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Histórias da Bola
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Histórias da Esquina da Colina

Méritos e deméritos da navegação do ‘Almirante’ Vasco a Gama

Gustavo Mariani

16/11/2020 8h00

Atualizada 15/11/2020 20h07

1 – Durante os dias 2 a 5 de outubro de 1984, o treinador vascaíno Edu Coimbra gastou bastante tempo trabalhando a sua zaga para não levar gols em cruzamentos para a área. Foi o mesmo que não tivesse treinado. No domingo, dia 7, na caçapa do Vasco da Gama entraram duas bolas, exatamente, como ele tentava evitar aquelas tacadas.

O adversário era o Bangu e o jogo valia pela 2ª rodada do Estadual-RJ. O astral vascaíno para ir ao Maracanã até que era bom, pois o time vinha de 2 x 0 Campo Grande, abrindo a returneira Taça Rio. Por ali, o Eduzinho andava reclamão da irregularidade de sua moçada, que, pelos finalmente da Taça Guanabara (primeiro turno) vencera o Olaria (2 x 1), empatara com o Goytacaz (1 x 1), desmoralizara o Botafogo (3 x 0) e sucumbira diante do América (0 x 1).

Veio, então, o pega do 07.10, diante de 18.489 pagantes – Roberto Costa; Donato, Ivã, Nenê e Aírton; China, Geovani e Marquinho; Mauricinho, Roberto Dinamite e Rômulo foi o Vasco – e plano de Edu Coimbra de somar 10 pontos, até a quinta rodada, pra encarar o Flamengo com elevado espírito psicológico. Só esqueceu de combinar com o atacante banguense Marinho. Em duas bolas cruzadas, da direita, para a área vascaína, o carinha saiu pro abraço, aos 14 minutos do primeiro tempo e aos 7 do segundo – Roberto Dinamite, de pênalti, aos 11 da etapa final, fez o chamado gol de honra da sua patota – que desonra! Era a segunda escorregada, seguida, de Edu para o treinador banguense e ex-zagueiro Moisés, que fora, também, atleta do Vasco da Gama, pela década-1970 – a derrota anterior havia sido 0 x 4 (08.07.1984), no mesmo Maracanã.

Desde 12.10.1982, por 2 x 1, que o Vasco não vencia o Bangu, pelo Estadual. Entre 10 de julho de 1983 a 12 de julho de 1986, só pisadas na bola: 1 x 1 e 2 x 2 (1983); 0 x 4 e 1 x 2 (1984); 0 x 2, 1 x 3, 1 x 1 e 0 x 1 (1985); 2 x 2 e 0 x 2 (1986). O tabu só foi quebrado em 29 de março de 1987, com Vasco 3 x 0.

2 – O Vasco da Gama estava com um timaço e era mais favorito do que Internacional-RS e Bahia (os finalistas) ao título do Brasileirão-1988 (Copa União). Veio decisão de vaga, com o Fluminense, e o Almira pisou feio na bola (29.01 e 01.02.1989): caiu, por 0 x 1 e 2 x 3. Crise na Colina, fazendo o treinador Carlos Alberto Zanatta procurar emprego nas arábias, e o maior ídolo do clube, Roberto Dinamite, ser acusado de responsável pela quebra de ritmo que desclassificara o time – Roberto estava com o seu contrato encerrado e e só encontrou apoio no vice-presidente Eurico Miranda e na chefe da torcidas, Dulce Rosalinda, para continuar na Turma da Colina.

Amainadas as fofocas envolvendo o Dinamite, conselheiros e torcedores, o passo seguinte era encontrar um novo treinador. O preferido era o ex-zagueiro vascaíno e então chefe da equipe do Internacional-RS, Abel Braga. Com a Taça Guanabara abrindo a fechadura e o Almirante sem técnico, pensou-se no e-atleta e então empregado do clube Alcir Portela. Mas o presidente Antônio Calçada cortou o barato, alegando inexperiência para a missão. Preferia o veteraníssimo zagueiro Orlando Lelé Pereira que, além do Vasco da Gama, havia jogado por Santos (com Pelé), Coritiba, América-RJ, Udinese-ITA e Seleção Brasileira – e o tecnicou.

Vai rolando a bola e as fofocas, em São Januário, em torno de treinadores não paravam. Envolvia até quem já havia saído da Colina. Caso de Zanatta, levado pelo Al Ahli, da Arábia Saudita, quando o primeiro da lista para o cargo era um ex-outro vascaíno, o antigo meia-atacante Edu Coimbra. Passado para trás, este acusou rolagem de muita grana por debaixo dos panos no negócio, com mutretagem do intérprete, tentando morder uma verdinante dolaragem. De sua parte, Zanatta garantia não ter entrado em nenhum jogo sujo, mas sido procurado, pessoalmente, por diretor do clube árabe, e sem que ninguém lhe pedisse nada.

Fofocas de técnicos à parte, saiu Zanatta, entrou Orlando; saiu Orlando, entrou Sérgio Cosme; saiu Sérgio Cosmo, entrou Nelsinho Rosa. E o Vasco a Gama teve quatro chefias para a sua rapaziada, em 1989. Só em 1990, Alcir Portela ganhou a primeira chance, mesmo com a mesma inexperiência cobrada pelo Calçada, que não demorou a promover uma mordida do Lobo no emprego o carinha – Mário Jorge Lobo Zagallo substituiu Alcir, que voltou ao posto, em 1993/1996/2000/2001.

3 – Começava a Taça Guanabara-1989. O Vasco tinha um timaço e era candidato ao título. Considerando os preço dos ingressos baixos, o vice-presidente vascaíno, Eurico Miranda, liderou movimento para aumentar, em 60 centavos, o preço de uma arquibancada, que passaria a custar NCz$ 1,50 cruzado novo (moeda da época).

Eurico não tomava conhecimento de que o Governo havia lançado o Plano Verão, impondo congelando preços, mas a SUNAB-Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços podou a ideia. Então, com o apoio da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, os liderados por Erico Miranda anunciaram que toda a rodada seriam com os portões fechados, em protesto contra a atitude governamental. Mas as fechaduras terminaram sendo abertas e o público entrando nos estádios – menos do no Vasco da Gama.

O Almirante negociou com uma empresa especializada em limpeza de condomínios e vendeu-lhe oito mil ingressos para a tal distribuir entre os seus clientes. Também, ofereceu dois mil bilhetes aos torcedores que fossem pegá-los, mais rapidamente. Como o comprador não ofereceu ingressos naquele final de semana da primeira rodada da Taça GB, apenas 1.500 premiados pintaram em São Januário, pra acompanhar Vasco 1 x 0 Volta Redonda, em sábado pós Carnaval. Os 500 restantes os jogaram os ingressos no lixo e foram engrossar a galera presente à Avenida Sapucaí, pra assistir desfile de escolas de sambas que levaram 7.200 pagantes às arquibancadas.

Quando nada, com gol por Vivinho, aos 17 minutos do primeiro tempo, o Vasco começou a arrancada para o seu primeiro tri estadual, por conta de: Acácio; Paulo Roberto Gaúcho, Célio Silva, Leonardo e Mazinho; Zé do Carmo (Luciano), Geovani e Ernâni; Vivinho, Sorato (Tiba) e William, treinados pelo ex-lateral vascaíno Orlando “Lelé” Pereira – perdeu para o Carnaval no asfalto, mas ganhou no gramado.

4 – Maracanã, 19 de julho de 1988. Vasco e Flamengo iniciavam a decisão do Estadual-RJ e, aos nove minutos, Bebeto abriu o placar, para os rubro-negros. Depois, foi tripudiar diante da torcida vascaína, mostrando a camisa 9 – grande erro!

A atitude do atacante baiano terminou sendo um 12º jogador da Turma da Colina, pois a rapaziada, injuriada, encheu-se de energias para responder do jeito que construiu a história do Almirante: com virada de placar. “Aquele gesto do Bebeto irritou a gente”, desabafou o lateral-direito vascaíno Paulo Roberto Gaúcho, enquanto o apoiador Geovani acrescentou: “Entramos com muita garra no segundo tempo, para mostrar que futebol se ganha jogando sem provocações”, falaram ambos, para a revista Placar – Nº 942, de 24.087.1988.

Segundo aquela semanária, da Editora Abril, “…o Flamengo não resistiu (ao Vasco) e o jeito foi abaixar a cabeça”. Passou a ver o Almirante precisando só de empate, na quarta-feira que viria, para ficar bi. “O eficiente Zinho (do Fla) não achou mais Geovani…”, conta Placar, enaltecendo o craque vascaíno que liderou a virada, no segundo tempo, quando Bismarck empatou, aos cinco minutos mandando um chutaço indefensável para o goleiro rubro-negro Zé Carlos, que veria o pior, aos 16, quando Leandro tentou recuar-lhe a bola. Romário surgiu, como um raio, na frente dele, dominou a pelota, aplicou-lhe um lençol e tocou-a, com a cabeça, para a rede. E atribuiu parte da sua glória à vizinha Maria Rosa do Nazaré Pereira. “Foram as suas rezas que ajudaram na recuperação do meu joelho (machucado)”, disse.

De todos os vascaínos vencedores daquela tarde de domingueira no Maracanã, o mais eufórico era o meia Henrique, afirmando que ganhara quem tivera mais determinação. Do lado do rival, o atacante Renato Gaúcho Portaluppi tentava esvaziar o ôba-ôba dos repórteres em cima de Geovani, dizendo: “O Geovani precisa falar menos e jogar mais. Se não tomar cuidado, ele vai ver o que o espera, na quarta-feira” – não viu, como veremos em um futuro post do Kike. Aguarde!

Daquela vez, a proeza do Vasco vira-vira – Acácio; Paulo Roberto Gaúcho, Donato, Fernando e Mazinho; Zé do Carmo, Geovani e Mazinho; Vivinho, Bismarck e Romário, dirigidos por Sebastião Lazaroni – foi assistida por 24.790 pagantes, com arbitragem de Aluísio Viug.

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