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Brasília

Brasília já foi um grande oceano

Capital federal era como um grande Himalaia, com montanhas de até 8 mil metros de altura

Redação Jornal de Brasília

21/02/2022 20h19

Crédito: Gabriel de Sousa/Jornal de Brasília

Por Gabriel de Sousa
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A identificação de vestígios arqueológicos, supostamente datados de até 12 mil anos atrás, em Planaltina (DF), conforme mostrou ontem a primeira matéria desta série, trouxe à tona uma série de questões sobre a história do Distrito Federal.

Segundo pesquisadores, o Distrito Federal(DF) que conhecemos hoje já foi muito diferente do que era no passado. Há milhares de anos, antes da criação da capital federal, ou da fixação das primeiras fazendas, a região já havia sido habitada por a presença de povos indígenas que nos deixaram um grande número de vestígios e lembranças de suas vidas no Planalto Central.

Oceano

Porém, muito antes da existência dos primeiros seres humanos na região, há cerca de um bilhão de anos, a região onde hoje fica o Distrito Federal estava localizada no fundo de um grande oceano.

Desde a fundação da capital federal, especialistas já suspeitavam da possibilidade de ter existido um grande mar sobre o Planalto Central.

Mas foi em 2010, através de um estudo feito por geólogos da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), que se constatou definitivamente que o território da capital federal era um grande mar cercado de três grandes continentes.

Com a conclusão da pesquisa, o antigo oceano, que tinha as dimensões do Atlântico atual, recebeu duas sugestões de nomes pelos especialistas. As sugestões dadas foram “Brasilides”, em referência ao nome do nosso país, e “Goyaz”, em homenagem aos goyazes, povo que habitava a região Centro-Oeste durante o período colonial.

De acordo com o geólogo e professor de paleontologia, Henrique Zimmermann, as evidências deste grande mar antigo podem ser encontradas com facilidade pelos brasilienses, ao analisar a presença de sobreposições nos solos do cerrado. “A coisa mais nítida é quando a pessoa que olha para as rochas do Distrito Federal enxerga a presença de camadas. Essas camadas são as que existiam no fundo do oceano”, afirma.

O paleontólogo e geólogo explica que essas camadas eram compostas por areia e argila que compuseram o fundo do oceano. Nesse grande mar, viveram as cianobactérias, que podem até mesmo ser consideradas as primeiras vidas brasilienses. “São um dos primeiros seres que já existiram lá no início. São unicelulares, mas elas formam colônias, que se juntam e parecem com um colar de pérolas”, explica.

O surgimento desses seres vivos, que são produtores de oxigênio, causou uma grande mudança biológica no planeta. Elas foram responsáveis por dar origem à atmosfera e às condições adequadas para o surgimento de formas mais complexas de vida.

É possível encontrar fósseis desses seres no Distrito Federal. Registros de cianobactérias petrificadas estão presentes nas pedras de calcário da região administrativa da Fercal, e atualmente servem como objeto de estudopara os especialistas que pesquisam sobre a existência do grande oceano que já esteve em cima de Brasília.

Outro fato pouco conhecido pela população é que o DF já fez parte de uma grande cadeia de montanhas de 8 mil metros de altura, há cerca de 600 milhões de anos. Essa cordilheira, chamada pelos especialistas como “Himalaia Brasileiro”, tinha quase 1.500 quilômetros de extensão, se estendendo do sul do estado do Tocantins até chegar ao sul de Minas Gerais.

Um olhar mais atento às evidências

Durante uma expedição no Parque Colônia Agrícola de Planaltina acompanhada pela equipe de reportagem do Jornal de Brasília, e pelo professor Adeilton Oliveira, que encontrou os objetos arqueológicos em Planaltina(DF), Henrique Zimmermann explicou que os pequenos morros que fazem parte da paisagem do Distrito Federal são nada mais que a base dessa cordilheira que antes existiu por aqui.

“A erosão da chuva e do vento vai destruindo essas montanhas, então elas foram todas recortadas e erodidas”, afirma o especialista, enquanto vai mostrando in loco as evidências desta teoria científica.

Zimmermann explica, ainda, que o antigo oceano tem uma relação direta com a criação dessas grandes montanhas. Ele acrescenta que, com a junção de antigas placas tectônicas que cercavam o mar, um grande choque entre os continentes originou a criação da grande cordilheira que, ao se formar, acabou com o antigo mar.

O paleontólogo observou também que, até os dias atuais, podemos ver as “cicatrizes” desse choque no chão do Distrito Federal: “ Quando vemos algumas pedras que possuem linhas, o que é comum por aqui, é isso que nos mostra o que aconteceu lá atrás, há milhões de anos.

Além disso, complementa, o fato de muitas camadas de rochas estarem dobradas no chão também é uma evidência de que teria ocorrido, de fato, uma junção de continentes. Este fenômeno fez com que elas ficassem deformadas e comprimidas, formando uma cadeia montanhosa”, concluiu o especialista.

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