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Histórias da Bola
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A bola azul do Rei do Futebol

Pelé empata partida quase perdida nas duas últimas bolas da refrega

Gustavo Mariani

26/01/2023 11h37

São Pedro tirava uma sonequinha, após o almoço, sentado em sua cadeira, em frente à porta do céu. De repente, ouviu uma batidinha, despertou-se, levantou-se, sacudiu o esqueleto e foi conferir quem pintava. Era o Pelé, para quem ele tirou o chapéu, curvando-se para exclamar:

“Meu Rei!”

Trocaram um abraço e o Pedrão o convidou a adentrar as hostes celestes. Uma vez lá dentro, o porteiro pediu-lhe para aguardá-lo por um momentinho, pois iria avisar ao Chefe da importante chegada.

São Pedro voltou, rápido, e pediu um minutinho de paciência ao Pelé, pois o Chefe Lá de Cima estava terminando uma reunião com a Comissão Técnica da Casa. Assim que o Comandante pintou, trocou um grande abraço com o novo chegante e mandou ver:

– Meu Rei! Você chegou em muito boa hora. No domingo, teremos uma partida contra a Seleção do Inferno, com a qual empatamos, por 0 x 0, há duas semanas. Conto contigo, envergando a nossa camisa 10.

Pelé nem teve tempo de responder, pois Diego Armando Maradona ia passando e, ao vê-lo, gritou, fazendo o sinal de positivo, com o dedão direito, e falando como brasileiro:

– Meu Dez! Já tá sabendo, né?! Estaremos juntos nessa, hein!

– Si! Como non, Diez? – respondeu o Pelé, falando como um argentino.

Papo rolando, o Chefe Lá de Cima disse aos dois que iria deixá-los trocando um ‘plá’, enquanto ele iria terminar a reunião com a sua Comissão Técnica. Foi quando o “hermano Pelê”, como falou o Don Diego, que contou-lhe:

– Teremos tum ime fortíssimo. Entre brasileiros convocados, saca só: Carlos Alberto Torres, Marinho Chagas, Garrincha e Roberto Dinamite. De argentinos, para citar só dois, Di Stefano e Guillermo Stábile.

– Caramba! – exclamou Pelé.

– Sem falar que teremos, ainda, entre outras tantas feras, o húngaro Puskas e o holandês Cruijff.

– Com uma turma dessas, nem vai ter vaga pra mim no time, entende? – falou Pelé.

– Vai, sim! Mas acho que você entrará no segundo tempo, por estar fora de forma – previu El Diez.

E chegou o domingo do grande amistoso. A Seleção do Inferno atravessava boa fase, já tendo vencido o time do Purgatório, em duas oportunidades, e prometia, pelas entrevistas dos seus “players”, jogar totalmente ofensiva, só com dois zagueiros e sem congestionamentos pela “meiúca”.

– Se eles cumprirem o que falam, meu Dez, será só isso: eu lanço, você emplaca e correremos pro abraço – previu um mais do que otimista Maradona.

– Mas vocês já combinaram isso com eles? – indagou o endiabrado Mané Garrincha, que chegava no papo.

– Não me venha com problemática, Mané, que teremos a solucionática, entende? – garantiu o Pelé.

E rolou a ‘maricota’ no Estádio do Céu. A torcida da Seleção do Inferno tinha, também, galera inflamada, comandada pelo diabo Lucin. Do lado do escrete celeste, quem comandava “la hincha”, como falava Di Stefano, era Santa Bárbara, levando São Gauchinho a comentar, a cada ataque da rapaziada:

– Barbaridade, tchê!

Também, botando a moçada celestial pra vibrar, esquentando a charanga, estava Gal Costa, que impressionava os visitantes com seu timbre animadíssimo de voz que fazia os infernais quererem saber quem ela aquela moça. No que ela respondia:

– Meu nome é Galllll!

O primeiro tempo terminou com Inferno 2 x 0 Céu. Para tentar mudar o placar, o Chefe Lá de Cima promoveu várias alterações em sua equipe, mas nada funcionava. Até que, aos 40 minutos do segundo tempo, ele fez adentrar às quatro linhas o Camisa Dez. A turma dos visitantes nem ligou e começou a sacaneá-lo:

– Cadê o Rei do Futebol? Tem algum Rei por aqui? Não vimos – falavam e gargalhavam.

Aos 44 minutos, El Diez Maradona lançou e o Dez ‘brasileño’ emplacou; aos 45, repeteco: o Dez empatou: 2 x 2 – e pegou a bola no fundo da rede da Seleção do Inferno, e a entregou ao demônio xerifão e capitão Fontaneblô, dizendo:

– Tome-a; peque-a e leve-a, de presente, para a sua mãe. Diga que é presente do Rei do Futebol!

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