Por Gabriel Sousa
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O apagão do WhatsApp, Facebook e Instagram, que perdurou por aproximadamente 8 horas na segunda-feira passada, ocasionou sérios prejuízos para pequenos comerciantes, grandes empresas e pessoas que necessitam da comunicação virtual para sobreviver. Segundo o Procon, pessoas que utilizam o serviço para trabalhar, podem processar o grupo empresarial comandado por Mark Zuckerberg, que domina a mídia comunicativa virtual, gerenciando os três aplicativos que somados, possuem quase 5 bilhões de usuários.
Em entrevista à CNN Rádio, o especialista em segurança digital, Marcus Garcia, classificou o erro como humano e catastrófico. A afirmação contrasta com a nota oficial do Grupo Facebook, que afirmou que os erros foram dentro de seus sistemas. O defeito mundial fez com que Zuckerberg perdesse 6 bilhões de dólares, aproximadamente 5% da sua fortuna, que era avaliada em US $127 bilhões. De acordo com a Forbes, Zuckerberg, que até o domingo era o terceiro homem com a maior fortuna do planeta, foi ultrapassado por Bill Gates durante o “Blackout de 4 de outubro”, e agora é o quarto homem mais rico do globo.
Porém, além dos questionamentos sobre as perdas financeiras bilionárias ocasionadas pela simples “pane” no sistema comandado por um só homem, o apagão que durou menos que um terço da segunda-feira, 4 de outubro de 2021, fez com que os questionamentos acerca da dependência aos métodos virtuais de interação humana fossem postos à tona por usuários e especialistas.
A estudante de filosofia na Universidade de Brasília, Marília das Neves, afirma que a falta do WhatsApp fez com que o seu dia, que até de manhã estava tranquilo, tivesse obstáculos para o seu convívio social. “O WhatsApp e o Instagram fazem parte da nossa vida, e quando ele cai, a gente perde o contato com todo mundo, e a gente fica sem saber o que fazer, para onde ir e qual rumo tomar”, observa.
A UnB, instituição onde Marília estuda, está com aulas em formato virtual desde o início da pandemia de covid-19, em março de 2020. Sem o WhatsApp, a estudante ficou sem poder se comunicar com os colegas da sua faculdade. As tentativas de contato durante o período do apagão foram feitas pelo Twitter. “Encontrei dificuldade em me comunicar com minha aluna, durante a nossa aula particular. Nossa dinâmica de aula teve um atraso por causa da instabilidade do meu WhatsApp.”
Outro estudante da universidade que utiliza a ferramenta constantemente é Caio Castro Lins, aluno de engenharia, que usa o WhatsApp para se comunicar com a equipe da empresa em que é funcionário, sua namorada e a sua família. Com a ausência do aplicativo durante oito horas, Caio diz ter se sentido excluído e bastante preocupado com o bem-estar da companheira e com os andamentos do seu trabalho. “Fiquei aflito, preocupado, ansioso e não conseguia comer e nem beber água direito. Mas assim que ele voltou ao ar, parece que todos os problemas se solucionaram, e a minha vida voltou ao normal”, afirma Caio. Reflexivo, o futuro engenheiro admite que a sua reação ao apagão do “Zap” pode ser a demonstração de um vício.
De acordo com a psicóloga Keila Cardoso, as reações à pane foram uma amostra de como a interação humana é refém da vida virtual. “Já não é nenhuma novidade que estamos nos tornando seres cada vez mais inertes neste mundo digital. No nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, nos nossos estudos, e até mesmo coisas extremamente pessoais na nossa trajetória.”
No Twitter, milhares de memes ironizando e questionando a pane da tríade de aplicativos do grupo de Mark Zuckerberg eram postados a cada minuto. Junto aos memes, usuários postaram que a paralisação dos sistemas do WhatsApp seria benéfico para a sociedade humana, pois voltaria à comunicação “olho por olho”, uma referência à interação presencial entre as pessoas, que foi consideravelmente diminuída por conta da pandemia.
Durante o período do apagão, na tarde desta segunda-feira (4),a psicóloga Keila observou que a opinião das pessoas próximas à ela fazia parecer com que a vida normal tivesse sido paralisada. “Eu ouvi relatos de pessoas próximas a mim que diziam que com essa queda não saberiam o que fazer, que o dia estava incompleto, que não conseguiram falar com ninguém e que se sentiram fazendo nada. Com essas coisas que eu ouvi, eu confesso que eu percebi o quanto que a gente reduz a nossa trajetória às redes”, observa.
A especialista afirma que a experiência neste mundo digital vivido pela sociedade nos últimos anos, principalmente após o isolamento social, fez com que os seres humanos reduzissem as suas vidas aos feeds, stories, publicações e likes. “As coisas vão perdendo os valores, a gente não consegue mais se comunicar como antes e viver como a gente vivia antes, porque tudo está reduzido de fato às telas.”