Por Larissa Barros
Com a volta das chuvas no Distrito Federal, cresce o alerta para o risco de picadas de escorpião. A água que invade bueiros, caixas de energia e redes de esgoto faz com que os animais deixem seus esconderijos em busca de locais mais secos, e o destino, muitas vezes, são as residências.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), até a semana epidemiológica 41, encerrada em 11 de outubro, foram notificados 4.212 acidentes por animais peçonhentos no DF. Desse total, 3.556 casos (84,4%) foram provocados por escorpiões. Todos os registros são de moradores do Distrito Federal.
Em 2024, os acidentes envolvendo escorpiões representaram 86,1% do total de ocorrências, com 3.517 casos. A maioria das vítimas tinham entre 20 e 49 anos, e a distribuição entre homens e mulheres era equilibrada. Conforme o boletim da SES, 90,7% dos casos foram classificados como leves, 7,2% como moderados e 1,2% como graves. Entre os acidentes mais graves, 69% envolveram crianças menores de 10 anos, todas as vítimas graves receberam soro antiescorpiônico.
Os escorpiões são animais noturnos e sensíveis às variações de temperatura. Durante o frio, reduzem o metabolismo e permanecem mais escondidos. Com o aumento da temperatura e a chegada das chuvas, tornam-se mais ativos e tendem a aparecer com maior frequência. Segundo a SES, os casos começam a crescer a partir de agosto, atingindo o pico entre outubro e dezembro, embora ocorram durante todo o ano.
“Durante o clima chuvoso, animais peçonhentos como escorpiões e aranhas saem em busca de locais secos para se abrigarem. Muitas vezes, esses abrigos estão no interior das residências, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de acidentes”, explica a pasta.
O fenômeno não é exclusivo do DF. Em todo o país, o número de acidentes com escorpiões tem aumentado. Especialistas apontam fatores como mudanças climáticas, que criam condições ideais para a reprodução, períodos de seca seguidos de chuvas intensas, que forçam os animais a buscar refúgios, e o crescimento desordenado das cidades, que destrói habitats naturais e favorece a presença dos escorpiões em áreas urbanas.
Além disso, o saneamento básico insuficiente e o armazenamento incorreto de lixo e entulho ampliam a oferta de esconderijos e de alimentos, especialmente baratas, o principal alimento desses animais. A expansão da construção civil, com transporte e acúmulo de materiais, também facilita a dispersão e a reprodução dos escorpiões.
Para conter o avanço, a Secretaria de Saúde realiza inspeções domiciliares a partir de demandas da população. Durante as visitas, as equipes identificam possíveis esconderijos e orientam os moradores sobre medidas de prevenção, como instalar rodos de vedação nas portas, colocar telas nos ralos, controlar baratas e evitar o acúmulo de entulho ou restos de construção. Também é importante vistoriar sapatos, roupas e toalhas antes do uso e manter camas, berços e sofás afastados das paredes.
A SES atua nas áreas com maior infestação por meio de ações de controle e manejo ambiental, que incluem captura de animais, busca ativa e modificações no ambiente para torná-lo desfavorável à presença dos escorpiões.
Em caso de picada, a orientação é lavar o local com água e sabão, elevar o membro afetado e procurar atendimento médico imediatamente. Se possível, tire uma foto do animal para auxiliar na identificação, mas sem tentar capturá-lo. Os moradores podem acionar a Vigilância Ambiental pelos números 160 ou pelo e-mail gevapac.dival@gmail.com para solicitar inspeção domiciliar. Após o agendamento, uma equipe realiza a coleta dos animais e orienta sobre a prevenção de novos incidentes.
No DF, o atendimento a vítimas de picada de escorpião é realizado em unidades da rede pública, como o Hospital Materno Infantil de Brasília, Hospital Regional da Asa Norte, Guará, Ceilândia, Gama, Santa Maria, Planaltina, Sobradinho, Taguatinga, Brazlândia e Hospital da Região Leste (Paranoá).
Em situações de emergência, é possível acionar o SAMU (192) ou o Corpo de Bombeiros (193). A Secretaria conta ainda com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox/Samu), que funciona 24 horas e oferece orientações à população. Os contatos são 0800 644 6774 ou (61) 99288-9358.
Segundo relatório da SES, o escorpionismo, nome técnico dado ao envenenamento pela picada, pode ser causado por diferentes espécies. No DF, as mais comuns são o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), o escorpião de patas rajadas (Tityus fasciolatus) e o escorpião-preto (Bothriurus araguayae).