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Brasília

Educação e cultura andaram juntos neste mês de agosto

O projeto ‘A Escola Vai ao Cinema’ foi realizado com a parceria do Fundo de Apoio à Cultura e o Cine Cultura

Redação Jornal de Brasília

01/09/2022 7h24

Foto: Divulgação

Amanda Karolyne
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Com o objetivo de proporcionar aos estudantes de baixa renda o acesso à sétima arte, aconteceu em agosto o projeto A Escola Vai ao Cinema. O Cine Cultura recebeu turmas de 56 escolas e 500 professores, em grupos de 90 alunos da mesma faixa etária: de 4 a 6 anos, de 7 a 9 anos, de 10 a 12 anos e a partir de 13 anos. Parte das vagas são reservadas para escolas da área rural e de ensino especial, e da Educação Jovem Adulto.

De 33 regiões administrativas do Distrito Federal, apenas sete possuem salas de cinema. Dito isso, para a coordenadora pedagógica do projeto, Cléria Costa, ir ao cinema é um passeio que se torna caro quando a família vai, porque não é nem só a entrada do cinema, tem o gosto com transporte, tem gasto com lanche, pipoca, e muitas famílias não frequentam o cinema por questões financeiras, e principalmente das cidades mais periféricas ou das periferias no entorno do DF. O que a gente percebe no projeto, é que muitas crianças nunca tinham ido ao cinema. E outra coisa, poucos conhecem as produções nacionais, e nossa programação foi toda feita com filmes nacionais desde as animações escolhidas”, destaca. Cléria defende que a cultura deve ser reconhecida como mediadora do desenvolvimento social e seu acesso está assegurado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A pedagoga afirma que o projeto é uma maneira de valorizar a cultura do cinema brasileiro, e é um projeto de inclusão social. “Para muitos alunos é uma inclusão, e eu percebo isso até no EJA, conversando com os professores e com os estudantes mais velhos, muitos nunca foram ao cinema, então eu acredito que o projeto tem uma relevância educacional muito grande, porque não existe educação sem cultura e vice e versa”, frisa. Cléria aponta que além do lazer e da questão lúdica de ir ao cinema, foram elaborados guias pedagógicos com sugestões para serem trabalhadas após o cinema, para ter o desdobramento em sala de aula. Ela tem feedbacks bacanas dos alunos, que debatem sobre os filmes, e teve casos que passaram de uma semana, e os alunos mesmo voltaram a debater sobre os temas. Isso mostra que a educação também está envolvida no ato de ir ao cinema. “O respeito pela opinião do outro, ouvir o outro, isso tudo está envolvido no projeto”.

O projeto conta com procedimentos educacionais para as escolas participarem, Cléria cita a exemplo o ritual da entrega dos ingressos, para que eles saibam que tem que ter o bilhete de entrada e uma fila a ser respeitada. “Todo um procedimento que é normal para quem costuma ir ao cinema, mas para aqueles que nunca foram, é muito importante saber como funciona. Às vezes a gente não reflete porque já está automatizado, mas ir ao cinema é uma prática social”, salienta. Cléria pensa que o projeto poderia funcionar nos 365 dias do ano, e nem assim estaria esgotada a quantidade de alunos nas escolas públicas do DF.

Foto: Divulgação

O projeto A Escola Vai ao Cinema foi realizado com a parceria do Fundo de Apoio à Cultura e o Cine Cultura. Cleria explica, que ainda que tenha diminuído o número de alunos do EJA no DF depois da pandemia, eles tentaram suprir o máximo possível desse público, e também, atender escolas rurais e pessoas com deficiência, com duas escolas especiais e escolas inclusivas.

A professora de educação física Nara Mardones, da escola Centro de Ensino Especial 1 de Samambaia, conta que saiu da sessão emocionada. “Eu fiquei encantada com o projeto, com a dimensão da questão da democratização da cultura, da maneira com que é feito com muito carinho e muita organização”, comenta. Nara relata que foi a primeira vez de muitos alunos no cinema. Segundo ela, o mais velho dos estudantes deve estar com 54 anos, e ela tem certeza que foi a primeira vez da faixa etária dos alunos mais velhos do centro, que foram ao cinema. “E assim, foi uma coisa encantadora participar de um momento como esse, às vezes a escola é o único acesso que nossos alunos vão ter a cultura”, afirma, Para ela, seria muito importante que se ampliasse o projeto para atingir um número maior de alunos, porque realmente é uma coisa que tem de ser disseminada na educação.

O professor de filosofia e sociologia do CED 04 Taguatinga Norte, Area Especial CNG, Carlos Alberto Mateus leciona para o Ensino médio noturno, no primeiro, segundo e terceiro ano. Para ele, o projeto foi muito bem organizado, os ônibus foram sempre pontuais, tanto na hora de chegar, quanto na hora de voltar. Mateus conta que os alunos adoraram o filme, que fala sobre a escravização moderna, as pessoas que trabalham na fazenda sem receber. “E tivemos um debate na escola sobre o trabalho escravo e tudo. Eles adoraram debater sobre o filme e fizeram um relatório também”.

Ele conta que são alunos muito humildes, que nunca tiveram acesso ao cinema. “Então promover a cultura para esses meninos, sair da sala de aula e ter acesso a essas coisas, é muito pedagógico, o aprendizado é muito legal e eles se interessam mais”, adiciona. Ele acredita que o ensino não é só aquela coisa de sala de aula, aquela coisa massante. “Não, a gente pode ter outros tipos de conhecimento e aprendizado. E cultura também é conhecimento, um país sem cultura não vai longe, a gente tem que valorizar o cinema nacional e incentivar as pessoas que não tem acesso, para que eles possam realmente ir, e criar maneiras de ter acesso a cultura”, finaliza.

A aluna do terceiro ano noturno do CED 04 de Taguatinga Norte, Emanuelly Carollina Oliveira, 17 anos, gostou muito da experiência. “Deu oportunidade aos alunos que muitas vezes não têm condições financeiras, ou até mesmo tempo para poder ir ao cinema, e poder aproveitar com os colegas, e aprender ao mesmo tempo. Porque isso também proporciona que os professores passem atividades referentes ao filme, e isso é realmente muito legal”, afirmou.

As crianças de 4 a 6 anos se divertiram assistindo o “Peixonauta – O Filme”, de Kiko Mistrorigo, Célia Catunda e Rodrigo Eba, e com “Gemini 8”, de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo. Já para a faixa de 7 a 9 anos, o filme escolhido foi “Tainá – A Origem”. Os estudantes de 10 a 12 anos, assistiram “Turma da Mônica – Laços”, de Daniel Rezende, e a animação “Tito e os Pássaros”, de Gustavo Steinberg, André Catoto e Gabriel Bitar, vencedora do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de melhor animação. As turmas a partir de 13 anos ficaram com “Pureza”, de Renato Barbieri, “O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum, e “Cora Coralina – Todas as Vidas”.

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