O Uruguai possui excelentes características para a produção de vinhos de qualidade, graças ao seu clima, solo, localização entre os paralelos 30 e 35 latitudes sul e a expertise de seus produtores, que aprimoraram suas técnicas ao longo da última década.
Outra vantagem do produtor uruguaio é o apoio do Instituto Nacional de Viticultura (Inavi), órgão governamental que executa a política vitivinícola, além de assessorar e pautar o desenvolvimento econômico do processo industrial desde o início da etapa de produção à comercialização.
O Uruguai é o primeiro país da América Latina que possui toda a atividade vitivinícola georreferenciada e com uma vitivinícola completamente rastreada. Há alguns anos vem passando por um processo de reconvenção de toda a área de vinhedos para o modo sustentável.
As vinícolas uruguaias, na grande maioria, são formadas por famílias de imigrantes europeus. Durante minha visita a este país, pude observar uma nova geração tocando os negócios da família. Isso demonstra que o vinho uruguaio ainda tem um longo caminho de expansão e consolidação de sua qualidade pela frente.
O Uruguai ficou conhecido mundialmente pelos vinhos da variedade tannat. Essa uva, originária das regiões de Madiran e Irouléguy (sudoeste da França), foi introduzida no país em 1870 por imigrantes bascos, adaptando-se perfeitamente ao solo e climas locais.
Entretanto, o que a maioria dos consumidores de vinhos não sabem é que o Uruguai possui uma grande aptidão para a produção de vinhos brancos de alta qualidade. Ao longo dos anos, notou-se que a casta albariño (ou alvarinho), originária das regiões da Galícia (Espanha) e Vinhos Verdes (Portugal), adaptou-se muito bem às diferentes zonas vitivinícolas do Uruguai. Hoje, a grande maioria das vinícolas possuem em seu portfólio vinhos dessa variedade.
Para além da “Albariño”, outras variedades brancas que merecem a atenção do consumidor são: Sauvignon Blanc, Viognier, Petit Manseng, Chardonnay e Petit Grain Muscat. Dentre as castas tintas, destacam-se Merlot, Pinot Noir, Marselan e Syrah.
Vale destacar o vinho da rara variedade Manseng Noir pela vinícola Cerro Chapéu, do produtor Francisco Carrau. A Manseg Noir é considerada a irmã da Tannat. Há apenas duas variedades no mundo que são parentes da Tannat: a Arinarnoa (cruzamento entre a Cabernet Sauvingon e Tannat) e a Manseng Noir. O produtor Francisco possui vinhos monovarietais dessas duas castas, para quem gosta de conhecer variedades raras.
Quanto às regiões vitivinícolas, o país é dividido em seis zonas, com características diferentes e bem definidas. São elas:
- 1. Ribeirinha do norte – compreende o rio Uruguai e os departamentos de Artigas, Paysandú e Salto. É uma área de altas temperaturas, grande amplitude térmica e umidade. A forte influência dos rios Uruguai e Daymán, conjuntamente com a diversidade dos solos, permite o crescimento dos vinhedos com características diferenciadas. Nessa região, a umidade dificulta o trabalho do produtor, mas em compensação garante o aumento dos aromas e sabores dos vinhos.
- 2. Ribeirinha do sul – abrange os departamentos de Colônia, Rio Negro e Soriano. Colônia é um departamento com grande riqueza cultural, possui solo rochoso de excelente qualidade e abriga a vinícola mais antiga do país. Como o clima é influenciado pelas águas cálidas dos rios Uruguai e Paraná, na sua convergência com o Rio da Prata, as condições se transformam especialmente apropriadas para variedades tardias, tais como a Cabernet Sauvignon.
- 3. Metropolitana – é a região que concentra o maior número de vinícolas. O departamento de Canelones, coração da viticultura uruguaia; Montevidéu, onde se encontra os vinhedos mais antigos do país; e San José. É fortemente influenciada pelo Rio de la Plata, uma das maiores bacias hidrográficas do mundo.
- 4. Central – há um clima mais temperado e mais horas de sol do que em outras regiões; estão os departamentos de Durazno, Flórida e Lavalleja. Tem colinas e ladeiras suaves. Os solos são ácidos e de fertilidade média a baixa.
- 5. Oceânica – é a zona de influência atlântica por excelência, apresentando altitudes mais elevadas e uma maior diversidade geológica do que o resto das regiões. Estende-se pelos departamentos de Maldonado e Rocha. O clima oceânico se caracteriza por ter temperaturas mais baixas que as continentais e as amplitudes térmicas da região retardam o amadurecimento da uva. Maldonado é internacionalmente conhecido pelo balneário de Punta del Este.
- 6. Norte – inclui os departamentos de Rivera, caracterizados por vinhedos em colinas, morros e solos de terra vermelha; e Tacuarembó. O Cerro Chapéu, no departamento de Rivera, caracteriza-se por seus vinhedos nas ladeiras e encostas do cerro, a mais ou menos 220 metros de altitude. Pela sua situação continental, no sul do Brasil, compartilha com essas áreas muitas condições climáticas: as estações são mais secas e há mais horas de sol.