Mineira de Campos Gerais, mas brasiliense de coração, a escritora e advogada Gracia Maria Baldoni Cantanhede conversou com a coluna sobre poesia, literatura e os desafios em ter duas profissões.
Casada e mãe de dois filhos, a ex-procuradora federal carrega consigo o amor pela leitura desde os 5 anos de idade. Ela já publicou mais de sete livros. Seu blog sobre o assunto conta com 11 mil seguidores.
Quando começou a sua relação com a literatura? De onde surgiu essa vontade intensa de escrever?
Aos 11 anos eu me distinguia na 5ª série do Ensino Fundamental por escrever bonitas redações. Desde os 5 anos eu gostava de livros, de histórias, de me imaginar na pele dos personagens. A vontade de escrever surgiu porque sempre tive muita imaginação, sabia que algo em mim era meio diferente das outras crianças. Muita sensibilidade, devaneios e amores platônicos.
De que forma você enxerga o mercado da literatura hoje? O público migrou por completo para a Internet ou ainda existe aquele “gostinho especial” em pegar um livro em mãos e ler?
O mercado literário no Brasil nunca foi dos melhores, mas não acredito que piorou nos últimos anos. Penso que está crescendo, as pessoas leem, sim. Os adolescentes, hoje, contam com ótimos autores nacionais e estrangeiros. Há o público fiel nas livrarias, na faixa etária dos 30 aos 80 anos. São aqueles que frequentam e têm prazer de ter o livro físico. Há muita gente que lê e que também compra livros pela Internet. Os mais jovens preferem ler pela por lá, creio eu.
Você já publicou sete livros e eles são direcionados para diferentes estilos e idades. Como é o seu processo de criação?
Quando não estou lendo, estou escrevendo, tenho compulsão pela escrita. Praticamente vivo em função da minha família e dos livros. No meu blog tenho mais de 11 mil leitores que acompanham minhas publicações. E publico todos os dias um poema, uma crônica ou um pequeno conto. Atualmente, estou escrevendo um romance para o público adulto e parece que está indo bem. Fora isso, tenho um livro de contos e um de poemas prontos para lançar, oportunamente.
Quem são os seus três autores preferidos?
Leio quase tudo que me cai em minhas mãos. Para citar só três autores: Clarice Lispector, Eduardo Galeano e Franz Kafka.
Se fosse para escolher entre ser escritora e advogada, qual escolheria?
Escritora. Escrevo por paixão. É um chamamento. Eu me formei em Direito para entrar no serviço público pela porta da frente, e consegui. Tenho orgulho do meu título de procuradora federal.
Quais os desafios em se ter duas profissões tão distintas?
As duas exigem sensibilidade, estudo e entrega. Meus pareceres, às vezes, eram poéticos. Nunca abandonei a poesia.
Você escreve muitos poemas, poderia citar um para nossos leitores?
Sim, posso citar uma breve passagem poética que eu gosto. Chama-se Fantasias. As pedras brancas no fundo do riacho. Eu diria que eram minha fantasia. Imaginava serem diamantes. Cresci pensando que todos os riachos eram transparentes, como aquele, cheio de encantos. Agora sei, a maioria é barrento, perigoso… E não tem a beleza do riacho de brilhantes. Agora sei, já nem me importam as águas que passam, barrentas pela minha vida.