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Olhar Strano
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Presidenciáveis iniciam campanha alimentando suas bolhas

Redes sociais favorecem distanciamento com divergente

Danilo Strano

08/08/2022 10h28

Fotos: Divulgação

O início do século XX foi marcado pela criação e popularização do rádio como meio de comunicação, uma grande novidade para a Europa, que, naquele momento, era o centro do poder econômico mundial. O continente se cercou de expectativa, já que o rádio era um meio para se informar de forma rápida e com baixo custo. Os cidadãos poderiam saber sobre a população de outros países em tempo real, quais seus movimentos e suas preferências. O cenário parecia favorecer uma integração entre os povos.

Mas a realidade se apresentou de maneira totalmente diferente. Os movimentos nacionalistas e totalitários ganharam grande parte do continente, vide o que ocorreu entre Alemanha, Itália e Espanha, por exemplo.

Ocorre que ao saber o problema de outros povos do continente, o cidadão julga sem entender a realidade e fortalece a crença que o outro está errado, tendo apenas as informações que recebe. O medo do desconhecido, do que acontece com o outro, faz a população se fechar cada vez mais, criando uma onda nacionalista e conservadora que rejeita tudo que não faça parte do que ele conhece e domina.

Se a expectativa era que o rádio favorecesse uma integração entre os povos no século passado, não foi menor o que se esperava como surgimento da internet e principalmente das redes sociais. Se vendeu a ideia de uma conexão com o mundo, onde o usuário poderia conversar com outras pessoas em tempo real e em qualquer canto do planeta. Mas assim como ocorrido na Europa, o mundo vive um movimento de fortalecimento e ganho de poder de movimentos nacionalistas. Grupos criados apenas para propagar o ódio ao outro se multiplicam nas redes, seguindo a lógica do cidadão que rejeita aquilo que ele não entende.

No Brasil, com a realização das convenções partidárias, o quadro eleitoral está apresentado, os nomes em disputa definidos e alianças formadas. Em rápida observação nas redes sociais, percebe-se que os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas (Luiz Inácio, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes) têm perfis que mais atacam adversários do que fazem proposições. As redes proporcionam um cenário propício para isso, como visto, quanto menos eu entendo quem está do outro lado, mais fácil é fazer rejeitá-lo e criticá-lo. Além disso, a maneira mais conhecida para crescer em números e engajamento é atacando os outros. Assim como para manter seu público ativo, o ataque massivo e organizado a outros grupos é o melhor caminho. Os posts mais engajados do do atual presidente e candidato Bolsonaro são os que atacam seu principal adversário, não os que apresentam os resultados de seu governo.

Mas qual o resultado dessa ação? Eu digo: a fúria de quem está do outro lado, que se sente invadido e com sua vida violada. As bolhas nas redes sociais (fenômeno que exclui todos que não concordam com sua opinião) vão se potencializando e criando barreiras intransponíveis.

Os próximos dois meses de campanha, até o primeiro turno, prometem discursos que fecham pontes e fortalecem o radicalismo. Os debates e propagandas eleitorais tendem a ser palanques para alimentar o que as redes consolidaram na pré-campanha, o ódio e incompreensão ao diferente. Será que algum candidato conseguirá furar essa bolha que se cria e minimamente falará com outros grupos? E se conseguir, será que perderá o apoio da sua bolha original?

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