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Histórias da Bola
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Fio Maravilha laça zebra

Era comum, mesmo quando não vencia, o atacante ser o “cara” da partida

Gustavo Mariani

09/12/2020 10h27

Fio era um jogador tão engraçado que, após o Grêmio-RS empatar – 0 x 0 – com o CEUB, em Porto Alegre, o jornal Zero Hora da segunda-feira 1º de setembro de 1975, estampou: “Em vez de Fio, Neca fez o povo dar risadas”.

Queria dizer que o torcedor gremista presente ao Estádio Olímpico, para assistir vitória fácil do seu time e sorrir dos desengonços do Fio, perdera de curtir as duas opções e se deparara com pixotadas de um jogador gaúcho.

Fora uma zebraça, das maiores do então chamado Campeonato Nacional e, por pouco, Fio não levava o CEUB (ainda escrevia-se assim) à vitória. No primeiro lance, na etapa inicial, Júnior (Júnior Brasília, quando foi para o Flamengo, em 1976) cruzou e ele tentou matar a bola no peito, a dois metros do goleiro gremista, quando deveria ter cabeceado; aos 42 do segundo tempo, driblou o armário Beto Fuscão (futuro Seleção Brasileira), na pequena área, e chutou, com o pé esquerdo, por cima da baliza.

Fio fizera o contrário do que mandava o figurino do futebol. Suas explicações desengonçadíssimas para os dois lances: “1 – Tentei ajeitar (a bola) para engana-los; 2 – Tudo saiu perfeito, menos a conclusão (do lance)”.

Só o preparador físico ceubense, José Antônio, o perdoava por ter perdido as duas chances de gols. Lembrava que o atleta chegara ao CEUB, há pouco mais de uma semana, pesando 82 quilos, quando o seu normal era de 74 a 76. “Ainda não tem o preparo (físico) necessário, razão de ter pregado no segundo tempo”, ressaltou.

Fio, no entanto, mesmo pesadão, saiu de campo, no intervalo da partida, cobrando dos companheiros garra e decisão, o que viu encaminhado na etapa final. E, por uma de suas poucas graças naquela tarde de sábado, considerou: “Acho que os guris notaram que o leão (Grêmio) não era tão bravo assim”.

Mesmo arvorando-se em conselheiro de final de primeiro tempo, Fio teve atuação reprovada pela imprensa gaúcha: nota 3: “Reclamou muito muito, tentou catimbar e perdeu uma ótima chance de gol.”, escreveu um jornal.

Para o treinador ceubense, Marinho Rodrigues, ver Fio perdendo gol era o de menos. Se o fizesse, ótimo! Ele não escondeu ter armado esquema tático para, primeiramente, evitar goleada, colocando nove homens defendendo e só dois – Fio e Júnior Brasília ofensivos. O mais era tentar o empate, tocando a bola e à despera do adversário.

Deu certo, com a sua rapazida chegando a dominar o jogo, por alguns momentos do segundo tempo, o que reconheceu a imprensa gaúcha, que tentou ridicularizar o time candango me o seu principal astro. Escreveram jornalistas porto-alegrenses: 1 – “Fio passou a tarde sem fazer uma única graça. Os engraçados estavam do outro lado”; 2 – Picasso (goleiro gremista) teve de fazer ginásticas na sua goleira (traves) para evitar o frio”; 3 – “Seus erros (do CEUB) ficaram desfarçados no razoável sentido do conjunto que mostrou, suficiente, para sair do Olímpico com um empate que, praticamente, representou uma vitória”.

De sua parte, o colunista Ibsen Pinheiro (foi deputado federal, presidente da Câmara e chegou a substituir o presidente da República, em…), redeuziu o CEUB ao máximo, afirmando: “O CEUB não é mais do que a média do interior do futebol do Rio Grande do Sul e é muito menos do que as nossa melhores expressões”.

A zebraça, que poderia ter sido maior – se Fio, que recebeu o cartão amarelo (advertência), não exagerasse em suas gracinhas -, teve arbitragem por Nílson Cardoso Bilha-SP e arrecadou Cr$ 180 mil, 985 cruzeiros (a moeda da época). O CEUB alinhou: Jair Bragança; Nonoca, Cláudio Oliveira, Emerson Braga e Adalberto (Dinarte); Nenem (Péricles), Renê, Alencar e Moreira; Júnior e Fio. O Grêmio foi: Picasso; Wilson, Tadeu, Beto Fuscão e Bolívar; Cacau, Neca (Claudinho) e Osmar; Zequinha, Tarciso e Nenê, treinados por Ênio Andrade.

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