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Histórias da Bola
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O ídolo de cristal

Zagueiros fizeram Célio Taveira ser o “Rei das Cicatrizes” e levar 15 pontos só na cabeça

Gustavo Mariani

04/01/2023 12h11

Foto: arquivo

Célio foi atacante de nunca fugir da ferocidade dos marcadores. Por conta disso, colecionou cicatrizes e pontos de agulhas médicas que lhe desenharam lembranças das canelas até a cabeça. Só neste local, em jogos vascaínos, juntou 15 sinais, entre o começo de 1963 e o primeiro semestre de 1966. Pra completar, zagueiros adversários e repórteres esportivos o apelidaram por “ídolo de cristal” e “canelas de vidro”, devido a frequência com que era mandado para o departamento médico. Mas ele nem ligava. Certa vez, em 1966, respondeu, pelo Nº 7 da revista Futebol e Outros Esportes:

“Não critico os que me dão tais adjetivos, mas seria bom que, antes, me procurassem. Eu lhes mostraria as marcas (no corpo) que não ficam em quem é de vidro ou de cristal. Sou pago para jogar, não fujo da área, levo sarrafadas e volto para conferir.”

Célio imputava às retrancas grande parte da ação violenta dos zagueiros. E as via em exagero no futebol carioca: “É muito mais fácil destruir do que construir. Com isso, nós do ataque levamos as sobras. Os homens de área vão ganhando mais pontapés e cabeçadas.”

Quando era parado pelos becões na pancadaria, Célio vingava-se deles, muitas vezes, acertando a rede em cobranças de falta, de fora da área, por uma maneira incomum: pegava grande distância da bola para o chute. Sua explicação:

“Eu fico com melhor visão do arco, pois as barreiras sempre se mexem. Assim, consigo um ângulo novo para o disparo. Se vale sorte, ou não, o certo é que vários gols saem por esta técnica. Preciso defender o leite da garota (a filha primogênita, Flávia). Por isso, em campo, faço de tudo para dar a vitória ao clube que me paga, para não faltar nada em casa à minha esposa Nilda e à minha filha.

Em quatro temporadas vestindo a jaqueta do Vasco da Gama, o atacante Célio Taveira marcou 110 tentos e tornou-se o sétimo maior goleador cruzmaltino no Maracanã, com 40 bolas no filó – à sua frente estão: 1 – Roberto Dinamite (193), em 25 temporadas, de 1971 a 1992 (descontando-se 1980, quando defendeu o Barcelona-ESP; 1989, emprestado à Portuguesa de Desportos-SP, e 1991, aventurando-se pelo Campo Grande-RJ); 2 – Pinga e Romário (70), o primeiro de 1953 a 1961, e o segundo, de 1985 a 1988; de 2000 a 2002; de 2005 a 2006, e em 2007; 3 – Sabará e Ademir Menezes (44), tendo o primeiro ficado de 1952 a 1962 e voltado em 1964, enquanto o segundo esteve vascaíno, de 1942 a 1945 e de 1948 a 12955; 4 – Vavá (42 gols), em seis temporadas, de 1952 a 1958.

Nascido em Santos-SP, em 16 de outubro de 1940, Célio Taveira Filho foi gerado pelo xará Célio, com Ophelia, neto de Antônio Taveira, remador campeão carioca pela ‘Turma da Colina’. Viveu até 29 de maio de 2020. Inicialmente, tentou ser jogador do Santos FC, em 1957, aos 16 de idade, mas foi dispensado pelo treinador Ramiro Valente. Passou, depois, por Portuguesa Santista, Ponte Preta e Jabaquara-SP, até chegar ao Vaco da Gama. Defendeu, ainda, o Nacional, de Montevidéu, e o Corinthians-SP. Há fotos dele, também, com a camisa do Operário, de Campo Grande-MS, mas ele diz que foram para “jogos exibições”, porque já havia pedido a sua reversão à categoria amadora. Entre 1965/1966, engrossou listas de convocações da Seleção Brasileira.

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