Nascido em Fonte Boa, Amazonas, Átila Sidney Lins de Albuquerque construiu uma trajetória marcada pelo compromisso com a saúde, a educação, a economia e a justiça. Economista, advogado e auditor aposentado, Átila dedicou grande parte de sua vida à compreensão das demandas sociais e econômicas do Amazonas. Formado em Direito e em Economia pela Universidade Federal do Amazonas, consolidou uma carreira sólida no serviço público e na atuação legislativa. Reconhecido por sua experiência, Átila ocupou cargos importantes na Câmara dos Deputados, incluindo presidente de comissões permanentes, secretário de Relações Internacionais (SRI) e corregedor-geral. Hoje, como decano da Câmara, Átila simboliza a continuidade institucional e a tradição democrática do Parlamento brasileiro, representando com autoridade e experiência os interesses da população do Amazonas e do país.
O senhor esteve em Genebra participando da 151ª Assembleia da União Interparlamentar. Que significado tem esse encontro para o Brasil e de que forma o país tem se posicionado nos debates multilaterais?
A 151ª Assembleia da União Interparlamentar (UIP), que se realizou em Genebra, na Suíça – entre 21 e 24 de outubro deste ano –, é um fórum central onde parlamentares de todo o mundo convergem para traduzir compromissos multilaterais em ação legislativa concreta. Portando, participar da assembleia, representando o Brasil, reforça nossa vocação de ponte entre Norte e Sul, assim como nossa responsabilidade histórica em defender soluções multilaterais para problemas transnacionais, desde crises humanitárias até governança climática. No plenário das reuniões da UIP, o país tem buscado uma postura de conciliação: defender normas e princípios universais, ao mesmo tempo em que aponta a necessidade de reconhecimento das desigualdades e de mecanismos que permitam aos países em desenvolvimento cumprir compromissos sem sacrificar desenvolvimento e soberania.

Em seu discurso, durante a realização da 151ª Assembleia da UIP, o senhor destacou o papel do Brasil nas ações humanitárias. Como essa pauta se articula com os desafios internos de desigualdade e com o papel histórico do país na cooperação internacional?
Defender normas humanitárias externamente é coerente com a necessidade de enfrentarmos desigualdades internamente. É incompatível falar em proteção de civis e acesso à assistência e, ao mesmo tempo, negligenciar populações vulneráveis em nosso próprio território. O Brasil tem tradição em cooperação técnica, envio de missões e em participação em organismos multilaterais e essa tradição precisa se traduzir em políticas públicas firmes: combate à pobreza, acesso à saúde e inclusão social. A pauta humanitária, que defendi em Genebra, não é retórica; é compromisso para alinhar nossa legislação e orçamentos a medidas concretas que protejam pessoas em risco, sejam elas deslocadas por conflitos ou por desastres climáticos.
A diplomacia parlamentar tem se tornado cada vez mais relevante no cenário global. O que diferencia a atuação do legislativo brasileiro nesse tipo de interlocução?
A diplomacia parlamentar brasileira combina representatividade territorial e legitimidade democrática. Dessa forma, deputados e senadores levam ao diálogo internacional a voz direta dos cidadãos, dos estados e dos municípios. Diferencia-nos a diversidade de perspectivas que trazemos, do urbano ao rural, do litoral ao interior, e a capacidade de transformar compromissos internacionais em leis, orçamentos e fiscalizações concretas. Também temos a vantagem de interlocução transversal, pois, assim podemos dialogar simultaneamente com executivo, sociedade civil e parlamentos estrangeiros, aproximando decisões multilaterais das realidades locais.
A presença do senhor em Genebra reforça o diálogo entre o parlamento brasileiro e instituições internacionais. Quais temas têm despertado maior interesse dos demais países em relação ao Brasil?
Os temas que mais têm atraído atenção são a proteção da Amazônia e governança florestal, políticas de combate ao desmatamento, cooperação em ciência e tecnologia para adaptação climática, proteção dos povos indígenas e a capacidade do Brasil de combinar segurança alimentar com sustentabilidade. Também há grande interesse nas nossas experiências de políticas sociais e na forma como podemos, em parceria, apoiar respostas humanitárias regionais, especialmente quando crises climáticas e conflitos geram deslocamentos e insegurança alimentar.
O senhor representa o Amazonas e tem sido voz constante na defesa da Amazônia. Como o senhor enxerga o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, preservação ambiental e qualidade de vida para quem vive na região?
O equilíbrio passa por dois princípios simples e firmes. Primeiramente, a sustentabilidade como condição não opcional do desenvolvimento; segundo, o protagonismo dos povos da Amazônia nas decisões que os afetam. Desenvolvimento sem preservação é ilusão e preservação sem renda para as populações locais é injustiça. Precisamos, portanto, de modelos que promovam cadeias produtivas sustentáveis, pagamento por serviços ambientais, infraestrutura social (saúde, educação, energia renovável) e garantias de direitos territoriais para indígenas e comunidades tradicionais. Esse é o único caminho que concilia ambiente, economia e dignidade.
A COP30, que será realizada em Belém, trará novamente o foco internacional sobre a Amazônia. Que resultados concretos o senhor espera que essa conferência traga para o país e, em especial, para o Norte?
Espero que a COP30 de Belém gere compromissos financeiros para conservação e desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis no Norte; avanço em tecnologia e transferências que viabilizem adaptação e resiliência para populações locais; acordos que coloquem comunidades indígenas e tradicionais no centro das decisões e do financiamento. Além disso, a COP deve abrir canais permanentes para investimentos em infraestrutura social e logística sustentável na região, além de medidas que reduzam a assimetria de custos para países e comunidades que protegem florestas.
O senhor é o decano da Câmara dos Deputados e tem acompanhado de perto diferentes fases da vida política nacional. O que essa longevidade lhe permite observar sobre a evolução do Parlamento e da prática política ao longo dos anos?
A longevidade revela avanços indiscutíveis e desafios persistentes. Observamos instituições mais estruturadas, maior profissionalização de assessorias e um Parlamento mais conectado com agendas globais. Ao mesmo tempo, há ciclos de polarização que fragilizam consensos necessários para reformas de longo prazo. A prática política evoluiu em técnica e comunicação, mas depende sempre de coragem para diálogo e de compromisso com o interesse público. Como decano, vejo que memória institucional é ferramenta para construir pontes entre passado e futuro para preservar práticas republicanas diante de pressões conjunturais.
A experiência lhe permite observar o comportamento das novas gerações de parlamentares. O que mais o surpreende ou preocupa na forma como os jovens políticos têm exercido o mandato?
Surpreende-me positivamente a energia, o domínio de novas ferramentas de comunicação e a disposição para inovar. Preocupa-me, porém, quando a busca por visibilidade imediata se sobrepõe ao trabalho legislativo de qualidade e ao debate técnico. A boa política exige paciência institucional, capacidade de construir maioria e compromisso com o interesse público, qualidades que precisam ser cultivadas paralelamente à inovação e ao protagonismo juvenil.
Em tempos de comunicação instantânea e redes sociais, a política parece ter se tornado mais ruidosa. Como manter o equilíbrio entre a visibilidade pública e a responsabilidade institucional?
Equilíbrio se alcança com disciplina e prioridades claras. É preciso, de antemão, estabelecer um roteiro de trabalho baseado em metas legislativas; em seguida, usar a comunicação como meio, não como fim, para explicar decisões e prestar contas. Em terceiro lugar, preservar espaços de escuta qualificada (audiências públicas, comissões técnicas) longe do ruído das redes. Transparência e consistência são as melhores respostas ao barulho: elas constroem confiança a médio e longo prazo.