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Gente, Lugares e Vinhos do Brasil – Rogerio Dardeau

Rogerio Dardeau já publicou seis livros sobre vinhos, sendo que os dois últimos são totalmente dedicados à vitivinicultura brasileira

Cynthia Malacarne

15/04/2022 20h26

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil – Rogerio Dardeau

Rogerio Dardeau

O Rogerio Dardeau é uma pessoa que o mundo do vinho me apresentou e me sinto muito honrada de ter feito uma live com ele no instagram, no início de 2020, no auge da pandemia, sobre os vinhos brasileiros.

Rogerio já publicou seis livros sobre vinhos, sendo que os dois últimos são totalmente dedicados ao tema em que é um profundo conhecedor: a vitivinicultura brasileira contemporânea de vinhos finos. Agora, ele finaliza Gente, Lugares e Vinhos do Brasil Voluma II, que complementará o primeiro. Sua paixão pelos vinhos brasileiros, o convívio com os vinhateiros, as incansáveis viagens, degustações e estudos o torna hoje uma referência quando o assunto é vinhos do Brasil.

Para quem quer conhecer mais sobre nossos vinhos precisa ler seus livros. No seu último livro “Gente, Lugares e Vinhos do Brasil”, publicado em 2020, Rogerio conta um pouco sobre a origem e desenvolvimento da viticultura de vinhos finos no Brasil, a produção de espumantes, a consolidação do setor vitivinícola brasileiro e as novas regiões que começaram a despontar como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.

Em entrevista a esta coluna, Rogerio irá compartilhar conosco um pouco de sua experiência e conhecimento de vinhos brasileiros.

JB: Quando começou seu interesse e estudo de vinhos nacionais?

Rogerio: Já faz muito tempo (rs). Eu tinha pouco mais de 20 anos. Estávamos nos anos 1970. A produção brasileira de vinhos finos ainda era tímida. Mas eu apreciava garimpar rótulos e registrar impressões.

JBr: Na sua opinião quais foram os fatores que levaram o crescimento da produção de vinhos no Brasil, a qualidade e profissionalização? Seria possível apontar uma data específica de quando iniciou esta mudança no cenário brasileiro?

Rogerio: Gosto de situar a grande virada da vitivinicultura brasileira de vinhos finos ali pelos meados dos anos 1980. Tínhamos uma boa produção de uvas e as famílias ítalo descendentes, na serra gaúcha, colhiam e vendiam para grandes empresas. Naquela ocasião, já existia a excelente Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, hoje um Instituto Federal, e a segunda geração das famílias começava a adquirir conhecimentos acadêmicos. De repente, o preço da uva caiu terrivelmente e os viticultores tomaram a árdua tarefa de elaborar e comercializar o próprio vinho. Foi duro, mas construíram a próspera vitivinicultura brasileira de hoje.

JBr: A região Sul do Brasil é sempre apontada como referência para a produção de vinho nacional. A que se deve esta fama? Conta-nos um pouco do início dessa atividade nesta região.

Rogerio: Embora a viticultura tenha tido inícios em diversos pontos do país, foram as famílias italianas, na Serra Gaúcha, que lograram êxito no cultivo de viníferas e nunca mais pararam. Hoje, 80% da produção brasileira de vinhos finos nasce na Serra Gaúcha. É um lugar onde os produtores, com a própria cultura, já dominaram a terra e o clima. Já sabem quais castas produzem qualidade e quais não se adaptam.

Consolidaram a produção brasileira de vinhos finos com origem cultural. Foi a garra de uma produção cujos princípios estavam no sangue dos colonos. Por falar em sul do Brasil, é importante registrar que a vitivinicultura de elevado padrão que se faz na Indicação de Procedência Vinhos de Altitude de Santa Catarina tem pouco mais de 20 anos.

JBr: O que muda atualmente no cenário do vinho brasileiro e quais foram os fatores que geraram essa mudança?

Rogerio: No meu ponto de vista, o que está mudando o cenário é a compreensão da diversidade. Repare, por exemplo, Portugal. O país tem uma área pequenina, mas, como qualquer outro lugar, tem variedade de solos, de climas e de culturas. E lá elaboram-se vinhos em todo o território. E são iguais os vinhos?

Claro que não. Há maravilhas distintas, de norte a sul. Um tinto do Douro é diferente de outro do Dão, que por sua vez difere de um tinto do Alentejo. Isso só para mencionar essas poucas identidades. Então, nós brasileiros estamos começando a compreender que um Tannat da Serra Gaúcha tem uma identidade, um Tannat da Campanha Gaúcha tem outro perfil, e um mesmo varietal de vinhedos da região do Alto Uruguai, no Noroeste do Rio Grande do Sul tem características singulares. Já estamos também começando a aprender que a Tannat não produz em todos os lugares. Esse aprendizado vem acontecendo em todos os lugares, com as castas que vamos tendo disponíveis para o plantio.

Além disso, temos o cultivo com manejo de vinhedos por dupla poda, que amplia sobremaneira nossa fronteira vitivinícola.

JBr: Sobre as novas regiões vitivinícolas no Brasil, no Sudeste, Nordeste e Centro-oeste brasileiro, o que levou ao avanço da viticultura para essas outras regiões?

Rogerio: Sem dúvida, foi o desenvolvimento do manejo de vinhedos por dupla poda, possibilitando colheitas em invernos. Isso despertou investidores, amantes de vinhos. Mas eu gosto de salientar que diversos projetos foram iniciados pela possibilidade de bons resultados com a dupla poda, mas acabaram por reconhecer que o correto, naquele lugar específico, seria o cultivo pelo ciclo normal da videira. Para ver de perto e apreciar vinhos finos obtidos a partir de uvas cultivadas por dupla poda, vá por exemplo visitar o Roteiro do Vinho, em São Roque, SP, ou o Vale do São Francisco, no Nordeste, lugares que não tinham identidade marcada com vinhos finos de qualidade e conquistaram essa posição.

JBr: Para quem ainda não conhece bem nossos vinhos nacionais, ou tem um pouco de preconceito, por onde você sugeriria começar?

Rogerio: Minha sugestão é começar por vinhos da Serra Gaúcha. Um branco Chardonnay e um tinto Merlot. Mas é fundamental que cada pessoa experimente vinhos com o perfil que mais aprecie. Há quem goste de vinhos leves e quem prefira encorpados. Isso muda tudo. Mas para ir quebrando preconceito, a Serra Gaúcha é um bom caminho. Se puder, vá ao Vale dos Vinhedos. Ficará impressionado com beleza e qualidade.

Sobre a uva Chardonnay…

Super popular, versátil e uma das mais cultivadas ao redor do mundo, variedade de uva branca com capacidade de elaborar vinhos de alta qualidade e medianos.

A área de cultivo histórico da Chardonnay, é Saône-et-Loire, entre Lyon e Dijon, na região centro-leste da França, varia entre Borgonha e Champanhe, principalmente na Côte-d’Or, Saône-et-Loire e Marne.
Chardonnay, amada ou odiada, é sem dúvida a casta branca mais versátil. Sem um sabor próprio dominante, pode assumir uma grande variedade de aromas, dependendo de onde é cultivada e, principalmente, de como é elaborado o vinho.

Embora as uvas geralmente atinjam um teor de açúcar relativamente alto, os vinhos podem ter um sabor leve, até azedo, quase como um Sauvignon Blanc em seu efeito refrescante, em um clima frio como o de Chablis. Em climas mais quentes toma outro corpo e estrutura, com sabores mais complexos e menos acidez.

Mas qualquer que seja o estilo, a uva Chardonnay se mostrou uma parceira particularmente maleável em operações de vinificação como fermentação malolática, maceração, fermentação e maturação em barricas de carvalho. Os vinhos elaborados com esta casta variam de sutis e saborosos a secos ricos e picantes, além de fornecer vinho base incomparável para espumantes de alta qualidade.

Chardonnay na cozinha – dicas de harmonização

Os vinhos da casta Chardonnay são fáceis de harmonizar, aqui podemos afirmar que escolher o melhor prato para este vinho não é uma tarefa difícil, mas é preciso atenção ao estilo do vinho.

Para vinho da uva Chardonnay que tenha fermentado em barricas de carvalho, os melhores pratos são aqueles que tenham mais gordura, ou seja cremoso, como peixes mais gordurosos com molho branco (salmão com molho branco, ou bacalhau com natas).

No caso do vinho Chardonnay fresco, sem passagem por barrica, aqui recomendo pratos com peixes e frutos do mar como muqueca, ceviche e peixe grelhado. No caso de dietas vegetarianas ou veganas, esse estilo de Chardonnay combina muito com legumes e saladas.

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