Tem dias em que meu lado sombrio toma conta, até quando é sábado de Sol. Apesar de muito grata, sempre, pela minha saúde e pela vida das minhas filhas, tem horas que até o trânsito – talvez, principalmente o trânsito – me tira o sorriso do rosto e rapidamente me torno aquele tipo de pessoa que, ao falar, cospe fel, sabe como é?
Nesse último sábado, um mero erro na rota me tirou do sério e de não sei quantos quilômetros do caminho ao Brasis Ateliê Gastronômico, que fica localizado no Lago Oeste.
Ironicamente, é uma rota super tranquila, via Balão do Colorado, onde um vacilo meu na leitura do GPS me fez dar uma volta absurda para retornar.
Assim, estava eu chegando nervosa, constrangida pelo meu atraso e chateada com meu erro. Até avistar umas lindas flores amarelas concentradas em meio ao mato. Passei pelo portão, adentrando um caminho de jardim até uma casa com carinha de “magia”.
Muito vidro, madeira, mesas espalhadas na área interna e na externa. Um mezanino aconchegante, decoração harmoniosamente aleatória e cheia de referências brasileiras, de folclore à religião. No som, só música brasileira de primeira também.
“E aí, como foi o trânsito?”
“Trânsito? Que trânsito?”
“Você errou o caminho, Luísa.”
“Errei? Não…..acertei, pois cheguei aqui.”
E era só lá onde eu queria estar. O cardápio que antes incluía pratos à La carte foi todo revisto, depois que a proprietária e Chef Di Oliveira sentiu que o serviço estava sendo prejudicado. De fato, houve leitores que criticaram questões como tempo de espera e atendimento, principalmente.
Apesar de o receio por alterar a proposta, a casa fechou seu cardápio em degustações. E cá entre nós, eu adoro quando o Chef escolhe para mim. Sem contar que o fato de serem menus fechados não limita tanto a experiência como poder-se-ia supor.
O Menu de Entradinhas Brasis, por exemplo, faz um passeio pelas comidinhas mais pedidas casa, por R$138,00. São 7 entradas, ao todo, servidas em 2 passos que incluem Ceviche, Vieira Grelhada, Camarão Crocante e Ostra Gratinada; e Dadinhos de Porco, Tulipas de Frango e Feiju, que é bolinho de feijoada recheado com farofa da Chef e calabresa, servido em cama de couve refogada e crispy de bacon. Meu estômago acaba de roncar por essa descrição.
Então, para um Happy Hour de Quinta-feira, com um vinho branco bem geladinho, aquele jardim e essas comidinhas, podem me chamar indiscriminadamente.
No dia, fomos de Menu Clássico: degustação em 5 etapas com os pratos mais tradicionais do Brasis, sendo duas entradas, dois principais e duas sobremesas. Um mais delicioso que o outro.
Para começar, eu que sou a rainha do porco, amei os Dadinhos de Barriga de Porco rosa crocantes com geleia de goiabada cascão e chutney de abacaxi e cúrcuma. Já o Camarão Crocante é frondoso, um VG de verdade, empanado no coco e farinha panko servidos com molho de tamarindo.
O primeiro prato, Filé do Cerrado, conseguiu provar que o aparentemente tradicional ainda pode surpreender, com seu medalhão de filé mignon grelhado ao molho de framboesa do cerrado (divino) e um aligot espetacular feito com um pouco de queijo emmental e muito queijo da Canastra fresco, o que deixou o prato sem aquele toque enjoativo. Como acompanhamento, a farofa da Chef é de comer de balde! E não à toa o processo de elaboração dela é dificílimo, dependendo de horas de fogo, tempero específico, toda a magia que se espera da gastronomia. Talvez eu baixasse o ponto da carne, mas por gosto pessoal mesmo.
O Robalo da Chef é grelhado no azeite, com manteiga de sálvia e vinho branco servido em cama de espinafre e molho de pistache, com purê de mandioquinha, cenouras e cebolinhas mini assadas. O peixe estava perfeito no ponto e o purê de mandioquinha quase alcançou o aligot.
A sobremesa nos trouxe um impasse. Entre opções como cartola, canolli, Romeu e Julieta, rabanada, cheesecake, doce de abóbora e brownie, tava impossível selecionar sem a dor da separação dos demais.
Fui de rabanada servida sobre doce de leite e coberta com um chantilly super cítrico, com raspas de limão siciliano. A fatia de pão é enorme e achei que isso prejudicou o interior que poderia estar mais “molhadinho” para mim.
Os canollis de limão e chocolate estavam divinos e para o meu choque, o Abobrice, feito com doce de abóbora e sorvete de tapioca estava dando água na boca também.
Há, ainda, Menu de 3 etapas, Menu Vegano exclusivo, Menu Kids e um Menu às Cegas executado de maneira ímpar, em que a Chef conversa com o cliente para saber seus gostos e referências gastronômicas antes de criar um menu exclusivo na hora! Um verdadeiro affair de uma noite, em que a Chef esquecerá o prato elaborado, mas o cliente jamais esquecerá a experiência exclusiva!
Por fim, uma carta de drinks enxuta, com um dos melhores drinks autorais que tomei, com maracujá, caju fresco e vodka.
Concluí que, se a gastronomia é uma forma de escape, uma visita ao Brasis é uma experiência completa de fuga da realidade cruel para cair nos braços de uma casa deliciosa, com comida carinhosa, executada lindamente, um atendimento prestativo e cordial, e uma Chef que cozinha com mãos e coração. Bom, será que há outro jeito de cozinhar?
Serviço
Brasis Ateliê Gastronômico
DF 001 – Rua 12 – Chácara 77. Núcleo Rural Lago Oeste. Brasília/DF
Funcionamento:
Quintas e Sextas-feiras: 17:00 H – 23:00 H
Sábados: 12:30 H – 17:30 H / 19:00 H – 23:00 H
Domingos e Feriados: 12:30 H – 17:30 H
https://brasisatelie.com.br/
Atendimento mediante reserva pelo whatsapp: +55 61 9 9446-2540