A Páscoa das famílias brasilienses é menos recheada este ano. O motivo é o cenário de crise econômica que toma conta do País e, claro, afeta o bolso do consumidor. No comércio, o feriado também não cumpriu as expectativas. Pelo contrário: as vendas despencaram em relação ao ano passado. Diante das dificuldades, o setor teve de apostar em promoções para amenizar a situação.
Nas ruas, a insatisfação dos lojistas e dos próprios clientes era unânime ontem, véspera da data. Para o gerente do supermercado Veneza, no Cruzeiro, Givanildo de Aguiar, se o lucro empatar com o resultado da Páscoa anterior, isso já será motivo de comemoração. “Todo ano, nós superamos a expectativa de crescimento. Desta vez, se conseguirmos chegar a 5%, que é o aumento previsto para as vendas, já estamos felizes”, lamenta ele, que, coincidentemente, anunciava no microfone a queda no preço dos ovos.
Givanildo conta que a saída foi apostar em promoções, brindes e novas facilidades de pagamento. De acordo com ele, muitos chocolates ganharam 30% de desconto, que pode, inclusive, chegar a 50% se for preciso. “Acabei de anunciar um ovo que estava R$ 39,90 por R$ 28,90 e outro infantil que estava R$ 28,90 por R$ 20,90. Mesmo assim, os clientes estão muito inseguros diante da crise”, afirma o gerente, explicando que está com os estoques zerados, pois pediu 7% menos produtos que em 2014.
“Preços absurdos”
Segundo a geógrafa Liana Bastos, 50 anos, que foi com a filha Clara, 6, ao supermercado, os preços estão absurdos em todas as lojas, e não é à toa que as vendas caíram. “Ano passado eu comprei ovo para a família inteira. Este ano, levei apenas dois para as minhas filhas, está impossível”, compara.
A funcionária pública Dioneide Campos Lopes também adquiriu menos chocolate dessa vez. Em 2014, ela pagou por 18 ovos, enquanto que agora levou quatro unidades para casa. “Até no supermercado os preços estão altíssimos. O brasileiro não tem mais condições de gastar como antes”, conclui.
Menos gente a presentear
A artesã Izaíra Aparecida Teixeira, 30 anos, também diminuiu os gastos. Ela foi com o marido, o professor Carlos Teixeira, 40, e o filho Bernardo, 2, comprar o que faltava para a Páscoa em uma loja especializada. “Nesta Páscoa terá chocolate somente para nós três. O resto dos parentes vai ganhar lembranças mais baratas, assim como em outras famílias. Sei disso, pois trabalho com presentes e já confeccionei vários essa semana de pessoas que não vão gastar com ovos”, conta.
Para Izaíra, os brasilienses estão buscando um jeito de economizar. “Tem muita gente comprando bombons separados e levando para eu transformar em lembranças de Páscoa, ou apostando em produtos que não sejam o doce”, completa.
A família do chaveiro Jozias Lopes, 40, também deixou as compras de Páscoa para a última hora. Apenas as crianças vão ganhar chocolate. “Estou me controlando e fazendo de tudo para comprar menos. No ano passado gastei muito”, afirma.
Movimentação na última hora
Para Fernanda Santana, proprietária de uma franquia da Cacau Show, no Sudoeste, o fato de a Páscoa cair no início do mês também dificultou, além de influenciar os clientes a deixar tudo para a última hora.
“Desde o início de março temos produtos na loja, mas apenas nas duas últimas semanas que o movimento começou. Recebo muitos clientes explicando que estavam esperando fechar o cartão de crédito do mês ou o salário sair para começar a comprar os ovos”, afirma.
Ainda assim, Fernanda conta que a preferência do consumidor é pela promoção atual: paga dois ovos clássicos e leva três. “Não tem como negar que este ano está pior que no ano passado. É claro que as pessoas não deixaram de comprar por causa da crise, mas estão comprando menos, com certeza. Até as empresas corporativas, que sempre compravam lembranças comigo, desistiram de presentear seus funcionários”, lamenta a proprietária. A média de preço dos ovos tradicionais é de R$ 30. Já os trufados custam, em média, R$ 50.
Mesmo assim, ela admite estar confiante. “Ano passado, eu não tive nenhuma sobra no estoque e, como esses últimos dias estão bastante movimentados, também espero conseguir zerar”, diz.
Fernanda conta que, normalmente, não precisa contratar funcionários temporários. “Ano passado, tive a apenas a ajuda do meu sobrinho e agora também”.
Crise afetou a data para lojistas
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Edson de Castro, admite que a crise afetou a Páscoa. Ele informa que, enquanto a expectativa de crescimento para este ano é de 3% e 120 empregos temporários, nos anos anteriores o número era maior, entre 6% e 7% e cerca de 500 empregos.
“O cenário não é bom e as pessoas estão mais conscientes, tanto que o valor gasto pelas famílias na Páscoa caiu, em média, de R$ 90 para R$ 80”, afirma Edson.
Ele ressalta que os ovos acompanharam a inflação, mas que o aumento foi pequeno, entre 6,5% e 7%. “Não foi nada absurdo, mas, ainda assim, o comércio teve de encontrar saídas para tentar diminuir o impacto da crise. Diante disso, a indústria produziu ovos no valor de R$ 5 até, no máximo, R$ 300. Já na Páscoa anterior, o preço chegou a R$ 1 mil”, diz.
Ovos menores
Além disso, o setor aumentou a produção de ovos, mas com tamanhos menores. Segundo ele, o comércio deverá vender 1,7 milhão este ano, número maior que em 2014, quando as vendas chegaram a 1,6 milhão. “Também não podemos esquecer do crescimento dos ovos artesanais. Outras medidas adotadas pelo setor são as grandes promoções e, principalmente, as facilidades de parcelamento. Tudo isso é necessário quando os consumidores se mostram inseguros e o cenário é negativo”, conclui.