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Brasília

Dia das Mães: Jornal de Brasília recria fotos antigas e famílias revivem momentos que marcaram a memória

Arquivo Geral

14/05/2017 9h00

Foto: Arquivo Pessoal/ Myke Sena

Manuela Rolim
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Recriar uma foto da infância não faz o tempo voltar atrás. Os filhos não pedem mais colo. Não cabem mais nos braços. Tampouco dependem inteiramente dos pais. Fisicamente, mudam o cabelo, engrossam a voz e “espicham” na velocidade de um piscar. Reproduzir esse momento, entretanto, é dar asas à imaginação de uma mãe. No dia delas, essa é a experiência que o Jornal de Brasília deseja a todas as protagonistas da vida.

Ao aceitar reviver o dia em que o caçula completou um ano, a professora e diretora de uma escola pública Kelly Cristine Rodrigues, 44, foi presenteada com declarações desconcertantes dos filhos. Na imagem escolhida pela família, a primogênita Giovanna Christinne Rodrigues, 21, e o aniversariante Carlos Henrique Rodrigues, 20, aparecem com fantasias natalinas não por acaso. Caíque, como é chamado pela mãe, veio ao mundo próximo ao nascimento de Cristo. “Por isso, quase sempre, as festinhas dele tinham o Natal como tema. Eu não queria passar a data no hospital. Então, marquei a cesárea para o dia 22”, conta a professora.

Apesar da pouca idade, na foto tirada em 1998, as crianças deixam transparecer traços de personalidades absolutamente distintas. Enquanto Giovanna se mostra desinibida e apaixonada pelos flashes, seu irmão não nega a timidez – até hoje. Nesse ponto, Kelly se identifica com o filho. “Somos bem parecidos. Já a mais velha puxou ao pai. É destemida, independente e extrovertida. Ele é mais reservado. Ambos, porém, são muito carinhosos comigo”, ressalta.

Emocionada, a professora destaca que as duas gestações – apesar de não planejadas – mudaram sua conduta. “Parei de correr riscos e deixei de ser prioridade na minha vida. Fiquei naturalmente mais prudente. Tudo por eles”, afirma ela, ao ressaltar sua vocação para a maternidade. “De alguma forma, a gente nasce pronta para ser mãe” garante.

Aos 23, ela engravidou da Giovanna e se casou. Um ano e seis meses depois, estava à espera de Caíque. “Eu nunca quis ter filho e tomava remédio. Quando descobri a primeira gravidez, foi um susto. Passou um filme pela minha cabeça, mas também não demorou muito para aquele amor me dominar. Eu olho para essa foto e tenho a certeza de que todo o trabalho valeu a pena. Eles são a melhor parte de mim, me ensinam a ter esperança”, relata.

Ao tentar descrever o momento em que conheceu os filhos, Kelly perde a voz e se limita a dizer que “é a maior felicidade que um ser humano pode experimentar”. Em seguida, lembra de algo marcante do pós-parto. “O cheiro deles assim que nascem é algo que não vou esquecer jamais”, completa.

Há 11 anos separada, a professora assume ainda um duplo papel dentro de casa. “É difícil, não vou negar. Às vezes, gostaria de compartilhar a educação deles. A dificuldade é ainda maior quando se tem filho homem. A figura paterna faz muita falta, mas faço questão de tentar suprir essa carência. Sempre que posso, estudo antes de aconselhar o Caíque”, afirma. Por isso, o sentimento de culpa não a afeta. “Não carrego esse peso. Sei que fiz e faço o meu melhor. Mãe também é humana. Não adianta querer acertar em tudo” conclui.

Estudante de gestão de políticas públicas, Giovanna tem a mãe como melhor amiga. “Nossa relação é de parceria e cumplicidade”, afirma. Questionada sobre a característica que mais admira em Kelly, ela responde sem pensar duas vezes: “A generosidade. Minha mãe é uma pessoa sempre disponível. Ela se sacrifica para ajudar quem estiver precisando. Tento ser um espelho disso. Se um dia eu engravidar, quero fazer absolutamente igual, não mudaria nada. Não consigo pensar em nada melhor” declara, emocionada.

Já o caçula faz questão de reconhecer o esforço da genitora ao tentar amenizar a ausência do pai. “Ela está sempre presente e, quando não se sente à vontade para falar sobre um determinado assunto, chama os meus tios para conversar comigo. Assumiu os dois papéis como ninguém. Minha gratidão é eterna”, acrescenta Caíque, que cursa gestão empresarial.

A personalidade forte da professora também é ressaltada pelos filhos. “Ela se intromete mesmo. Certa vez, não me deixou terminar um relacionamento porque era véspera do Dia dos Namorados e ficou com pena da menina”, lembra Caíque.

Giovanna também coleciona momentos engraçados protagonizados pela mãe. “Na oitava série, pedi para ela me levar com mais três amigas para uma festa. Chegando lá, ela desceu do carro e entrou no evento para falar com a mãe da aniversariante. Eu quase morri de vergonha. Achei que ela fosse descolada o bastante para nos deixar na porta e ir embora, mas não”, brinca.

Cresceram para o mundo

Aos 51 anos, a matriarca da família de Castro do Amaral chega a mais um Dia das Mães realizada. Professora aposentada, Fátima reuniu as quatro filhas para recriar a fato que tiraram na chácara de um parente. Na ocasião, Débora, 18; Letícia, 21; Hellen, 24; e Jéssica, 25, ainda crianças, aparecem “debaixo das asas de uma mãe superprotetora”, como a própria se define. “Nossos passeios sempre renderam muitos registros. Eu não tirava a câmera do pescoço. Aproveitei demais a infância das meninas porque sei que passa rápido e elas crescem para o mundo”, aconselha.

Antes mesmo de se casar, aos 23, Fátima já tinha combinado com o futuro marido que constituiriam uma família grande. Após a cerimônia, chegaram ao acordo de que teriam entre cinco e seis filhos. E assim fizeram. A primeira gravidez veio um ano depois do matrimônio. “Como todo homem, meu esposo esperava que o primogênito fosse menino. Mas Jéssica veio 20 dias antes do previsto, no aniversário dele, e amoleceu o coração do pai. Ele se derreteu todo e, desde então, afirmou que todas as filhas seriam meninas”, conta.

Nos três primeiros partos – todos normais -, a professora teve sérias complicações. “Helen veio um ano e dez meses depois. Passou da hora de nascer, saiu com o cordão umbilical enrolado no pescoço e demorou para chorar. Quando vi, minha filha estava roxinha”, detalha. Apesar do susto, a caçula até então nasceu absolutamente saudável.

Na terceira gestação, mais uma vez, o pai afirmou que seria outra menina. “O parto de Letícia foi o mais difícil. Ela subiu para a barriga no momento em que fui dar à luz. Os médicos tiveram que fazer um esforço enorme para encaixá-la de novo”, recorda.

Realizada com a maternidade, menos de um ano depois, a aposentada teve a maior perda de sua vida. Fátima sofreu um aborto espontâneo antes de completar dois meses de gravidez da quarta criança. “Fiquei traumatizada e muito sofrida. Não queria ter mais filhos. O sentimento de impotência me consumiu. A gente cria vínculo a partir do primeiro dia que descobre a gestação. Falei para o meu marido que queria parar, mas ele me convenceu a ter mais um, e foi a vez da Débora. Eu me considero mãe de cinco”, relata.

Pela primeira vez, a professora acreditava que o quinto bebê fosse um menino. “Foi a única vez que quis saber o sexo antes e marcar uma cesárea. A gestação foi diferente, eu fiquei mais mole e o formato da barriga também mudou. Mas o pai insistia numa menina e acertou. Nossa caçula nasceu sem nenhuma complicação”, comemora.

Orgulhosa da educação que deu ao quarteto, Fátima assegura que a maternidade é o grau máximo de evolução do ser humano. “A gente deixa de ser egoísta e desumano. Depois que você vira mãe, o olhar para o próximo é de amor. Eu nasci para assumir esse papel. É uma ligação que não tem limite nem tamanho, não dá para mensurar. Parece que o coração vive preenchido”, completa ela, que garante se dedicar a todas igualmente.

“O amor é o mesmo, incondicional, por todas. Cada uma tem uma personalidade apaixonante. Jéssica é mais decidida, independente e generosa. Hellen é a minha cópia. Não é à toa que assume o papel de mãezona das irmãs. Já Letícia é elétrica e uma das pessoas mais justas que já conheci. A caçula, por sua vez, é emocionalmente mais dependente. Racional e muito carinhosa, Débora é chamada de bebê por todos até hoje”, detalha.

A professora apostou em uma criação mais firme. “Ensinar é a maior dificuldade e não estou falando da questão financeira. Quis criar meninas independentes, mas, acima de tudo, caridosas. Elas aprenderam a se doar para o outro”, afirma. Apesar do orgulho ao ver o resultado, a sensação de culpa é latente. “A gente olha para o passado e se questiona se fez tudo certo. Mãe não quer errar de jeito nenhum”, acrescenta.

Atualmente, as três mais novas moram sozinhas na mesma casa, no Taquari. A mais velha também já tem seu endereço próprio. Das quatro, apenas uma ainda vai começar a faculdade. “Vê-las bem encaminhadas e unidas me completa. É o melhor presente de Dia das Mães que eu poderia ter”, afirma. Hoje, a família vai comemorar a data no Parque da Cidade. “Resolvemos tirar o dia para nos curtir. As meninas vão preparar o lanche e vamos fazer um piquenique”, conclui.

Diante de toda a dedicação da mãe, o reconhecimento das meninas é unânime. O quarteto não poupa elogios à matriarca. “Ser filha dela é como se eu pertencesse a um lugar que sempre foi meu. Como se ela fosse destinada a mim e eu tivesse nascido para ela. Não podia ser outra pessoa. Nós quatro somos muito diferentes e ela respeita isso. Nunca me senti comparada, excluída ou diminuída. O amor transborda para todas. É um privilégio ser sua filha”, diz Letícia.

Jéssica, por outro lado, ressalta a garra de Fátima. “É uma mulher extremamente forte e cativante. Com ela, aprendi que a beleza do coração transforma”, afirma. Já Débora enxerga a mãe como um porto seguro. “Ela é feliz com a gente e triste com a gente. A parceria é tanta que, às vezes, eu a vejo como mais uma irmã. Ela é a melhor amiga, mas sem invadir nosso espaço”, completa. Bastante emocionada, Hellen, acrescenta que “nunca viu alguém se doar tanto”.

União

A fotógrafa Zenilda Cintra dos Santos, 52, e os filhos Rodrigo, 29, engenheiro eletricista, e Caroline, 25, jornalista, recriaram uma foto tirada no ano 2000, em Samambaia. A família tinha acabado de chegar de São Paulo para morar de vez na capital. Até hoje, a imagem é uma das mais marcantes e a que melhor representa a união do trio. “Essa foto marcou o início de uma nova fase da nossa história” conta Zenilda, que nunca planejou ser mãe. “Ainda assim, quando descobri a gravidez do Rodrigo e soube que era um menino, pulei de alegria”, lembra.

Quatro anos mais tarde, a fotógrafa esperava a caçula. “Fiquei na expectativa para ser uma menina e fui abençoada com a minha boneca. Eu me sinto privilegiada pelos meus filhos”, acrescenta.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Na época da foto, Carol lembra que o irmão já era casado, mas ela ainda morava com a mãe. “Ela (mãe) é dona de uma energia que contagia. Até parece ser mais jovem do que eu. Por onde passa, cativa todo mundo. Quando éramos mais novos, lembro que era a queridinha dos nossos amigos. Ao mesmo tempo, é uma mulher muito guerreira e persistente. Nos criou separada do meu pai com a maior vitalidade e garra. Aliás, tudo o que ela faz é assim. Minha mãe desconhece as palavras tristeza, desânimo e desistência”, se declara.

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