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Brasília

Adoção: 82 crianças e adolescentes aguardam por um lar no DF 

Das 452 famílias aptas a adotarem, a maioria desejam ter filhos até seis anos, acima de oito anos são os menos procurados

Carolina Freitas

28/06/2024 18h40

Carolina Freitas

Atualmente, 82 crianças e adolescentes aguardam para serem adotadas no Distrito Federal, enquanto existem 452 famílias disponíveis para adotar um ou mais deles. Um grande problema é o perfil mais buscado na hora do acolhimento, a maioria das pessoas aptas a adotarem projetam terem filhos até seis anos. De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), acima de oito anos já começam a existir mais adolescentes para adoção do que famílias interessadas em acolherem. 

Conforme levantamento feito pelo Jornal de Brasília, no site do CNJ, 40 crianças e adolescentes de oito a 16 anos aguardam por um lar no DF, porém apenas 18 famílias querem adotar filhos nessa faixa etária. Além da idade, outras coisas que dificultam a adoção é que algumas famílias não aceitam grupos de irmãos, com problemas de saúde e de determinada etnia. A maioria das crianças e adolescentes disponíveis para adoção, 53 no total, tem pelo manos um irmão, enquanto 29 não possuem irmãos. 

Ao JBr, a assessora técnica substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude do DF, Maíra Coelho, falou sobre o problema da faixa etária e dos outros que dificultam que mais crianças e adolescentes sejam adotadas: “Quando as famílias se habilitam para adoção elas refletem sobre o perfil das crianças e adolescentes que elas querem adotar. A família vai informar a idade da criança que é possível ela acolher, se aceita grupo de irmãos, de quais etnias e com ou sem problema de saúde. Então com base nesses perfis, vai existir uma discrepância do perfil das crianças que estão disponíveis para adoção e do perfil que é pretendido pelas famílias. Por isso, infelizmente, a conta não fecha”.  

Maíra explicou que a Vara da Infância e da Juventude trabalha constantemente com as famílias para refletirem bem sobre o perfil das crianças, pois afinal, “a adoção é um direito delas [crianças e adolescentes]”, exaltou. “O trabalho da preparação é impulsionar as adoções necessárias, que são de crianças maiores, grupos de irmãos e com problemas de saúde, mas não pode ser a qualquer custo, tem que ser sempre no sentido de reflexão porque não adianta também ser feito uma adoção que não seja protetiva para a criança. Com o tempo, as famílias vão tendo contato com a realidade dessas crianças que estão de fato cadastradas para adoção, assim começamos a trabalhar o que é a criança idealizada e a real”, completou. 

Para Maíra, é preciso também desromantizar a adoção: “Temos que entender que a adoção é muito importante, mas é preciso desromantizar. Muitas vezes a adoção é romantizada como algo muito bonito e muito tranquilo, ou segue por outro extremo, como vemos associar casos terríveis ao filho adotivo na mídia e em novelas. Nós temos dois polos extremos, de uma romantização muito grande ou de muita negatividade. Mas a adoção é um contexto muito complexo e delicado e temos que olhar sem romantizar, mas também sabendo da sua importância. Temos que entender também que a adoção não é um direito dos adultos, mas das crianças em terem a convivência familiar”. 

À reportagem foi à Casa de Ismael – Lar da Criança que conta com um serviço de acolhimento para crianças e adolescentes que estão disponíveis para adoção ou em um contexto de reintegração pelo fato de terem sido retiradas das suas famílias. O abrigo conta com cinco casas de acolhimento em todo DF, podendo acolher até 60 crianças. O espaço conta com “mães e pais sociais” que são responsáveis pelo cuidado direto das crianças, além de psicólogos e assistentes sociais.

Em relação à importância das instituições que acolhem essas crianças no processo de reintegração de um lar ou até da adoção, o presidente da Casa de Ismael, Valdemar Martins, comentou: “Enquanto as nossas famílias forem desestruturadas, como sabemos que é no nosso país, essas instituições têm um papel significativo. Muitas crianças que chegam aqui, o pai ou a mãe abandonaram, quando eu cheguei na Casa de Ismael pensei que os maiores acolhidos eram de órfãos, mas a orfandade aqui é de pai vivo”. 

Para Valdemar, todos os profissionais que atuam no acolhimento dessas crianças são verdadeiros guerreiros: “O pessoal do acolhimento que recebe essas crianças são profissionais preparados. Eles procuram dar o melhor atendimento possível, mas cortês e afetivo. A principal dificuldade enfrentada quando a criança chega no abrigo é o relacionamento com a mãe e pai social. Muitas vezes quando estamos quase trazendo essa criança para o nosso lado, chega uma decisão judicial para transferir para outro abrigo ou até adotar, então é um processo bem complexo”. 

Um grande problema da adoção para Valdemar é que as famílias e a sociedade não compreendem a real importância do acolhimento: “No geral, a pessoa que está adotando quer resolver um problema dela, e não da criança. Mas tem raras exceções que as pessoas resolvem o problema da criança, mas em geral o adotante quer resolver um problema dele, por não poder ter um filho ou ter perdido um. Se a sociedade compreendesse a vantagem de ter a adoção, nós teríamos uma sociedade menos sofrida e vulnerável”. 

A adoção

O casal Ana Cristina Carneiro, 52 anos, e Ricardo Alexandre, 49 anos, adotou há dois anos o pequeno João Carneiro, com dois meses de vida. A expectativa da consultora empresarial e do servidor público é aumentar a família com a adoção de mais uma criança nos próximos anos. “Nós nos planejamos muito para adotar o João, e estamos na fila agora para adotar mais uma criança”, destacou Ana Cristina. 

“Nós queríamos poder curtir a maternidade e a paternidade. O João ganhou sete chás de fralda, então estava a família inteira esperando, amigos e até vizinhos. Ele foi muito esperado, nós fizemos chá de fralda e arrumamos todo o quarto dele. Nós nos organizamos materialmente, mas principalmente emocionalmente. Depois que o João chegou pra gente, foi a mesma coisa que qualquer filho consanguíneo, com a diferença que eu não tinha feito nenhuma cirurgia física”, lembrou Ana Cristina. 

“É a mesma sensação de ter um filho biológico, uma ansiedade e alegria. Ao mesmo tempo, o coração bate forte porque você tem medo e pensa como vai cuidar de um neném. Mas também vem com um desejo absurdo e um prazer imenso de estar cuidando dele. Uma coisa que é importante no processo de adoção é a preparação e o acompanhamento de uma rede de apoio. Nós tivemos todo suporte do Grupo de Apoio à Adoção Aconchego, e boa parte das discussões que acontecem no grupo não tem nada a ver com o fato da criança ser adotada, mas sim com o fato de ser um filho”. 

Ana Cristina explicou que o casal tem casos de adoção na família e esse foi um dos motivos para terem filhos dessa forma: “Eu e o meu marido temos casos de adoção nas nossas famílias e isso juntou-se com o fato de que não queríamos ter filhos muito cedo. Quando me questionavam sobre o fato de adiar a maternidade eu falava que era exatamente porque eu queria muito um filho e queria que fosse em um momento que eu pudesse curtir ele por completo. Era um desejo de ter um filho bem mais tarde, junto com a vontade de viver a experiência da adoção”. 

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