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Brasília

Cultura investe R$ 11 milhões no Carnaval

Entre uma e outra ação cultural, é possível imaginar que a tão esperada folia de 2023 entre para a história

Redação Jornal de Brasília

10/06/2022 18h03

O carnaval é uma das pautas prioritárias do Governo do Distrito Federal, tendo em vista que se trata de setor estratégico abalado nos últimos dois anos pelas perdas da Covid-19. Na Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), dois projetos complementares entre si movimentam essa potente cadeia criativa. O edital de Apoio das Atividades Carnavalescas Permanentes, que destinou R$ 3,45 milhões para que os carnavalescos retomassem as ações em modo virtual, e a Escola de Carnaval, num aporte de R$ 1,5 milhão, destinado a programa de capacitação.

Em paralelo, o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) destinou, no edital Brasília Multicultural 1 de 2022, R$ 6,4 milhões para a linha de apoio “Jeito Carnavalesco”, para premiação de ao menos,77 projetos para atividades carnavalescas de rua e de escolas de samba. Uma dos premiados vai organizar o desfile das escolas de samba em 2023, com aporte de R$ 1 milhão.

Entre uma e outra ação cultural, é possível imaginar que a tão esperada folia de 2023 entre para a história.

Com mais de 1 milhão de pessoas nas ruas, o carnaval do Distrito Federal é um dos maiores do país, tornando a capital um dos destinos mais procurados. Enquanto os mais variados blocos eclodiam nas quadras das cidades, uma contradição tomou conta da capital: o silêncio nos barracões do samba. Há oito anos não há desfiles de escolas, deixando comunidades inteiras frustradas e sem movimento econômico. Primeiro, por uma ausência de incentivo e estrutura do governo anterior. Depois, pela chegada da pandemia de Covid-19. Essas ações visam reestruturá-las.

“O carnaval é o espelho do povo, e o Distrito Federal, a confluência do país. Ainda no começo dessa gestão, houve a percepção que não bastava voltar com os desfiles sem um preparo, sem uma organização ou articulação do setor. Depois de muitas escutas e diagnósticos, muitas visitas aos barracões, depois de conversar com gestores, a Secretaria entendeu que o caminho tinha que ser pela formação e profissionalização de toda a cadeia produtiva do Carnaval”, explica Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia e Criativa.

EMPREGO E RENDA

No primeiro projeto, o resultado foi impressionante: 4.500 empregos diretos e indiretos gerados, com um apoio direto a 1.500 agentes culturais, sendo 80% de negros e, em sua maioria, de comunidades para além do Plano Piloto. São públicos específicos e, muitas vezes, vulneráveis, como o LGBTQIA+ e as mulheres.

A ideia era que esses recursos fossem utilizados pelas escolas e blocos para fomentar pequenos eventos, pagar recursos humanos e contas atrasadas e, assim, ganhar novo fôlego. “É uma retomada, porque o DF tem um público de Carnaval desde sua criação. Então, é um esforço de rearticulação, da volta desse público para ele sentir que sua escola está voltando e as comunidades também irem voltando para o barracão”, conta a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes.

Para o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do DF (Liestra), Hélio dos Santos, o resultado foi animador. “Brasília estava sentindo falta dessas atividades, mesmo nas lives, foi um trabalho bom. Foi o que possibilitou que as escolas se estruturassem e fizessem apresentações depois de tanto tempo, levando ao mundo todo o Carnaval do DF”, comemora ele. “Essa é uma gestão que abriu as portas para as entidades carnavalescas, nunca tivemos tanto espaço como estamos tendo agora. Espaço e parceria. E o resultado disso virá nos desfiles, porque as escolas estarão preparadas para apresentar um desfile à altura do nosso Carnaval.”

FORÇA NA CAPACITAÇÃO

Iniciada desde fevereiro, a Escola de Carnaval é um projeto de projeção nacional. A ação tem como objetivo capacitar os integrantes e interessados das agremiações para retornarem à avenida em 2023, promovendo o diálogo com o terceiro setor e agentes públicos e articulando toda a cadeia carnavalesca. Para isso, o projeto conta com quatro módulos, Gestão Profissional do Carnaval, Artes Visuais, Artes Musicais e Artes da Dança, englobando assim toda a dinâmica produtiva do Carnaval.

A curadoria da Escola de Carnaval deu ainda mais força ao projeto. O carnavalesco Milton Cunha, cenógrafo, comentarista de desfiles em diversas emissoras e pós-doutor em “narrativas do carnaval”, foi o grande nome por trás dessa capacitação. Em um primeiro momento, ele mesmo entrevistou e analisou a situação dos agentes culturais que realizam o que ele chamou de “carnaval candango”, para então estruturar as etapas seguintes.

“O tripé da minha curadoria é constituído pela gestão administrativa, o artístico-visual e o artístico-musical. Primeiro, abordo a visão geral da escola de samba como fenômeno da modernidade, da sociedade do espetáculo. Em seguida, vem o resgate histórico, para que figurinista, carnavalesco, projetista de alegoria e compositor saibam que o tema tem um passado. Aí temos as aulas de croqui, risco, volumetria, ergonomia e também alegoria, com suas noções espaciais. A terceira parte é a musicalidade. Aí você trata de enredo, da harmonia musical”, detalha Milton Cunha.

Além de Cunha, outros profissionais renomados das escolas de samba do Rio e de São Paulo também estiveram em Brasília, promovendo oficinas dentro da Escola de Carnaval. Em cinco meses de ações, foram 840 inscrições, com 313 alunos capacitados e certificados e 12 diferentes oficinas. Só na primeira etapa, foram certificadas 60 pessoas, envolvendo profissionais das escolas de samba e dos blocos tradicionais. Para as 14 escolas participantes, no entanto, a responsabilidade é ainda maior: só poderão desfilar em 2023, os grupos que participarem do projeto, garantindo uma gestão responsável e ainda mais qualidade para as apresentações.

Para Rômulo Sulz, presidente da Organização da Sociedade Civil Luta pela Vida, gestora do projeto, essa é uma experiência única para os carnavalescos. “Acredito que em 2023 nossas escolas e blocos carnavalescos experimentarão um salto de qualidade de produção extremamente perceptível a todos, inclusive aos próprios envolvidos”, destaca.

Na execução do projeto, foram gerados 20 empregos diretos e 65 indiretos, incluindo pessoas com deficiência e diversos profissionais do setor cultural. “A população toda se move quando o Carnaval acontece! Ainda temos cursos planejados até agosto, a produção não pode parar. Da mesma maneira inclusiva e diversa com que acontece o Carnaval, a Escola de Carnaval segue a todo vapor, preparando o retorno das nossas escolas!”

Outro ponto alto destacado por Sulz é a descentralização das atividades da Escola de Carnaval para as Regiões Administrativas. Na capacitação nas primeiras oficinas, a curadoria elencou profissionais para repassarem esses conhecimentos em cursos ministrados gratuitamente para o público de outras RAs, como Ceilândia e Taguatinga. Até agora, foram 150 pessoas formadas assim. Entre os professores, está Valéria Bonifácio, Rainha de Bateria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Capela Imperial, de Taguatinga.

Criada no samba desde criança e “cria da Associação Recreativa e Cultura Unidos do Cruzeiro (AruC)”, como ela mesma se define, Valéria participou das primeiras oficinas e depois ministrou a aula de “Samba no Pé” em Taguatinga. “Eu me emociono só de falar! Isso plantou uma esperança dentro de nós. Nós precisávamos muito do curso pra gente se atualizar e entender mais sobre o nosso posto de rainha, de coordenadora de passistas, a função da corte, mas também entender mais sobre o Carnaval”.

“Estou representando todas as outras rainhas, todas as passistas, as profissionais do samba. E agora eu falo para elas, porque todas nós temos um sonho e somos representatividade para as outras que virão. Somos fonte inspiradora! A gente tem que ter orgulho da nossa cidade e do nosso trabalho, e esse projeto permite que a gente faça isso.”

DECRETO DE CARNAVAL

Esse cronograma de ações cria expectativas para o carnaval de 2023. Para Luciano Garcia, presidente do Grêmio Recreativo Carnavalesco Unidos de Vicente Pires, essa é oportunidade de fortalecimento e preparação.

“Esses editais vieram para fortalecer nossas comunidades e toda a estrutura das escolas. Assim, os projetos abrangem as pessoas que estão ativas e inativas, fazendo com que participem. É um resgate, uma capacitação que é de suma importância para que em 2023 a gente consiga fazer um desfile maravilhoso para Brasília. É o que o setor espera”, destaca.

“Quando o Estado elabora de uma política, nunca pode pensar onde se está, mas aonde se quer chegar”, explica a subsecretária Sol Montes.

“Hoje, a Secec tem convite de outros estados e até de outros países para apresentar a ideia da Escola de Carnaval. Em julho, vamos ganhar o Prêmio do Carnaval Brasileiro, como a maior iniciativa de gestão pública no Carnaval.”

Assim, com os excelentes resultados, o projeto ganha agora um novo marco e será instituído como uma política de Estado, prevista para ser publicada ainda nos próximos meses.

“O novo Decreto traz a Escola de Carnaval como uma política pública instituída pelo Estado, que vai articular e profissionalizar continuamente toda a cadeia produtiva. A continuidade é a ideia principal, para que o setor se se articule sempre, amplie suas ações e se profissionalize cada vez mais”, antecipa o secretário Bartolomeu Rodrigues.

Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

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