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Cacoetes x ruídos

Existe uma grande confusão quando essas duas terminologias se encontram, pois os conceitos são parecidos, mas não iguais. Entenda as diferenças

Luana Tachiki

04/04/2023 12h57

Foto: Pavel Danilyuk/Pexels/imagem ilustrativa

Ouça o áudio a seguir para acompanhar sua leitura:

Sua comunicação é cheia de cacoetes e ruídos? Sabia que isso pode atrapalhar suas apresentações, relações e seu poder de persuasão?

Existe uma grande confusão quando essas duas terminologias se encontram, pois os conceitos são parecidos, mas não iguais.

Primeiramente, vamos entender um pouco sobre os ruídos de comunicação. De acordo com Peter Drucker – considerado o pai da administração moderna – os ruídos na comunicação impactam cerca de 60% dos problemas no ambiente de trabalho, e a principal consequência é atrapalhar a compreensão entre dois interlocutores, desviando ou danificando a mensagem que deveria ser transmitida. Na prática, isso quer dizer que, se Fulano fala que vai se atrasar dois minutos e Sicrano entende que Fulano chegará em dois minutos, houve uma distorção do entendimento, logo, um ruído.

Ademais, ruídos de comunicação são quaisquer elementos, internos ou externos, que possam interferir no processo comunicacional entre o emissor e o receptor. Em outras palavras, esses estímulos que ocasionam na displicência do interlocutor sobre a mensagem que está sendo transmitida pelo emissor são percebidos como ruídos de comunicação. E eles podem causar desinformação, aumentar a ocorrência de erros e conflitos, gerar situações desconfortáveis, prejudicar a produtividade, ocasionar perdas financeiras, incitar problemas de gestão e atrapalhar o crescimento e desenvolvimento dos negócios.

Veja cinco tipos de ruídos:

  • Fatores físicos: são ruídos que ocorrem no ambiente físico, interferindo na entrega da mensagem ao interlocutor, já que a dispersão será evidente em momentos como esse. Exemplos: uma enceradeira barulhenta que passa limpando o corredor bem ao lado da sala de reunião em que você está; um ar-condicionado com problemas de manutenção fazendo barulhos ensurdecedores; ou até mesmo o carro da pamonha que passa com som automotivo berrando: “Olha a pamonha quentinha e fresquinha! Tem de sal com queijo, de queijo com goiabada, de frango com catupiry e de linguiça com queijo! Quem vai querer?” Neste momento, quem adora uma pamonha e está faminto numa sala de reunião dificilmente conseguirá resistir a esta digestiva e não vai pensar em outra coisa, senão a pamonha quentinha e fresquinha.
  • Fatores técnicos: consistem em problemas ligados ao canal de comunicação que é usado quase sempre em reuniões e apresentações: a internet que oscila, a energia que acaba por uma forte chuva, um cabo que está com mau contato e atrapalha na projeção dos slides, a tela do computador que trava e congela as imagens… tudo isso ocorre com frequência nas dinâmicas de uma vida corporativa, e quando acontece, há consequência, como a uma plateia mais dispersa e desinteressada na reunião, por exemplo.
  • Fatores psicológicos: são ruídos presentes na mente das pessoas. Geralmente ocorre quando estão preocupados com fatores como, por exemplo: se desligou todas as luzes antes de sair de casa; o desentendimento que teve com o cônjuge na noite passada; os boletos a serem pagos; ou até o que vai comer assim que sair do trabalho. Esses ruídos levam a mente do interlocutor para outro ambiente que não é o mesmo em que seu corpo físico se encontra.
  • Fatores fisiológicos: existe um grande bloqueio de comunicação nesse tipo de ruído. Os fatores fisiológicos são mais complexos e difíceis de encontrar uma resolutiva, mas não são casos impossíveis de resolver, a depender da situação. Uma vontade de ir ao banheiro numa reunião que perdura por mais de uma hora pode ser evitada, assim como uma dor de cabeça, quando se tem uma boa noite de sono ou um simples analgésico na bolsa. Já uma dor de barriga é mais delicado de resolver, e, talvez, a única alternativa seja sair do local para ir ao banheiro.
  • Fatores semânticos: referem-se a problemas linguísticos como vícios de linguagem, cacoetes, jargões e linguagem técnica.

Os vícios de línguagem são desvios da norma-padrão da língua portuguesa e geralmente não são intencionais, mas desencadeiam problemas de entendimento do enunciado e ruídos na comunicação. Estão relacionados a desvios de sintaxe, equívocos no emprego de uma palavra, pleonasmo, ambiguidade de sentido, erros de concordância, regência, colocação, barbarismo, estrangeirismo, cacofonia, pleonasmo, solecismo, ortografia e arcaísmo são exemplos de Vícios de linguagem.

Vamos citar um exemplo bem perigoso no quesito ruído de comunicação, como é o caso da ambiguidade:

– “Preciso que você confirme se ele pode ir com a sua mãe.”

De quem é a mãe: de “você” ou “dele”? É para confirmar com a mãe se ele pode ir ou é para confirmar se ele pode ir com a mãe?

O trecho ficou confuso e pode gerar duas interpretações.

Já os cacoetes são expressões que surgem em uma determinada época e acabam cristalizando-se na fala de alguns indivíduos, que as repetem exaustivamente e de maneira automática e acabam se tornando hábitos. São considerados vícios de linguagem porque não possuem valor linguístico e também ocorrem no momento de contrução das ideias, enquanto concatenamos uma linha de raciocínio, procurando por palavras certas na mente. São exemplos de cacoetes verbais: ‘ehhh’, ‘ohhhh’, ‘ahhh’, ‘então’, ‘veja bem’, ‘olha’, ‘bom’, ‘ok’, ‘tá certo’…

Nos jargões, podemos considerar que, em momentos inoportunos, o uso deles para um público que desconhece aquela expressão pode gerar ruído, pois a aplicabilidade do jargão chegou até o emissor sem eficácia, já que não houve entendimento. Exemplo: um estagiário jornalista pergunta para um enfermeiro se ele está sabendo pra quando será o deadline (prazo de entrega da matéria). Provavelmente, o enfermeiro não entendeu o que o estagiário queria porque deadline é uma jargão da área de jornalismo. Em suma, para um jargão ter eficácia, deve ser usado para o nicho correto, caso contrário ocorrerá um ruído.

A linguagem técnica é o uso não apenas de uma expressão como o jargão, mas vários termos e elementos técnicos juntos, vide imagem abaixo:

Diferença entre ruídos e cacoetes

Agora você entendeu que os cacoetes verbais/de linguagem são os sons que liberamos enquanto estamos formulando uma resposta e funcionam como muletas linguísticas, na qual as pessoas usam como apoio para preencherem esse vazio na fala enquanto constroem as ideias. Já os ruídos estão relacionados à distração do excesso de cacoetes, isto é, o interlocutor se distrai pela repetição dos cacoetes e o ruído ocorre porque ele não prestou atenção na mensagem, mas na repetição dos cacoetes verbais.

Num prólogo do livro “Como falar em público – técnicas de comunicação para aprentações”, do autor Izidoro Blokstein, a percepção do personagem Tácio (gerente de controle de qualidade) ilustra a insatisfação de um orador inexperiente que está com a missão de se tornar um orador frequente e que, para isso, precisa alinhar todos os seus deslizes da sua primeira apresentação. Logicamente, foram os cacoetes verbais o que mais o incomodou:

” Ah, meu Deus, quanto cacoete! Eu não aguentava mais ouvir: ‘eeeeeh, certo, não é, ok’. Eu não entendo por que tanto cacoete!”

“Pelo visto o cacoete é reflexo da insegurança. E esta, por sua vez, resulta da falta de planejamento e de preparação […] acho que isso aconteceu porque confiei no improviso e preparei mal o script: anotei nas mãos, no verso do texto, e ia encaixando os lembretes, sem ter muita percepção da falta de sequência. Uma bagunça! Mas daí tiro um grande lição: preparar, planejar, e ensaiar sempre!”

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