Menu
Histórias da Bola
Histórias da Bola

Trocou a bola pelo fuzil

Arquivo Geral

26/11/2017 21h12

Pelos inícios da década-1940, quando havia especialistas fixos para cada posição nos times do futebol brasileiro, encontrar um bom ponta-esquerda era um problemão para os clubes paulistas e alguns cariocas.

Foi quando surgiu no meio da garotada do Corinthians um moleque tocando o terror pelo flanco esquerdo. Era corintiano, desde garotinho, e o seu sonho era, um dia, ser craque do alvinegro paulistano. Chamava-se Walter Fazzoni e não demorou a ser assediado pelos “descobridores de estrelas”.

Walter recusou todas as propostas mirabolantes lhe oferecidas, para deixar o Corinthians. Preferia ser fiel ao seu coração e mais fiel do que a própria “Fiel” – o apelido da torcida corintiana. Quem o via jogando pelos times de baixo, juravam que ele tinha muito mais futebol do que os titulares do time de cima. E que ninguém mais vestiria a camisa 11 alvinegra depois que ele subisse.

Walter subiu e confirmou o que dele se esperava. Exibiu futebol moderno para a época, invertendo posições, quando pressentia ser necessário mudar algo no ataque, e chutava ao gol com os dois pés.

Era 1941 e o governo do presidente Getúlio Vargas começava a preparar os seus “pracinhas” para irem à II Guerra Mundial lutar ao lado dos Estados Unidos, contra o nazismo dos alemães comandados pelo austríaco Adolf Hitler. Entre os primeiros soldados de Getúlio, estava Walter.

Como havia trocado a bola pelo fuzil e a jaqueta corintiana pelo verde-oliva, ficou dificílimo para Walter bater uma bolinha. Só nas folgas. Um dia, transferiram os seus treinamentos militares, de São Paulo, para o Rio de Janeiro. Durante uma de suas folgas, ele foi a General Severiano, assistir ao treino da rapaziada do Botafogo e encontrou-se com um velho conhecido dos gramados, Geninho, que estava, também, convocado para ira à guerra.

De papo em papo, Geninho falou com a sua chefia e o convidou a treinar entre os reservas. Walter chamou a atenção de quem assistia ao treino e, imediatamente, o Botafogo telefonou ao Corinthians, pedindo o seu empréstimo durante o tempo em que ele estivesse servindo militarmente na cidade.

Já que não poderia contar com o seu atleta, o Corinthians concordou e Walter passou quatro meses tirando o verde-oliva do corpo só pra vestir a jaquea alvinegra botafoguense. Quando o fazia, era sempre em alto nível. Até que chegou o dia de trocar o campo da bola pelo campo de guerra.

Na Europa, Walter lutou, bravamente, como soldado avançado. Na volta para casa, participou de desfiles em honra à glória dos pracinhas e foi homenageado pelo Botafogo e o Corinthians, que o teve de volta, na expectativa de vê-lo arrebentando com os seus marcadores. Walter, no entanto, não conseguiu repetir nada do que fazia antes com a bola. Os horrores da guerra haviam mexido com a sua cabeça. Encarar zagueiros, ao som do grito da torcida era uma coisa; lutara contra nazistas, em meio a explosões mortais era outra.

Não deu mais para Walter sonhar em ser craque do clube do seu coração. Tentou em times pequenos, mas, também, não deu.
Walter desistiu da bola e passou ganhar a vida como carregador de caminhões. Passou a viver pelas estradas asfaltadas de São Paulo, em vez dos gramados. Não era motorista, mas, se olhasse pelo retrovisor do carro, veria, literalmente, um craque que a guerra “matou”.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado