Menu
Brasília

Apagão das redes expõe dependência da internet

Além dos prejuízos financeiros para quem trabalha com os apps, usuários se sentiram “sem rumo” sem WhatsApp

Redação Jornal de Brasília

06/10/2021 7h38

Foto: Agência Brasil

Por Gabriel Sousa
[email protected]

O apagão do WhatsApp, Facebook e Instagram, que perdurou por aproximadamente 8 horas na segunda-feira passada, ocasionou sérios prejuízos para pequenos comerciantes, grandes empresas e pessoas que necessitam da comunicação virtual para sobreviver. Segundo o Procon, pessoas que utilizam o serviço para trabalhar, podem processar o grupo empresarial comandado por Mark Zuckerberg, que domina a mídia comunicativa virtual, gerenciando os três aplicativos que somados, possuem quase 5 bilhões de usuários.

Em entrevista à CNN Rádio, o especialista em segurança digital, Marcus Garcia, classificou o erro como humano e catastrófico. A afirmação contrasta com a nota oficial do Grupo Facebook, que afirmou que os erros foram dentro de seus sistemas. O defeito mundial fez com que Zuckerberg perdesse 6 bilhões de dólares, aproximadamente 5% da sua fortuna, que era avaliada em US $127 bilhões. De acordo com a Forbes, Zuckerberg, que até o domingo era o terceiro homem com a maior fortuna do planeta, foi ultrapassado por Bill Gates durante o “Blackout de 4 de outubro”, e agora é o quarto homem mais rico do globo.

Porém, além dos questionamentos sobre as perdas financeiras bilionárias ocasionadas pela simples “pane” no sistema comandado por um só homem, o apagão que durou menos que um terço da segunda-feira, 4 de outubro de 2021, fez com que os questionamentos acerca da dependência aos métodos virtuais de interação humana fossem postos à tona por usuários e especialistas.

A estudante de filosofia na Universidade de Brasília, Marília das Neves, afirma que a falta do WhatsApp fez com que o seu dia, que até de manhã estava tranquilo, tivesse obstáculos para o seu convívio social. “O WhatsApp e o Instagram fazem parte da nossa vida, e quando ele cai, a gente perde o contato com todo mundo, e a gente fica sem saber o que fazer, para onde ir e qual rumo tomar”, observa.

A UnB, instituição onde Marília estuda, está com aulas em formato virtual desde o início da pandemia de covid-19, em março de 2020. Sem o WhatsApp, a estudante ficou sem poder se comunicar com os colegas da sua faculdade. As tentativas de contato durante o período do apagão foram feitas pelo Twitter. “Encontrei dificuldade em me comunicar com minha aluna, durante a nossa aula particular. Nossa dinâmica de aula teve um atraso por causa da instabilidade do meu WhatsApp.”

Outro estudante da universidade que utiliza a ferramenta constantemente é Caio Castro Lins, aluno de engenharia, que usa o WhatsApp para se comunicar com a equipe da empresa em que é funcionário, sua namorada e a sua família. Com a ausência do aplicativo durante oito horas, Caio diz ter se sentido excluído e bastante preocupado com o bem-estar da companheira e com os andamentos do seu trabalho. “Fiquei aflito, preocupado, ansioso e não conseguia comer e nem beber água direito. Mas assim que ele voltou ao ar, parece que todos os problemas se solucionaram, e a minha vida voltou ao normal”, afirma Caio. Reflexivo, o futuro engenheiro admite que a sua reação ao apagão do “Zap” pode ser a demonstração de um vício.

De acordo com a psicóloga Keila Cardoso, as reações à pane foram uma amostra de como a interação humana é refém da vida virtual. “Já não é nenhuma novidade que estamos nos tornando seres cada vez mais inertes neste mundo digital. No nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, nos nossos estudos, e até mesmo coisas extremamente pessoais na nossa trajetória.”

No Twitter, milhares de memes ironizando e questionando a pane da tríade de aplicativos do grupo de Mark Zuckerberg eram postados a cada minuto. Junto aos memes, usuários postaram que a paralisação dos sistemas do WhatsApp seria benéfico para a sociedade humana, pois voltaria à comunicação “olho por olho”, uma referência à interação presencial entre as pessoas, que foi consideravelmente diminuída por conta da pandemia.

Durante o período do apagão, na tarde desta segunda-feira (4),a psicóloga Keila observou que a opinião das pessoas próximas à ela fazia parecer com que a vida normal tivesse sido paralisada. “Eu ouvi relatos de pessoas próximas a mim que diziam que com essa queda não saberiam o que fazer, que o dia estava incompleto, que não conseguiram falar com ninguém e que se sentiram fazendo nada. Com essas coisas que eu ouvi, eu confesso que eu percebi o quanto que a gente reduz a nossa trajetória às redes”, observa.

A especialista afirma que a experiência neste mundo digital vivido pela sociedade nos últimos anos, principalmente após o isolamento social, fez com que os seres humanos reduzissem as suas vidas aos feeds, stories, publicações e likes. “As coisas vão perdendo os valores, a gente não consegue mais se comunicar como antes e viver como a gente vivia antes, porque tudo está reduzido de fato às telas.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado