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Comportamento: Até quando o “sim” vai ser mais fácil de dizer do que o “não”?

O preço dos “sins” em longo prazo é caro. O conflito e a chateação do outro tendem a serem evitadas por simbolizarem uma ameaça fictícia de abandono.

Pragmática Psicoterapia e Cursos

17/11/2020 11h53

Comportamento: Até quando o “sim” vai ser mais fácil de dizer do que o “não”?

Comportamento: Até quando o “sim” vai ser mais fácil de dizer do que o “não”?

Por: Msc. Patricia Demoly e Dr. Carlos Augusto de Medeiros

Pessoas denominadas submissas frequentemente dizem “sim” para as outras. Por exemplo, dizem concordar com as opiniões dos outros; dizem que podem emprestar dinheiro para um parente endividado; dizem que irão cuidar do filho do amigo para ele ir a uma festa; e, para piorar, mentem para os outros e para si mesmas que está tudo bem. Será? Até que ponto as pessoas dizem “sim” devido a esse ser o seu real desejo ou dizem “sim” para evitar o conflito? Para evitar que o outro se magoe, brigue ou, apenas, faça cara feia? Parece mais fácil dizer “sim” e evitar problemas. Todavia, resta a pergunta. Evitar problemas para quem?

Quando uma pessoa diz “sim”, querendo dizer “não”, é ela quem sofre as consequências de seu assentimento. É ela quem vai abrir mão da própria opinião; é ela quem vai ter que tirar dinheiro do banco para emprestar e ficar um tempo sem aquele dinheiro (se é que ela o conseguirá de volta); é ela quem vai perder um tempo cuidado do filho do outro e é ela quem vai ter que mentir que está tudo bem quando, realmente, não está nada bem.

Apesar de evitar o conflito ou a chateação do outro, a pessoa acaba escolhendo seu próprio sofrimento, sua própria chateação e sua própria dor, em forma de anulação de si mesma, de perda de dinheiro, de perda de tempo ou se tornando uma mentirosa. Antes de mais nada, mentirosa para si mesma.

Quando a gente coloca na balança evitar conflitos e ficar mal, o que pesa mais? Ao dizer “sim” quando queríamos ter dito “não”, estamos pensando no bem estar de quem? Estamos garantindo o mal estar de quem? Como fica essa balança? Até quando vamos agradar o outro ou ajudá-lo e deixarmos de nos ajudar?

A discrepância temporal pode explicar essas escolhas. Alguns dos piores efeitos que os “sins” produzem nas pessoas submissas ao longo da vida demoram a chegar. Por outro lado, o conflito ou a demonstração de desapontamento da outra pessoa são imediatos. Por mais estranho que pareça, fazer pelo outro quando não se quer, ou não se tem condições de fazê-lo sem sacrifícios, trata-se de uma escolha impulsiva, já que estamos agindo sob influências de consequências em curto prazo em detrimento das consequências mais graves em longo prazo.

O preço dos “sins” em longo prazo é caro. O conflito e a chateação do outro tendem a serem evitadas por simbolizarem uma ameaça fictícia de abandono. Há uma justificativa que ouço com frequência em consultório: “mas se eu disser não, vou acabar só”. Talvez sim. Todavia, as pessoas submissas acabam se decepcionando por não receberem os mesmos “sins” dos outros. A consideração que demonstram pelas pessoas de seu convívio nunca é correspondida na mesma medida. Em longo prazo, ao invés de tentar mudar a relação exploratória que estão vivendo, acabam por se afastar, ou mesmo, apagar certas pessoas de sua vida. Ou seja, dizendo “sim”, as pessoas submissas podem acabar sozinhas do mesmo jeito. E o pior, totalmente sozinhas, uma vez que já se abandonaram há muito tempo vivendo em função do outro.

Não é à toa que, quando estamos no avião, a orientação é de que, caso as máscaras de oxigênio caiam, devamos colocá-las primeiro em nós mesmos e depois naquelas pessoas que precisam de ajuda. Isso é muito importante para refletirmos o quanto precisamos estar bem para realmente conseguirmos ajudar alguém ou fazer algo pelo outro. Quando estamos mal, não conseguimos ajudar ninguém e, na verdade, nós é quem precisamos de ajuda.

A adoecimento é uma forma que encontramos para nos protegermos dos nossos “sim”. Doentes, não podemos ser cobrados pelos outros ou por nós mesmos, de fazer pelo outro. Nossos “nãos” são justificados por simplesmente estarmos doentes. Muitos quadros depressivos, de transtorno do pânico, de ansiedade generalizada, de fibromialgia e de insônia, por exemplo, podem ser formas que pessoas submissas encontraram para se protegerem de si mesmas, mais especificamente, dos seus “sins”. Obviamente, seria leviano sugerir que a etiologia dessas patologias se resume a apenas à dificuldade em dizer não. Todavia, em muitos casos, tratá-las consiste em criar condições para que pessoas submissas, dentre outras coisas, aprendam a negar.

E você, em prol de se si mesmo e de sua saúde mental, tem dito “nãos” ultimamente?

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