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Brasília

Autor de esfaqueamento de motorista de aplicativo em Ceilândia é preso pela PCDF

Delegado descarta tentativa de latrocínio e diz que crime foi motivado por surto e desespero do suspeito

Amanda Karolyne

27/10/2025 19h56

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Foto: Amanda Karolyne 

Identificado como Gerlielson de Jesus, 41 anos, o suspeito de esfaquear o motorista de aplicativo Elias Alves dos Santos Filho, 37 anos, foi preso pela  Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). O acusado se apresentou à 15ª Delegacia de Polícia de Ceilândia, nesta segunda-feira. Durante uma corrida na madrugada de domingo, Gerlielson atacou o condutor do carro com um canivete. A investigação, batizada de Operação Percurso Final, identificou o autor após cruzar dados do aplicativo e depoimentos de testemunhas.

O delegado-chefe da 15ª João Ataliba Neto explicou que, inicialmente, o caso foi tratado como uma tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte), mas as investigações afastaram essa hipótese. “Quando recebemos a ocorrência, imaginamos que fosse uma tentativa de roubo, o que é muito comum em casos envolvendo motoristas de aplicativo. Mas no decorrer da apuração vimos que não havia intenção de subtração de bens. O autor sequer levou nada e deixou a própria mochila dentro do carro”, disse.

Segundo Ataliba, a corrida havia sido solicitada em Águas Lindas (GO) com destino ao Recanto das Emas, onde o suspeito mora. A solicitação foi feita no aplicativo irmão dele, a pedido do próprio autor, após uma confraternização familiar. “Durante o trajeto, o motorista desviou um pouco da rota e o passageiro, que havia ingerido bebidas alcoólicas, entrou em pânico. Ele disse que acreditou que seria assaltado ou morto, pegou um canivete na mochila e desferiu um golpe no pescoço da vítima”, explicou o delegado.

Após o ataque, o motorista ainda resistiu e conseguiu continuar dirigindo por alguns metros até perder o controle do veículo e colidir contra um poste em frente ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde recebeu os primeiros socorros.

O suspeito fugiu depois de cometer o crime, e como descreveu o delegado, se escondeu em uma área de mata em Taguatinga, de onde enviou mensagens ao irmão confessando o crime e pedindo para o mesmo o buscar. “Ele contou que achou que seria vítima de um assalto e que acabou esfaqueando o motorista. Depois foi resgatado, passou a noite em casa, jogou as roupas fora e se apresentou na delegacia com dois advogados”, contou Ataliba. As roupas utilizadas no crime foram localizadas e apreendidas pelos investigadores.

A partir das provas reunidas, a 15ª DP representou pela prisão preventiva do homem, que foi indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificado, pelo uso de meio cruel e por impossibilitar a defesa da vítima. “Ele não tem antecedentes policiais, é o primeiro crime em que se envolve, mas é um caso grave. Agora ele fica à disposição da Justiça enquanto o inquérito segue”, afirmou o delegado.

Marcelo de Mateu, advogado de Gerlielson, afirmou que o cliente se apresentou espontaneamente à Justiça para colaborar com o processo. “Ele é trabalhador, tem 41 anos, nunca foi preso e trabalha no supermercado como açougueiro. A mudança de rota do motorista o assustou, ele entrou em pânico e cometeu o ato, mas não houve tentativa de latrocínio”, disse. O advogado acrescentou que ele está assustado com a situação, especialmente pelo estado grave do motorista, mas mantém que não houve intenção de roubo.

Família relata luta pela vida de motorista esfaqueado em corrida de aplicativo

Elias é encarregado de construção civil e trabalha como motorista para complementar a renda. Ele é casado e tem uma filha de 11 anos. O cunhado de Elias Alves dos Santos Filho, Esdras Albuquerque, contou que o motorista passou por momentos críticos após ser esfaqueado na altura do pescoço durante uma corrida. “Ele perdeu muito sangue, passou por transfusão e precisou de uma cirurgia de emergência para estancar a hemorragia”, relatou. Segundo Esdras, Elias foi transferido na noite de domingo (26) para um leito de UTI no mesmo hospital onde estava internado. “Ele não morreu pela graça de Deus. Pode falar que foi sorte, mas pra gente foi Deus”, completou.

Esdras relatou que o cunhado ainda conseguiu dirigir por alguns metros após o ataque, mas perdeu o controle do carro e bateu em um poste. “O carro apagou umas duas, três vezes. Quando ele conseguiu ligar, saiu furando os semáforos até colidir com o poste. Ele já estava perdendo a consciência, porque perdeu muito sangue”, contou. A colisão, segundo Esdras, foi o que salvou a vida do motorista, pois chamou a atenção de quem passava pelo local. “O socorro foi muito rápido, tinha uma equipe do Corpo de Bombeiros próxima. Eles chegaram em menos de três minutos”, disse.

Elias passou por uma cirurgia de cerca de três horas e segue internado em estado grave, mas estável. “Ele está entubado, mas respira com ajuda de aparelhos. Chegou ao hospital consciente e chegou a caminhar até a maca”, afirmou o cunhado. Ainda segundo Esdras, os médicos investigam possíveis lesões no pescoço. “Agora é só pedir a Deus para as coisas darem certo”, finalizou.

As últimas atualizações, segundo Esdras, indicam que após a realização das tomografias, foram descartadas perfurações no esôfago e na traqueia. Além disso, qualquer comprometimento neurológico e da medula também foram quadros descartados pelos médicos. 

Motoristas de aplicativo vivem clima de medo após novos casos de violência no DF

Casos de violência contra motoristas de aplicativo têm deixado os profissionais da área assustados. O mais recente, que chocou a população, foi o de Elias. Entretanto, ainda neste mês, outro motorista de aplicativo, o policial penal Henrique André Venturini, de 57 anos, morreu após uma tentativa de assalto durante uma corrida.

Com uma década de experiência ao volante, o motorista de aplicativo Jair Almeida, 52 anos, diz que o medo é um sentimento constante de quem segue esse ofício. Ele afirma já ter passado por situações de violência nas corridas, inclusive chegou a ser ameaçado. “Já tive arma na cabeça, já me ameaçaram com faca na cabeça. A gente passa por situações de risco a todo momento”, relatou. Segundo ele, motoristas mais experientes costumam alertar os novatos sobre áreas perigosas e formas de evitar situações de violência. 

Jair está aflito pelo crime ocorrido com o motorista Elias em Ceilândia. Ele afirma que a categoria está mobilizada para buscar mais proteção e reconhecimento profissional. “Nós estamos lutando há anos por mais segurança e por uma regulamentação justa. Hoje não existe nenhuma lei que nos ampare, e o resultado é esse: colegas feridos ou mortos trabalhando”, afirmou. Ele lembra que há mais de 170 projetos tramitando no Congresso para criar a profissão de motorista de aplicativo e estabelecer regras que garantam mais dignidade e segurança à categoria.

Como ele afirmou, casos assim não são de hoje, infelizmente. Ele citou que vem lutando desde 2018, quando aumentaram os ataques contra a classe. O motorista também citou colegas vítimas de crimes, como uma amiga que foi violentada sexualmente há três anos e o agente penal Henrique Venturini, morto durante uma corrida no Riacho Fundo. “A gente sabe que tem uma série de situações de risco eminentes a todo momento, de assalto, sequestro, estupro, entre outros.”

No dia 13 de outubro, o policial penal Henrique André Venturini foi encontrado morto dentro de um veículo na QS 8, no Recanto das Emas. Ele atuava como motorista de aplicativo na ocasião e teria sido atingido pelo disparo que ele mesmo deu contra os passageiros, após reagir a uma tentativa de assalto. Outro caso aconteceu no dia 27 de setembro, quando uma motorista de aplicativo, a Gabriela, de 28 anos, levou um tiro em uma outra tentativa de assalto, mas desta vez, na quadra 27 do Gama Oeste. Gabriela sobreviveu ao ataque. Mais um caso, foi o de um motorista de 31 anos, que no dia 7 de setembro foi esfaqueado no pescoço por uma mulher de 18 anos, lá havia negado pagar a corrida e foi presa em flagrante pela PCDF. 

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