Oeste do país, passaram a disseminar perfis, canais e sítios eletrônicos de rifas ilegais e a ocultar valores oriundos da contravenção, em prejuízo da ordem econômica e do sistema financeiro”, afirmou.

Rifa clandestina

Conforme o Ministério da Economia, a rifa clandestina é uma prática ilegal. De acordo com a pasta, mesmo que o dinheiro arrecadado seja direcionado para bancar total ou parcialmente projetos da caridade, a prática continua a ser considerada clandestina e irregular.

É permitido pela legislação sorteios e rifas com venda de cotas apenas para instituições filantrópicas mediante autorização especial. Nesses casos, os sorteios necessariamente devem ser realizados via Loteria Federal. O órgão diz que “a exploração de bingos, loterias e sorteios é atividade ilegal e constitui contravenção penal”, além de consistir em um “serviço público exclusivo da União”.

O ministério afirmou, por meio de uma nota, que caso seja comprovado prejuízo a qualquer participante, o caso poderá ser configurado, ainda, como ilícito penal ou, “no mínimo”, lesão ao consumidor.

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