Por Vítor Ventura
A Feira dos Goianos é um dos pontos de comércio mais conhecidos de Brasília. No centro de Taguatinga, a feira apresenta uma enorme variedade de produtos, com as roupas e acessórios sendo muito buscados. No entanto, alguns comerciantes têm percebido uma diminuição na movimentação nos últimos anos, e os relatos de menos pessoas visitando a feira se tornam frequentes.
Um fator que pode ter contribuído na percepção de que há menos pessoas visitando a Feira dos Goianos é a desaceleração no ritmo de crescimento das vendas no primeiro semestre de 2025. A informação é da pesquisa de Panorama do Comércio de agosto de 2025 feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF). O levantamento indica que no setor do comércio, o ritmo de crescimento do varejo diminuiu com relação a 2024. Segundo a pesquisa, isso significa que as vendas ainda crescem, mas com menos força.
A CDL também destaca que a desaceleração resulta da conjuntura de inflação
e juros elevados (15% ao ano) e já era esperada. Entre as barracas e lojas da Feira dos Goianos, os comerciantes já percebem a movimentação reduzida. O Jornal de Brasília ouviu a opinião dos trabalhadores que estão todos os dias na feira. O cenário econômico foi um fator citado, mas para muitos a concorrência com a internet tem sido um fator decisivo.
Alex Santos, 44, morador de Sol Nascente, trabalha na feira há 7 anos. Ele gerencia a loja de roupas Alex Santos Modas. Para o comerciante, muitos consumidores passaram a optar por fazer as compras no conforto de casa. “O mercado online cresceu bastante. Aqui na feira mesmo nessas datas comemorativas, que é Dia dos Pais, Dia das Mães, antigamente você tinha um desenrolar melhor nas vendas. Hoje em dia teve uma queda muito grande”, afirmou Alex.
Alex relatou ao JBr que com a chegada do final do ano, a expectativa é que a movimentação aumente na Feira dos Goianos. Entretanto, ele disse que as vendas nessa mesma época no ano passado não foram tão boas. “A gente veio ganhar um movimento aqui de clientela mesmo a partir do dia 20 de dezembro. Acho que foram mais as pessoas que deixaram as compras para a última hora”, contou Alex.
Para tentar contornar essa situação, o vendedor comentou que são vários os casos de pessoas que começaram vendendo apenas na Feira dos Goianos, mas que expandiram os trabalhos também para a internet. “Eu vendo online também, tenho minha loja virtual. Achei que valia a pena começar a vender virtualmente porque o comércio aqui em não está com toda essa demanda”, apontou Alex.
Outra comerciante que também faz essa integração das vendas na internet é Vanessa de Araújo Magalhães. Moradora de Taguatinga de 38 anos, ela está na feira há 2 anos vendendo artigos femininos com a loja Garota Shape. Mesmo com a loja física, Vanessa contou que estar também na internet se tornou indispensável. “Muita gente prefere comprar online. Ainda temos clientes fiéis que gostam de comprar na loja física, mas isso está mudando e vai mudar cada vez mais”, avaliou.
“É necessário [vender na internet], precisa ser feito, não pode ser só no físico. Antes vendia bastante somente na loja, mas hoje em dia quem não está no online está perdendo venda, porque não tem mais aquele fluxo de gente no físico. Então você tem que se desdobrar para dois”, destacou Vanessa.
Vendas online crescem
A tendência de crescimento das compras online é algo visto no Brasil inteiro. De acordo com dados da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (Abiacom), o faturamento do comércio eletrônico aumentou desde 2019, ano em que o valor foi de cerca de R$ 89,9 bilhões. Em 2024, o faturamento foi de aproximadamente R$ 204,2 bilhões. A Abiacom também fez uma estimativa do quanto esse comércio deve crescer ainda mais. A associação projetou que em 2029 o valor movimentado pelo e-commerce deve ser de R$ 343,9 bilhões.
Uma pesquisa realizada em junho de 2025 pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que nos últimos 12 meses anteriores ao levantamento, 119,2 milhões de consumidores residentes nas capitais do país fizeram pelo menos um compra pela internet, o que representa 73% dos entrevistados. Em relação à frequência das compras, sete em cada 10 consumidores (71%) compram online pelo menos uma vez por mês, enquanto 53% algumas vezes por mês, 15% semanalmente e 3% todos os dias. Os produtos mais comprados, segundo o levantamento, foram as roupas, calçados e acessórios (46%), itens que são comuns na Feira dos Goianos.
