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Brasília

Autora brasiliense participa de livro que reu?ne artigos de escritores negros

U?nica autora de Brasi?lia, jornalista Carolina Martins assina capi?tulo sobre maternidade afrocentrada

Mayra Dias

30/05/2022 19h44

Foto: Divulgação

Justamente no momento em que o Congresso está debatendo formas de tornar mais dura a pena para o crime de injúria racial, é lançado, em Brasília, o livro TINHA QUE SER PRETO, que surge como mais uma potente ferramenta para fortalecer o debate antirracista e reúne autores para debater assuntos que vão desde cinema à saúde mental, todos atravessados pela discussão racial. “A expectativa é que esta publicação seja usada como mais uma ferramenta na luta antirracista, por aqueles que já entendem a urgência desse debate; e que possa sensibilizar para essa causa quem ainda acredita no mito da democracia racial”, afirma Carolina Martins, jornalista e única brasiliense que assina a obra. 

O livro reúne 25 artigos de escritoras e escritores negros, e os temas percorrem desde o acesso ao mercado de trabalho e à educação, até a relação com o cabelo, a descolonização dos afetos e a representação no audiovisual. O objetivo, desta forma, é ressignificar a expressão que dá título ao livro “TINHA QUE SER PRETO”, revelando como pessoas negras se destacam em todas as áreas profissionais, apesar do preconceito. “O livro é um panorama muito amplo sobre a vivência de pessoas negras no Brasil – como se sentem, as perspectivas sobre as áreas em que atuam, os obstáculos que enfrentam, a forma como as experiências se cruzam e a resistência intrínseca em cada um de nós”, defende a autora candanga. 

Representando a capital, Carolina declara que “todas as pessoas que estiverem dispostas a furar a bolha social em que vivem vão aprender e absorver muito sobre a cultura do povo que ergueu e que ainda sustenta esse país”. De acordo com a autora, que assina um artigo sobre matripotência (conceito da filosofia africana para a força de transformação gerada pela maternidade) o conteúdo do livro busca ressignificar a expressão, usada em tom pejorativo para desclassificar o trabalho feito por pessoas negras. “Utilizando a expressão criada por Conceição Evaristo, são escrevivências do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida de um povo que reivindica seu espaço como autor da própria história”, compartilha Carolina. 

Mãe de um menino de três anos, a jornalista, formada pela Universidade de Brasília, usa o seu capítulo para falar sobre o entendimento de aldeia no cuidado com as crianças e sobre a possibilidade de resgate que a maternidade afrocentrada representa. “A oportunidade de cuidar do próprio filho foi, e ainda é, retirada de muitas mulheres negras na nossa sociedade”, comenta. “Escravizadas, deixaram de amamentar suas crianças para servirem como amas de leite. Hoje em dia, muitas precisam deixar os filhos em casa para serem babás de outras crianças. Como mulher negra, criar meu filho e falar sobre maternidade preta é uma forma de reparação histórica”, conclui. 

Conforme pontua a brasiliense, a ideia surgiu em 2020, em um momento em que a discussão racial dominava o noticiário no Brasil e no mundo, a partir de crimes violentos motivados por racismo “como o estrangulamento de George Floyd nos EUA”, relembra a escritora. O livro, desta forma, seria uma forma de mostrar a necessidade de pertencimento da população negra, que precisa ser retratada para além das estatísticas de morte. “É uma forma de mostrar nossas especialidades, em diversas áreas profissionais, e de apoiar o protagonismo negro”, acrescenta Carolina Martins. 

O momento ideal 

Para ela, a publicação da obra chega em um ótimo momento, haja vista que Deputados e senadores também podem ter que revisar a Lei de Cotas, que completa dez anos em agosto. “Tudo isso em um ano eleitoral, em que a população é convocada a refletir sobre que tipo de sociedade quer construir. A temática racial não pode mais ser um tabu”, argumenta. A jornalista destaca ainda que, no Brasil, há a maior população negra fora do continente africano, “somos mais da metade do país, e continuamos sendo tratados e retratados de forma subalternizada”, lamenta, salientando a urgência do debate antirracista. 

O convite, como conta a autora, chegou no primeiro ano da pandemia, um período marcado por incertezas e um momento onde todos se perguntavam até que ponto era possível fazer planos ousados para o futuro. “Eu estava vivendo em isolamento restrito, trabalhando de casa, dividindo a sala de estar entre um estúdio caseiro de rádio e os brinquedos do meu filho que tinha acabado de completar 1 ano”, relembra.

“Era uma grande loucura! Mas, ironicamente, parecia o momento ideal para me dedicar à escrita, que sempre funcionou como um escape pra mim”, continuou. Carolina revela que, com as inúmeras possibilidades de curso à distância que surgiram, coincidentemente, ela estava fazendo um sobre filosofia africana e se encontrando com o conceito de matripotência. “Foi assim que decidi escrever sobre maternidade afrocentrada e sobre as particularidades da experiência de ser uma mulher negra, mãe de uma criança negra, num país marcado pelo racismo”, declara.

Esse universo, contudo, não é novidade para Carolina. A repórter, com 12 anos de experiência em cobertura política, foi produtora e coapresentadora do programa CBN Brasília, onde idealizou o quadro “Virei Mãe” para discutir questões da saúde da mulher e da maternidade. Pesquisadora e apresentadora do podcast “Geração 4P”, que debate cultura, entretenimento e política com o recorte de raça.

Ser uma voz de Brasília nessa publicação, é, portanto, como ela salienta, uma ótima oportunidade de lembrar que a capital do país também é uma cidade majoritariamente negra, apesar de não ser retratada assim. “Além de ser um bom momento de chamar atenção para o fato de que no DF, como em todo país, há pessoas negras engajadas e trabalhando pela conscientização racial – que precisam de espaço e precisam ser ouvidas”, pondera.

Não para por aí 

De acordo com o que revela Carolina, os planos para o futuro não se limitam a este lançamento. “Felizmente, há planos para mais livros discutindo a pluralidade de vozes e de vivências. Estou na coordenação editorial de uma publicação, prevista para ser lançada ainda este ano, que reúne o relato de diversas mulheres sobre a maternidade e suas diferentes realidades”, anuncia a jornalista.

São situações que englobam mães atípicas, de anjos, com depressão, mães que cuidam sozinhas dos filhos e mães de pandemia. “É um livro importante para desmistificar o ditado de que ‘mãe é tudo igual’. Certamente, o debate racial também passa por essa discussão. E além das publicações, estou produzindo a segunda edição do Festival Afro Urbano, que reúne literatura, artes visuais e música de artistas negros do Distrito Federal”, finaliza.

O lançamento acontece dia 04/06 (sábado), no Verri Gastronomia (215 norte), com a presença da jornalista para uma tarde de autógrafos. A publicação estará à venda no local.

Serviço

Lançamento TINHA QUE SER PRETO

Data: 04/06 – sábado

Horário: 16h

Local: Verri Gastronomia – 215 norte Mais informações: 61 98108-3235 Realização: Cassangue Produções

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