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Psicanálise da vida cotidiana
Psicanálise da vida cotidiana

Psicanálise: um fato clínico

Acabou o momento histórico da “imitação obediente”, onde as teorias da técnica eram inseridas no trabalho analítico como ordens, conselhos

Carlos de Almeida Vieira

20/02/2020 15h12

Atualizada 03/04/2020 15h57

A psicanálise é algo que se passa na intimidade do consultório, é algo que se fundamenta na experiência clínica, lugar onde estão os fundamentos de sua teoria. Uma coisa é falar sobre psicanálise, aplicar os conceitos psicanalíticos, fazer conferências; outra coisa é o ato psicanalítico, ato construído na relação analista-analisando, dentro de um setting. “A resposta psicanalítica é a verdade de uma experiência emocional” escreve Meg Harris Williams, em seu fascinante livro O vale da feitura da alma- O modelo pós-kleiniano da mente e suas origens poéticas.

Na intimidade desse texto somos advertidos para o fato de que a experiência analítica é “um tipo de conhecer” que surge do “envolvimento subjetivo do inquiridor”, o que a autora chama de “uma operação artística”. O que isto significa? Podemos hoje afirmar que, o vértice estético-artístico do método psicanalítico aproxima a atividade racional, intelectual com o aspecto emocional, por que não dizer afetivo. Isto nos leva a considerar que a atividade clínica, psicanalítica, repousa na experiência emocional da transferência-contransferência, fazendo com que a análise seja um produto da história que se inscreve na relação analista-analisando.

Acabou o momento histórico da “imitação obediente”, onde as teorias da técnica eram inseridas no trabalho analítico como ordens, conselhos, criando uma “psicanálise” travestida de teorias e de políticas de grupos analíticos. O psicanalista é um artista, praticando uma ciência onde a subjetividade marca posição, e onde se deve exercitar uma disciplina(o analista) para evitar “apadrinhamento”, “plágio”, “exclusivismo” e “grandiosidade”, nos adverte a autora acima citada.

“Os poetas medem a circunferência e sondam as profundezas da alma humana com um espírito perceptivo e penetrante; talvez sejam eles mesmos os mais sinceramente surpresos diante de suas manifestações, pois ela é menos seu espírito que o espírito da época. Os poetas são os hierofontes de uma inspiração não apreendida, os espelhos das sombras gigantescas que o futuro lança sobre o presente, as palavras que expressam o que eles não conseguem entender… Os poetas são os legisladores não oficiais do mundo”. (Shelley in, A defense of poetry).

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