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Psicanálise da vida cotidiana
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Dia Universal da Literatura

“As ideias são sucedâneas da tristeza”
um escritor, praticamente um filósofo com tintura fenomenologia, um pensador, Marcel Proust

Redação Jornal de Brasília

05/05/2021 15h01

Foto: Agência Brasil

Dr. Carlos Vieira

“As ideias são sucedâneos  das tristezas”

Marcel Proust

Nesse dia primeiro de maio, comemora-se o dia internacional  da Literatura. Aproveito para escrever sobre a importância da literatura na cultura, no pensar histório da humanidade, desde a Biblia até os dias atuais. Antonio Cândido, Livre Docente de Literatura Brasileira em 1945; Doutor  em Ciências em 1954 e professor da Cadeira de Sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, como também  professor de Literatura  e de Literatura Comparada  na mesma Universidade,  escreve em seu livro “O Direito à Literatura: “ A literatura é o sonho acordado das civilizações”…” A literatura confirma e nega,  propôe  e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas”.

Escolho hoje, para homenagear a Literatura Universal, a pessoa incrível, um escritor, praticamente um filósofo com tintura fenomenologia, um pensador e alguém que viveu grande parte de sua vida, recluído em sua casa, a escrever “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust. Proust,  assim com Gustave Flaubert, Graciliano Ramos,  entre outros, foi um mestre da escrita, da estética e da capacidade sensível de penetrar na alma do leitor, desde que o leitor  sentisse a sua obra não como exercício de consumo burguês nem como atestado de cultura.  Marcel Proust no inicio dos seus escritos fazia uma advertência aos seus leitores: “não leiam meus livros preocupados com a narrativa romanesca, mas sim como a possibilidade de se ler a si próprios”. Notem queridos leitores, está aí outra função da Literatura: a possibilidade “terapêutica” da própria  literatura. Já escreveu Harold Bloom que a literatura é uma forma de vida. Proveito para citar outro escritor, J.L.Boges que dizia, na medida em que meu leitor não se reconhece nos meus poemas, eu não consegui fazer poesia. A literatura e suas obras autênticas e verdadeiras são obras mescladas da biografia do autor e sua capacidade de apreensão da realidade factual de um período histórico. Não se excluem a estória do autor e sua obra, questão que Proust combateu as ideia de Sant-Beuve. Reflitamos um recorte da Recherce: escreve Proust: “Esse eu, se quizermos tentar compreendê-lo, será no fundo de nós mesmos, tentanto recriá-lo em nós, que poderemos ter sucesso. Portanto não há obra sem introspecção”. Agora entendemos o desejo de Proust, quando levou seus manuscritos do Romance ao Editor, e perguntado pelo título, Proust responde: “O livro do Inconsciente”. Foi óbvia a recusa, pois na ideia do Editor, não teria apelo comercial. Que pena! É a pura verdade do autor!

Existe um livro muito profundo e interessante, chamado de “Filosofia Sentimental”, do filósofo Frédérie Schiffer, professor de uma Escola Basca. Esse livro  é uma obra crítica à filosofia racionalista, onde Schiffer passeia   por vários filósofos e escritores mostrando o vértice humanístico da Filosofia que casa razão com paixão. Lá,”diz ele de Proust:”A escritura de Proust  exibe os estigmas. Nela se leem insucessos, os lutos, as separações, as traições e mesmo os males psíquicos, experiência de devastações intimas, sofridas no decorrer  da vida com uma “punhalada na alma”, e que ele se esforça em transcrever,…deslocando na ficção  de uma narrativa as circunstâncias de seu acontecimento…”

Encerrando meu pretenso pequeno ensaio de hoje, gostaria que o leitor atentasse para a escrita proustiana que, vai além do sensorial e mergulha na face oculta de sua narrativa literária. O recorte é do volume cinco de sua obra –“A Prisioneira”, onde o personagem está a sofrer/não sofrer com o “desaparecimento de Albertine”. Escreve Proust:”O carro partiu.  Fiquei  um momento sozinho na calçada. Certo aquelas riscas luminosas que eu avistava de baixo e que a outro haviam de parecer de todo superficiais, dava-lhe eu uma consistência, uma plenitude, uma solidez extremas, por causa de toda a significação que eu punha atrás delas, num tesouro insuspeitado pelos outros, escondido ali por mim, e de onde emanavam aqueles raios horizontais, tesouro se quizerem, mas tesouros em troca do qual eu alimentara a liberdade, a solidão, o pensamento.”

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