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Busque pela comunicação inclusiva sem vieses e estereótipos

Como nossas palavras podem reforçar desigualdades e por que adotar uma comunicação consciente é essencial para construir relações mais justas

Luana Tachiki

20/11/2025 16h44

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Foto: Freepik

Você já foi vítima de comentários desnecessários ou até maldosos? Se não, já presenciou esse cenário com alguém?

Em 20 de novembro, o Brasil volta seu olhar para a Consciência Negra. Uma data que marca resistência, luta e ancestralidade de um povo que por muito tempo teve sua voz silenciada. Mas, além dos debates sobre direitos, políticas públicas e oportunidades, existe um território onde a desigualdade ainda se manifesta de forma silenciosa: a linguagem cotidiana.

Poucos percebem, mas a comunicação pode reproduzir preconceitos por meio de expressões, metáforas, piadas, adjetivos e até da forma de falar, como entonações e tom de voz.

O racismo que passa pela boca sem passar pela consciência pode carregar marcas de um passado colonial que deixou raízes profundas na cultura e na mentalidade, inclusive no vocabulário. É o que se chama de vieses linguísticos.

A maioria das pessoas não usa expressões preconceituosas por maldade. Usa porque aprendeu assim, ouviu desde criança e repetiu sem questionar. Mas o fato de algo ser comum não o torna inocente.

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Foto: Freepik

Quando alguém diz “mercado negro”, “denigrir”, “serviço de preto”, “inveja branca”, “segunda negra” ou descreve uma pessoa negra como “forte”, “exótica” ou “de boa aparência”, reforça associações históricas que intensificam, mesmo sem intenção, a discriminação de um povo. E isso não é exagero. É sociolinguística.

A linguagem não descreve apenas a realidade. Ela cria realidades, molda percepções e reforça crenças. Por isso, mudar a forma de falar é também mudar a forma de ver e de tratar as pessoas. A comunicação precisa ser consciente antes mesmo da verbalização.

No campo da comunicação, existe o fenômeno chamado microagressão verbal, que são comentários sutis e muitas vezes não intencionais, mas que diminuem, estereotipam ou colocam alguém em posição inferior. Exemplos incluem:

“Seu cabelo é assim mesmo? Posso tocar?”, sugerindo que o cabelo crespo é algo curioso, diferente ou fora do normal.
“Nem parece que você é negro(a)”, frase que não funciona como elogio e, sendo interpretada como elogio, torna-se ainda mais ofensiva.
“Cuidado com aquele rapaz ali…”, associação automática de homens negros com perigo ou criminalidade.
“Negra(o) de alma branca”, expressão histórica que relaciona valores positivos ao “branco”.

Essas curiosidades ou elogios carregam mensagens implícitas. Transmitem a ideia de que existir fora do padrão branco é algo surpreendente, inadequado ou menos valorizado. Para quem fala, pode parecer apenas um comentário. Para quem ouve, é o lembrete diário de que precisa provar o próprio valor.

Por que comunicação inclusiva não é militância e sim competência? No mundo corporativo, jurídico, educacional, artístico e político, comunicar-se de forma inclusiva deixou de ser detalhe ou agenda ideológica. É competência profissional, indicador de maturidade social, responsabilidade institucional e inteligência emocional.

Construir uma comunicação inclusiva não significa policiar palavras, mas reposicionar intenções:

  1. Repensar expressões e metáforas que carregam estigmas raciais.
  2. Substituir adjetivos que reforçam estereótipos por descrições neutras e respeitosas.
  3. Evitar generalizações sobre culturas, comportamentos e aparências.
  4. Praticar escuta ativa para entender como pessoas negras se sentem ao ouvir determinadas expressões.
  5. Pesquisar antes de reproduzir narrativas e evitar difundir conceitos ou histórias carregadas de preconceitos.

Esses passos não empobrecem a língua. Pelo contrário, ampliam repertórios, aprofundam reflexões e elevam o padrão comunicacional.

A força de uma sociedade que sabe nomear com respeito.

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Foto: Freepik

A busca por uma comunicação inclusiva é, no fundo, um convite para que todos sejamos mais conscientes do impacto que causamos. É também um ato de compromisso com a equidade racial.

No Dia da Consciência Negra, talvez a pergunta mais importante seja: o que as minhas palavras têm construído? Pontes ou barreiras? Respeito ou hierarquia? Consciência ou repetição?

Falar e ouvir com responsabilidade é uma das formas mais poderosas de transformar o Brasil.

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