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Histórias da Bola
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Férias flamenguistas

Arquivo Geral

10/10/2017 11h19

Em 1954, quando o planeta vivia dividido por dois blocos ideológicos – pró Moscou e pro Washington –, com o Brasil do lado deste último, nenhum clube do nosso futebol já havia visitado os gramados do socialista Leste Europeu.

O tabu caiu durante a gestão de Gilberto Cardoso, quando o Flamengo tornou-se o primeiro brasileiro a varar a “Cortina de Ferro”, indo ao estádio Ulloi, na húngara Budapeste, mandar 5 x 0 Kiniszi – nome usado pelo Ferencvaros, de 1950 a 1956. Foi o jogo 1.396 da história rubro-negra, em 16 de abril de 1954.

No meio da torcida húngara estava um garoto considerando muito bonita a camisa rubro-negra e, mais ainda, do futebol apresentado seus usuários, que tiveram Zezinho (2), o paraguaio Benitez (2) e Zagallo batendo na rede – Chamorro, Marinho e Pavão; Servílio, Jadir e Jordan; Joel, Evaristo, Zezinho, Benitez e Zagallo foi a rapaziada do treinador Fleitas Solich.

Florian Albert – nasceu em Budapestr e viveu entre 15 de setembro de 1941 a 31 de outubro de 2011 –, ao tornar-se um dos principais atacantes da Europa, na década-1960, revelou o desejo de, um dia, jogar pelo Flamengo. Não seria fácil, pois os governos socialistas de então não permitiam a saída de seus atletas, antes dos 30 de idade.

Albert, no entanto, não precisou esperar tanto. Mesmo com a federação do futebol húngaro atrapalhando, desde agosto de 1966, o Flamengo usou do “jeitinho brasileiro” e realizou o desejo do craque que fora destaque da Copa do Mundo-1966, na Inglaterra. Inclusive, em Hungria 3 x 1 Brasil, em 16 de junho, no Goodison Park, em Liverpool, ele ajudara muito a encaminhar a eliminação dos brasileiros, na primeira fase.

Para Albert vestir a jaqueta do Flamengo, no jogo 2.198 do clube, convidou-se o Vasco da Gama para dois amistosos, valendo a Taça Rivadávia Correa Meyer (antigo presidente da Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF). O primeiro foi em 15 de janeiro de 1967, no estádio da Gávea, com Pedrinho e Osvaldo ‘Ponte Aérea’, este de pênalti, marcando, em Fla 2 x 0 – Marco Aurélio, Murilo, Ditão (Gílson), Jaime e Pauoo Henrique; Carlinhos (Arílson) e Dênis (Jarbas); Pedrinho, Albert, César Lemos (Rimbo) e Osvaldo foi o time do jogo apitado por Arnaldo César Coelho e assistido por 6.526 almas.

Quatro dias depois, o Vasco devolveu o placar, em General Severiano, com Oldair (de pênalti) e Moraes na rede, diante de 4.531 desportistas e apito com José Mário Vinhas – Marco Aaurélio; Murilo (Leon), Luís Carlos Freitas, Jaime e Paulo Henrique; Carlinhos e Dênis (Jarbas); Pedrinho, Albert (Fio Maravilha), César e Osvaldo jogaram, dirigidos pelo argentino Armando Renganeschi.

Antes do primeiro jogo, em um domingo, Jaime de Carvalho, o chefe da torcida rubro-negra, ofereceu flores à Irene Buckovics, de 24 de idade e mulher de Albert, que retribuiu a gentileza esticando passe sob medida para o gol de Pedrinho. O craque, aos 25, jogou com tanta votade, ao ponto de receber, do vascaíno Edson, um “chega pra lá” que rasgou-lhe o calção.

ESCRIBA

Além de craque, Albert era, também, jornalista, o que fazia desde os 17 de idade, para o Hungarian Sport Redantion. Só não escrevia sobre jogos do Ferencvaros, para não falar sobre si.

Hospedado no Plaza Hotel, em Copacabana, ele aproveitou a vinda para, também, escrever sobre o futebol brasileiro, o Rio de Janeiro e o seu povo, com tudo fotografado por Irene.

Albert já estivera por aqui, atuando em Brasil 5 x 3 Hungia, em 21 de novembro de 1965, no paulistano estádio do Pacaembu, diante de 25 mil torcedores que viram o time canarinho represenntado pela seleção paulista.

As “férias flamenguistas” permitiram-lhe viajar, pela primeira vez, viajar junto com Irene, que adorou o comércio carioca e levou muitas novidades (para ela), como tecidos macios e vistosos, sapatos, biquínis e mini-saias, pouco usadas em Budapeste. O programa turístico incluiu, ainda, visitas a pontos turísticos e a escola de samba.

Sobre o futebol, Albert disse não gostar de analisar-se. No entanto, pela ordem, apntou seu patrício Puskas, Pelé, o português Eusébio e o inglês Bb Charlton os melhores de todos os tempos. Para ele, nos 1 x 3 da Copa-1966, o Brasil esteve desentrosado, falhando em jogadas fáceis e perdendo muito com a ausência de Pelé (contundido). Apontou o veteraníssimo Djalma Santos o melhor da defesa.

– O jogador brasileiro tem um certo algo mais que falta ao europeu. Técnica só não basta”, disse ele, acrescentando que viera aprender, uma ironia para quem dera show de bola para os canarinhos, sete meses antes.

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