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Brasília

Cresce no DF o número de adolescentes que dizem não ter amigos no ambiente escolar

De acordo com uma pesquisa do IBGE, de 2012 a 2019, a taxa de adolescentes de 13 e 15 anos que disseram não ter amigos próximos cresceu de 3,2% para 4,4% no DF

Redação Jornal de Brasília

25/07/2022 18h21

Foto: Agência Brasil

Por Gabriel de Sousa
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A solidão é uma das grandes barreiras enfrentadas por estudantes que não conseguem se enturmar com seus colegas de salas de aula, o que pode trazer complicações na saúde mental e afetar no rendimento escolar. De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2012 a 2019, o número de adolescentes de 13 a 15 anos que disseram não ter amigos próximos cresceu de 3,2% para 4,4% nas escolas do Distrito Federal.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PeNSE, que foi divulgada no dia 13 de julho e analisa os dados das edições de 2012 até a mais recente, publicada em 2019. De acordo com o estudo, o número de adolescentes que disseram não ter amigos caiu de 3,4% para 3,2% em todo país.

Já no DF, o fenômeno foi diferente, sendo registrado um crescimento de 1,2%, estando acima da média nacional. A pesquisa do IBGE mostra também que, no DF, as meninas são as maiores vítimas da solidão no ambiente escolar, crescendo de 1,8% para 5% o número de estudantes do gênero feminino que dizem não ter amigos.

A realidade apontada pela PeNSE é diferente com os meninos, onde foi apontada uma diminuição do indicativo de solidão escolar. Em 2012, os estudantes que diziam que não tinham amigos correspondiam a 4,9% dos entrevistados. Em 2019, o percentual caiu 1,1%, chegando a 3,8%.

Os números também são diferentes de acordo com a rede de ensino em que os adolescentes estudam. O número de estudantes que estudam nas escolas públicas e dizem não ter amigos corresponde a 5,6% dos entrevistados, e é oito vezes maior do que nas instituições privadas, onde 0,7% dizem ser solitários no ambiente escolar.

Psicólogo reflete sobre o aumento

Em uma entrevista exclusiva para a equipe de reportagem do Jornal de Brasília, o psicólogo Felipe Andrade explica que o aumento do número de estudantes que dizem não ter amigos no DF, pode ser explicado por uma série de fatores, sendo um deles a imersão dos jovens no mundo virtual. “O que contribui mais é o acesso às tecnologias, como celulares, aplicativos, redes sociais, jogos. Isso pode ser um lugar de fuga para estes adolescentes”, explica.

O psicólogo comenta que a disparidade do percentual de estudantes da rede pública e privada de ensino é uma questão social. Segundo ele, muitos estudantes das escolas públicas possuem dificuldades de acesso a itens básicos de subsistência, e são também os que vivem em ambientes onde existem violências, tanto domésticas quanto nas suas comunidades, além de um convívio externo com o tráfico de drogas.

Todos estes fatores, segundo Andrade, influenciam na saúde mental dos jovens, afetando consequentemente a socialização dos adolescentes. “Eu imagino que esse índice é bem maior nas escolas públicas porque ele se esbarra na questão social. Esses alunos da escola pública, geralmente, são alunos que estão convivendo em um ambiente que não contribui muito para uma saúde mental”, afirma o psicólogo.

O especialista reflete que, se houvesse um maior número de políticas pedagógicas nas escolas públicas, que buscassem orientar e acolher os alunos que vivem em uma solidão escolar, talvez, o índice registrado pelo DF na pesquisa do IBGE pudesse ser menor.

Os dados da PeNSE analisam os estudos feitos pelo IBGE de 2012 até 2019. Desta forma, a pesquisa não analisa os impactos que a pandemia de covid-19 proporcionou à solidão escolar dos adolescentes. Com o surgimento do coronavírus, os jovens perderam o contato social dentro das instituições de ensino, ficando reclusos em suas casas durante um longo período de tempo.

De acordo com Felipe Andrade, a pandemia fez com que o número de adolescentes que procuram atendimentos na sua clínica crescesse, sendo que as queixas dos seus pacientes remetem à solidão proporcionada pelo isolamento social. “Se o adolescente já vivia até 2019, em um contexto onde já havia fatores que contribuem para esta solidão e onde nós vivíamos normalmente no pré-pandemia, imagine agora no pós-pandemia onde o pouco daquele contato social já foi retirado?”, reflete o especialista.

Psicóloga observa disparidade da solidão feminina

A psicóloga e psicopedagoga Andrea França, observa que a disparidade da solidão escolar em um recorte de gênero, também pode ser explicada por fatores virtuais. Em sete anos, o número de estudantes mulheres cresceu 3,8%. Já com os garotos, o índice reduziu em 1,1.

Segundo a especialista, as meninas tendem a ter uma pressão social maior, cujas cobranças são relacionadas à sua estética, buscando agradar seus colegas e familiares: “Com isso, fica mais difícil de se enquadrar”.
Neste ponto, França cita que a realidade do mundo virtual, onde o engajamento é buscado em troca de uma aceitação e “popularidade”, pode ser um motivador na solidão das meninas brasilienses. “As redes sociais se tornaram muito importantes para os adolescentes, e veio também maiores cobranças quanto ao número de seguidores e curtidas. As críticas são públicas, o que faz aumentar a sensação de serem mal compreendidas e amadas”, afirma a psicopedagoga.

Andrea alerta que a sensação de solidão pode causar depressão nos adolescentes. A especialista afirma também que notou que aumentaram os casos de automutilação, tentativas de autoextermínio, isolamento, fobia social, ansiedade e pânico. “Isso afeta o social e o desempenho escolar”, pondera.

Neste ponto, é importante que um profissional da saúde seja procurado, para que o adolescente seja assistido, tendo a sua saúde mental tratada e melhorada. “O trabalho do psicólogo visa trabalhar a auto estima e confiança. Nessa idade, o social e a aprovação dos amigos é importante, mas desenvolver a personalidade e a confiança é essencial nesse período da vida”, afirma França.

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