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E aí, em que lugar você está na fila das pessoas que tenta agradar?

Tentar obter o amor das outras pessoas em forma de aprovação, demonstrações de afeto e reconhecimento de diversas formas é o melhor caminho para a frustração

Pragmática Psicoterapia e Cursos

29/10/2020 13h58

E aí, em que lugar você está na fila das pessoas que tenta agradar?

E aí, em que lugar você está na fila das pessoas que tenta agradar?

Por Dr. Carlos Augusto de Medeiros

Ser amado é fundamental para muitas pessoas. Principalmente para aquelas que, ao longo da infância e adolescência, tiveram pais omissos, ausentes, negligentes ou que apenas ofereciam o amor condicional. O amor condicional diz respeito às demonstrações de afeto e aprovação apenas quando a pessoa adente a certos critérios impostos por pais ou cuidadores. Critérios esses mais diversos, como a aparência, boas notas na escola, bom desempenho esportivo ou mesmo a submissão aos desejos dos pais (curso superior escolhido, que tipo de roupa comprar, com quem namorar etc.), por exemplo.

Pessoas que passam por históricos como esses, aprendem algumas coisas muito ruins para si mesmas. Elas passam a acreditar que o valor que têm, enquanto pessoas, depende da avaliação que os outros fazem delas. Ou seja, se os outros me amam ou me aprovam, eu tenho valor como pessoa e essa é a chave para seu ser feliz. Relacionado a isso, concluem que têm controle sobre o que as outras pensam sobre ou sentem por elas. Se não são aprovadas ou amadas por alguém, chegam à conclusão equivocada que fracassaram em fazê-lo. Em outras palavras, que não foram boas o suficiente.

Para dizer a verdade, é muito triste alguém que foi rejeitado pelos pais, que teoricamente seriam os primeiros a amá-lo, se considerar responsável por tal rejeição. Pessoas assim, acabam se comportando de modo obsequioso, vacilante, servil e inseguro. Frequentemente descrevemos essas pessoas como carentes, com baixa autoestima ou submissas.

Para acreditarem que têm algum valor, essas pessoas dependem do amor e da aprovação dos outros. Uma demora para receber uma resposta a uma mensagem; uma foto postada sem curtidas; um esquecimento de aniversário ou; em casos mais graves, uma demissão ou um término de relacionamento; acabam com a autoestima dessas pessoas. Eventos como esses, as devastam. Todas as suas realizações perdem o peso se não são reconhecidas externamente.

Tenta-se obter o amor das outras pessoas em forma de aprovação, demonstrações de afeto e reconhecimento de diversas formas. Uma delas, é tentar agradar o outro e evitar desagradá-lo. Pessoas assim, estão sempre disponíveis para ajudar, seja para dar uma carona fora de mão; para acompanhar numa consulta médica; para passar no mercado e fazer umas comprinhas para o outro; para trazer uma encomenda de Miami etc. Muitas das vezes, não é necessário nem pedir. Bastar relatar um desejo ou necessidade, e as pessoas propensas a agradar se emprenham a prover o que for necessário para deixar o outro feliz.

Ao mesmo tempo, para pessoas propensas a agradar, é insuportável saber que outra pessoa está aborrecida ou chateada com elas. Horas de sono são perdidas com pensamentos do tipo: Será que fui injusta? Será que ela ficou chateada? Será que vai continuar sendo minha amiga? Será que vão me abandonar? Isso acaba resultando numa completa incapacidade de fazer pedidos. Quem nunca ouviu: “Não gosto de dar trabalho”; “Não quero ser estorvo na vida de ninguém”; “Odeio incomodar”? Ao mesmo tempo, pessoas assim, acham normal quando lhes dão trabalho, quando lhes incomodam ou quando são estorvadas por outras pessoas.

Presumindo que tempo e dinheiro são limitados. Não é possível viver para agradar os outros e se agradar ao mesmo tempo. Deixamos de fazer coisas por nós mesmos ou de gastar com nós mesmos para prover o outro. Para piorar, posturas como essas são consideradas altruístas e valorizadas socialmente. Por outro lado, cuidar de si primeiro é tido como egoísmo e é reprovado em nossa cultura. Mas podemos ver isso por outro ângulo: Se fazemos pelo outro para que ele nos ame e o amor do outro por nós é o que nos leva a gostarmos de nós mesmos, estamos sendo egoístas do mesmo jeito. Porém, trata-se de um egoísmo desfocado do tipo perde – perde.

O que gera mais sofrimento, todavia, é que o reconhecimento, o afeto e a gratidão do outro tem efeito efêmero. Esperamos que as outras pessoas tenham a mesma disponibilidade e a mesma sensibilidade às nossas necessidades e desejos que nós temos pelos desejos e necessidade delas. Em outras palavras, tentamos controlar o incontrolável. O desfecho inevitável é a frustração. A frustração, nesse caso, é a mais dolorosa porque mais uma vez, concluímos que não fomos bons o suficiente e, portanto, não temos valor.

Não estou dizendo que devemos parar de fazer pelo outro. Simplesmente, questiono o que nos leva a fazê-lo. Certamente ser amado não é uma boa motivação para doar, ajudar, cuidar e prover. Isso se dá pela simples razão de que temos pouco controle sobre o que o outro pensa ou sente por nós. Para nos amarmos, não podemos depender dos outros. Precisamos fazer por nós. É aquela ida ao salão; é assistir a um seriado; é tomar um sorvete; é tomar uma cerveja; ou seja; fazer aquilo que nos dá prazer.

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